07
Nov 2006 - Por Mauro Armelin - Segundo dia,
com muita chuva por toda a manhã. Se
o tráfego em dias normais já
é caótico imaginem às
7 da manhã com chuva. O engraçado
é que por todos os cantos que já
andei, notei que alguns padrões se
repetem em quase todas as culturas: o horário
de rush, por exemplo, e suas causas são
as mesmas. Para chegarmos ao campus da ONU,
passamos por duas grandes escolas particulares.
Em suas proximidades, o caos é muito
maior.
Ontem, no final das discussões
na plenária, nos encontramos com a
delegação brasileira para conversar
sobre as expectativas e, principalmente, para
entregar a posição do WWF com
nossas idéias sobre a Convenção.
Temos um excelente relacionamento com nossos
negociadores oficiais e, justamente por isso,
eles mostraram surpresa e desapontamento com
a posição das organizações
não governamentais brasileiras consolidada
no documento “Relatório de Posição”
do Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos
Sociais para o Meio Ambiente e Desenvolvimento
(FBOMS).
Ainda não tive oportunidade
de discutir novamente os pontos críticos
do documento que eles consideram que deveriam
ser revistos, ou melhor, mais discutidos,
mas já ficou claro que um deles é
a insistência do movimento ambientalista
brasileiro em querer que o governo estabeleça
metas de redução de desmatamento
ano-a-ano.
Num primeiro momento parece
ser algo de simples solução,
estabelece-se uma meta e durante o ano, através
de ações políticas coerentes
com o desenvolvimento sustentável e
com a realidade amazônica, as persegue
e, se no final do período estabelecido
elas não forem alcançadas, é
feita uma avaliação do que funcionou
ou não. Então, é traçado
um plano para melhorar a estratégia
para o período seguinte, certo? Errado!
Por trás do desmatamento,
estão os principais produtos de exportação
do Brasil, as commodities agrícolas.
Por ainda não ter encontrado uma maneira
de conciliar a aptidão natural da região
Amazônica (produção de
ativos naturais como madeira e vários
outros produtos não madeireiros) com
o desenvolvimento do setor agrícola,
o governo tem receio de fazer valer o Código
Florestal, que prevê, há mais
de 30 anos, o estabelecimento de um a porcentagem
máxima de uma propriedade a ser desmatada
na Amazônia, 20%, e os outros 80% destinados
à produção de produtos
florestais. Esses produtos, sendo o mais conhecido
a madeira, são tão rentáveis
quanto as commodities agrícolas. Por
isso o medo das metas, com as quais a sociedade
poderia avaliar o desempenho do governo e
de suas políticas.
Depois do dia conturbado
e chuvoso quando por várias vezes houve
falta de energia nos prédios da ONU
aqui em Nairóbi, a principal conclusão
é que a democracia brasileira está
cada vez mais sólida. Falo isso porque
mesmo com posicionamentos completamente contrários,
os representantes das ONGs e o governo brasileiro
continuam abertos para o diálogo, o
debate de idéias em busca da harmonia,
onde quem ganha é a sociedade. Ou seja,
como diz a palavra de ordem do Quênia
em kiswahili, seu idioma original, hákuna
matata, ou em bom português “sem problemas”.