Thais
Brianezi - Repórter da Agência
Brasil - Manaus - Na avaliação
do pesquisador Marcelo Rocha, apesar do mercado
de carbono ser divulgado como promissor, ele
é inacessível aos pequenos empreendedores.
“O que inviabiliza os projetos de pequena
escala é o custo a curto prazo e o
retorno a longo prazo. Sem o apoio do governo,
empresas ou Organizações Não-Governamentais,
os pequenos empreendedores brasileiros estão
fora desse mercado”.
Segundo Rocha - que é
especialista em mercado de carbono e atua
no Centro de Estudos Avançados em Economia
Aplicada (Cepea), da Escola Superior de Agricultura
Luís de Queiroz (Esalq) e na organização
não-governamental Instituto de Pesquisas
Ecológicas (Ipê) - a expectativa
de ganho econômico em relação
aos projetos de carbono estão superestimadas.
"É preciso baixá-las e
aumentar as expectativas social e ambiental”.
Ele diz que as Reduções
Certificadas de Emissão (RCEs, popularmente
conhecidas como créditos de carbono)
não pagam os projetos de Mecanismo
de Desenvolvimento Limpo (MDL). Apenas iniciativas
registradas e aprovadas pelo conselho executivo
do MDL podem vender compensações
de gases de efeito estufa a países
desenvolvidos.
Esses países precisam
reduzir em média 5,2% de suas emissões,
até 2012, no âmbito do Protocolo
de Quioto. “As RCEs devem ser encaradas como
um ganho a mais, uma forma de reduzir o custo
da atividade sustentável”, defendeu
Rocha.
Para que possam emitir RCEs,
a metodologia e a proposta dos projetos devem
ser validadas por uma entidade operacional
designada, que funciona como uma empresa privada
certificadora.
“Esse serviço é
caro e ainda não existe um fundo para
atender pequenos projetos”, contou Rocha.
“A grande possibilidade dos pequenos produtores
é que o comprador dos créditos
financie todo o processo. Mas, até
agora, o mercado tem mostrado preferência
por projetos de grande escala”.
A falta de informações
e excesso de propaganda sobre o mercado de
carbono têm gerado expectativa nos pequenos
produtores. O engenheiro florestal Celso Luiz
Ambrosio, que trabalha na superintendência
do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama)
em Roraima, contou ter recebido, há
duas semanas, um telefonema de uma pessoa
animada com os supostos lucros potenciais
do reflorestamento. “Ele me falou que o cunhado
havia comprado terras para plantar eucalipto
e queria vender o crédito do carbono,
mas não sabia para quem”.
Edna Mirada Ferreira é
engenheira agrônoma e chefe do Serviço
de Patrimônio Indígena e Meio
Ambiente da administração regional
da Fundação Nacional do Índio
(Funai) em Belém.
Segundo ela, no segundo
semestre de 2005 os índios Tembé
foram surpreendidos por representantes da
ONG inglesa Amazon Rainforest Foundation,
que estava interessada em apoiar projetos
de reflorestamento na área.
“Eles chegaram falando
em seqüestro de carbono, e a comunidade
indígena passou a achar que ia ficar
rica plantando árvores”, criticou Ferreira,
acrescentando que o projeto da ONG está
sendo analisado pelo Ministério Público
Federal.