Manaus
(26/10/06) - A apreensão de animais
silvestres mantidos em cativeiro é
uma rotina diária para a polícia
e para os órgão ambientais na
Amazônia. Enquanto não são
devolvidos à natureza ou encaminhados
a algum zoológico ou criadouro conservacionista,
estes animais são recolhidos ao Centro
de Triagem de Animais Silvestres (Cetas),
vinculado ao Ibama.
Enquanto recebem tratamento
de saúde e se recuperam dos maus tratos
sofridos, estes animais podem oferecer uma
importante contribuição para
as pesquisas científicas sobre a fauna
da Amazônia. O Ibama e a Universidade
Federal do Amazonas (Ufam) firmaram uma parceria
para construir um banco de dados genético
sobre a fauna amazonense, que poderá
subsidiar futuros programas de reintrodução
dos animais resgatados pelo órgão
ambiental à natureza.
O material genético
será coletado de todos os animais que
passarem pelo Centro de Triagem de Animais
Silvestres (Cetas) do Ibama, provenientes
de apreensões, resgates e entregas
espontâneas. Somente em 2004, passaram
pelo Cetas/AM 1.143 animais; em 2005 foram
833; e até outubro de 2006 já
são mais de 1.000 animais.
De acordo com João
Alfredo Duarte, chefe no Núcleo de
Fauna do Ibama/AM, a vantagem da utilização
desses é a variedade de espécies
que passam pelo Cetas anualmente, provenientes
das mais diversas regiões do estado,
além de animais raros de serem encontrados,
como o galo-da-serra, a cobra coral e o sagüi-leãozinho.
“Só no ano passado já passaram
por aqui mais de 80 espécies diferentes
de animais, principalmente de aves, répteis
e mamíferos”, afirma João Alfredo.
Serão coletados materiais
como sangue, bulbos capilares, escamas e penas.
Caso algum animal venha a óbito, também
serão retiradas pequenas amostras de
tecidos. A coleta poderá ser realizada
pelos técnicos da Ufam e pelos veterinários
do Ibama. As amostras serão depositadas
na Coleção de Tecidos da Genética
Animal (CTGA) do Instituto de Ciências
Biológicas da Ufam, sob responsabilidade
da pesquisadora Izeni Pires Farias.
Amazonas precisa conhecer geneticamente sua
fauna
De acordo com Izeni Pires,
coordenadora do Laboratório de Genética
Animal da Ufam, a utilização
do DNA para conhecimento da diversidade genética
e biológica já é uma
realidade no Amazonas, e o sequenciamento
dos genes do DNA mitocondrial tornou-se uma
ferramenta importante para a formação
de bancos de DNA.
A expectativa da pesquisadora
é que o conhecimento da diversidade
genética possa ajudar a determinar
se as espécies compõem grupos
populacionais diferenciados ou não,
o que contribuirá para futuros programas
de reintrodução dos animais
em seu habitat natural. “Dependendo da quantidade
de exemplares de uma mesma espécie
que passarem pelo Ibama, poderemos ter amostras
suficientes para medir o nível de variabilidade
genética dos animais e afirmar se eles
formam populações diferentes
ou não, em diversas regiões
do estado”, explica.
Mas a pesquisadora alerta
que este é um trabalho a longo prazo,
cujos frutos só devem começar
a ser colhidos num prazo de cinco a seis anos.
“Tudo vai depender da quantidade de animais
que passem pelo Cetas. O nosso desejo, na
verdade, é de que nenhum animal precisasse
ser recolhido pelo Ibama, que vivessem todos
livres em seu habitat natural. Mas já
que, infelizmente, isso não acontece,
vamos aproveitar a oportunidade para fazer
pesquisas com esses animais, sem a necessidade
de capturá-los”, diz Izeni.
Flávia Mendonça