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Oct 2006 - A degradação dos
ecossistemas naturais acontece num nível
sem precedentes na história. É
o que mostra o Relatório Planeta Vivo
2006, relatório bianual divulgado hoje
pela rede WWF. O documento analisa o estado
da natureza e indica que, se as atuais projeções
se concretizarem, a humanidade consumirá
perigosamente até 2050 duas vezes mais
recursos que o planeta pode gerar por ano.
Entretanto, existe uma clara diferença
entre países desenvolvidos e em desenvolvimento.
O Brasil, por exemplo, está praticamente
na média de consumo mundial, mas ainda
assim os brasileiros consomem mais do que
o planeta agüenta.
O Planeta Vivo 2006 reúne
diferentes dados para compilar dois indicadores
do bem estar da Terra. O primeiro é
o índice Planeta Vivo, que avalia a
biodiversidade, baseado nas tendências
de mais de 3600 populações de
1300 espécies vertebradas no mundo.
O segundo índice, a “pegada ecológica”,
mede a demanda da humanidade sobre a biosfera
(quantos hectares uma pessoa necessita para
produzir o que consome por ano).
O documento, o sexto da
série, confirma a tendência de
perda de biodiversidade, já apontada
nos levantamentos prévios. Os números
gerais indicam uma acentuada perda de recursos
naturais. Em 33 anos (entre 1970 e 2003),
houve redução em um terço
das populações de espécies
de vertebrados analisados. Simultaneamente,
a “pegada ecológica” da humanidade
aumentou, com a demanda 25% maior do que a
oferta de recursos, a ponto de ameaçar
a capacidade de regeneração
do planeta, ou biocapacidade. O ponto de equilíbrio
entre o consumo e a regeneração
dos recursos naturais do planeta seria equivalente
a 1,8 hectares globais por ano por pessoa.
Porém, o relatório mostra que
já consumimos mais que isso para manter
os padrões atuais de vida. O consumo
médio, ou a “pegada ecológica”,
foi de 2,2 hectares globais por pessoa anuais.
Os dados mostram ainda que
o consumo é mais acentuado nos países
desenvolvidos. Porém as maiores perdas
(biodiversidade, biomas) encontram-se em áreas
em desenvolvimento. Em 30 anos, 55% das populações
de espécies tropicais desapareceram
por causa da conversão de habitats
naturais em lavouras e pastagens. No mesmo
período, as populações
de espécies de água doce analisadas
sofreram redução de 30%. Em
apenas dez anos, metade dos manguezais da
América Latina foi destruída
(2 milhões de hectares).
“O ritmo de consumo dos
recursos naturais disponíveis supera
a capacidade de recuperação
da Terra. O grande desafio é aumentar
a qualidade de vida e reduzir o impacto sobre
o meio ambiente”, diz Denise Hamú,
secretária-geral do WWF-Brasil. Países
em desenvolvimento têm sofrido as maiores
perdas, entretanto, suas “pegadas ecológicas”
de maneira geral não ultrapassam a
biocapacidade per capita ao longo dos últimos
30 anos. Eles conseguiram melhoras expressivas
em seus Índices de Desenvolvimento
Humano (IDH). No entanto, desde a ECO 92,
houve um incremento de 18% na “pegada ecológica”
dos países de alta renda. “Para que
tenhamos desenvolvimento sustentável
é preciso um equilíbrio entre
IDH e biocapacidade per capita, ou seja, desenvolver
sem destruir” completa Hamú.
A “pegada ecológica”
de gases causadores do efeito estufa resultante
do uso de combustíveis fósseis
foi o item que mais cresceu mundialmente:
mais de nove vezes entre 1961 e 2003. Os grandes
vilões são os países
desenvolvidos. A participação
das emissões de gases causadores do
efeito estufa resultante do uso de combustíveis
fósseis dos Estados Unidos, por exemplo,
é de 59% de sua “pegada”. Para os Emirados
Árabes, o percentual fica em 77% e
para o Canadá, 53%. Dentre os países
em desenvolvimento, Índia, China e
México apresentam números elevados
de participação de emissões
de CO2 em suas pegadas (32%, 47% e 45% respectivamente).
No Brasil, as emissões por uso de combustíveis
fósseis estão na casa dos 17%.
A agricultura (26%), a pecuária (29%)
e os usos florestais (21%) são os principais
contribuintes às emissões dos
gases causadores do efeito estufa. Estes números
mostram uma matriz energética razoavelmente
limpa, mas as pressões, como o desmatamento,
sobre os ecossistemas são enormes.
“Para nos desenvolvermos
de forma sustentável, temos de melhorar
no que já somos bons, não podemos
sujar nossa matriz energética.Devemos
investir em eficiência e ampliar a diversidade
de fontes renováveis não-convencionais
no Brasil. Porém, isso só não
basta. É imprescindível evitar
a perda de nossas florestas. Temos de estabelecer
metas claras para redução do
desmatamento” afirma Leonardo Lacerda, superintendente
de Conservação do WWF-Brasil.
Os países com mais
de um milhão de habitantes que tiveram
a maior “pegada ecológica” foram os
Emirados Árabes Unidos, os EUA, a Finlândia,
o Canadá, a Estônia, a Suécia,
a Nova Zelândia e a Noruega. Apesar
de estar entre as quinze maiores economias
mundiais, o consumo médio per capita
dos brasileiros coloca o país na 58ª
posição do ranking da “pegada
ecológica”. A China encontra-se num
patamar intermediário (em 69º
lugar), mas o rápido crescimento econômico
indica um papel central na manutenção
de um caminho para a sustentabilidade.
O relatório aponta
ainda para a idéia de regiões
e países com crédito ou débito
ecológico, isto é, onde a biocapacidade
é maior (crédito) ou menor (débito)
do que a pegada ecológica. Com isso,
nos próximos cem anos, a geopolítica
atual deve mudar da divisão entre países
em desenvolvimento e desenvolvidos para o
conceito de credores e devedores ecológicos.
Para que a “pegada ecológica”
e o índice Planeta Vivo sejam mais
positivos, são sugeridas várias
medidas urgentes como planejamento familiar,
oferecendo à mulher melhoras no acesso
à educação, saúde
e oportunidades econômicas; redução
do consumo em países desenvolvidos;
diminuição da intensidade da
“pegada” por meio da redução
dos recursos usados na produção
de bens e serviços; aumento das áreas
produtivas com a recuperação
de áreas degradadas; e incremento na
produtividade por hectare, levando em consideração
aspectos tecnológicos e de degradação.