Conferência
sobre o clima no Quênia discutirá
desafios mundiais da próxima década
5 de Novembro de 2006 -
Paulo Montoia e Renato Brandão - Da
Agência Brasil - São Paulo -
Semanas com calor de 30 graus na região
Sul em pleno inverno, seguidas de frio recorde
e neve. Queda de temperatura de 22 graus em
24 horas em São Paulo, seca na Amazônia
quando deveria chover e chuvas em Brasília
quando é estio. Não é
preciso ir longe para ter indícios
cada vez maiores de que as mudanças
climáticas estão se acentuando
e demandam medidas mundiais urgentes.
Foi o que denunciou a organização
Greenpeace em relatório e vídeo
divulgados em agosto, e também o ex-vice-presidente
norte-americano Al Gore, em visita ao Brasil
em outubro. E é o que move a discussão
antecipada da segunda etapa do Tratado de
Quioto, que acontecerá em novembro,
para decidir medidas que entrarão em
vigor daqui a sete anos, a partir de janeiro
de 2013, mas estarão no comando do
debate sobre o meio ambiente.
Segundo o agrônomo
Evaristo Eduardo de Miranda, pesquisador e
chefe-geral da Embrapa Monitoramento por Satélite,
haverá contrastes climáticos
cada vez maiores em razão do aquecimento:
“Nós vamos ter a ocorrência maior
de períodos extremos, quer dizer, grandes
chuvas – inclusive, com a ocorrência
de vendavais e furacões, sobretudo
no sul do país”. Para ele, o Brasil
não está preparado para o que
vai ocorrer.
O que fazer, quem fará,
como e quando? Essas são as perguntas
formuladas na criação do primeiro
Protocolo de Quioto (que vigora de até
2012), e que agora estão sendo refeitas
para a 2ª Reunião das Partes do
Tratado de Quioto (COP/MOP 2, sigla para a
expressão em inglês Reunião
das Partes 2ª Conferência das Partes),
que será realizada em conjunto com
a 12ª Conferência das Partes da
Convenção-Quadro das Nações
Unidas para as Mudanças Climáticas
(COP 12 - UNFCCC). Os eventos ocorrerão
de 7 a 16 de novembro deste ano, em Nairobi,
capital do Quênia.
O aparente agravamento das
condições climáticas
e a aproximação do fim do acordo
da primeira fase do protocolo estão
na pauta de ambientalistas e governos, pois
a partir de 1º de janeiro de 2013 todos
os compromissos e metas deixam de valer e
é preciso que entre em vigor um novo
acordo.
Na pauta, estão a
manutenção e definição
posterior de metas mais rigorosas de redução
de gases que agravam o efeito estufa para
os países desenvolvidos, a adoção
voluntária de metas pelos países
em desenvolvimento (como Brasil, Índia
e China), além de critérios
mais rígidos de gerenciamento do protocolo
e a adoção voluntária
de limites para a venda de créditos
de carbono prevista no Mecanismo de Desenvolvimento
Limpo (MDL).
Brasil vai propor
crédito para país que reduzir
emissão de gases de efeito estufa
10 de Novembro de 2006 -
Ana Paula Marra - Repórter da Agência
Brasil - Brasília - O Brasil vai apresentar,
na próxima semana, na Conferência
de Partes da Convenção sobre
Mudança do Clima, em Nairóbi,
no Quênia, uma proposta de criação
de um mecanismo de crédito. uma espécie
de recompensa financeira para os países
em desenvolvimento que conseguirem reduzir
as emissões de gases de efeito estufa
por desmatamento. Na prática, a proposta
brasileira tem como principal objetivo incentivar
os paises a poluir cada vez menos o meio ambiente.
A proposta foi apresentada
hoje (10) ao presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, durante reunião do Fórum
Brasileiro de Mudanças Climáticas,
realizada no Palácio do Planalto.
De acordo com a proposta,
países que conseguirem diminuir suas
taxas abaixo do limite determinado e por um
período de tempo definido, receberiam,
proporcionalmente à redução
obtida, recursos internacionais formados por
um fundo de contribuições voluntárias
dos países desenvolvidos. Por outro
lado, caso as emissões de gases por
desmatamento aumentem, essa diferença
será descontada de futuros incentivos
financeiros.
Além do incentivo
financeiro, os países em desenvolvimento
que aderirem à causa também
seriam beneficiados com transferência
de tecnologia para aperfeiçoamento
de suas potencialidades. Versão preliminar
da proposta já foi apresentada em Roma,
durante encontro promovido pela Convenção
sobre Mudanças Climáticas da
Organização das Nações
Unidas (ONU), em agosto deste ano. Segundo
o Ministério do Meio Ambiente, foi
positiva a recepção à
idéia brasileira.
O presidente Lula elogiou
a proposta, elaborada pelo Fórum Brasileiro
de Mudanças Climáticas, e disse
que medidas como essa ajudam a reduzir a poluição
do meio ambiente e a preservar a humanidade
"Temos que compatibilizar
de forma correta e serena o combate ao desmatamento
com a cobrança política. O compromisso
dos países ricos não é
apenas nos dar dinheiro. O compromisso deles
é diminuírem a poluição
em seus países”, disse Lula. Em discurso,
ele destacou a importância de os países
mais pobres cobrarem dos ricos a responsabilidade
de reduzirem a emissão de gases de
efeito estufa. “Porque são os países
ricos os responsáveis por mais de 70%
da poluição no planeta, e, portanto,
eles têm de ter compromisso. Nós
não temos que pensar apenas em nós
que estamos vivendo. Temos de pensar é
naqueles que virão no próximo
século, nas próximas gerações”,
acrescentou.
Pelo projeto, a redução
deverá ser contabilizada a partir de
uma taxa média de desmatamento de referência,
num período determinado e de acordo
com uma quantidade definida de toneladas de
carbono por bioma ou por tipo de vegetação.
Essa taxa média de desmatamento e as
emissões decorrentes do desmatamento,
para comparação com a taxa de
referência, deverão ser baseadas
em um sistema cientificamente validado de
monitoramento, a exemplo do sistema brasileiro
de Detecção de Desmatamento
em Tempo Real (Deter), que utiliza imagens
de satélite.
O Fórum Brasileiro
de Mudanças Climáritas foi criado
há seis anos para conscientizar a sociedade
brasileira sobre a mudança global de
clima e auxiliar o governo na elaboração
de políticas públicas sobre
o tema. Integradp por representantes de 12
ministérios, de órgãos
governamentais, da sociedade civil, de universidades
e do setor privado, o fórum é
presidido por Lula.
Brasil enfrentará
chuvas mais intensas e secas mais longas,
relata pesquisador
5 de Novembro de 2006 -
Renato Brandão - Da Agência Brasil
- São Paulo - O Brasil enfrentará
em médio prazo “uma maior agressividade
das manifestações do clima”,
algumas das quais já estão ocorrendo,
e não está preparado para isso,
opina o agrônomo, pesquisador e chefe-geral
da Embrapa Monitoramento por Satélite,
Evaristo Eduardo de Miranda. Em entrevista
à Agência Brasil, concedida para
falar sobre conferência da ONU no Quênia
sobre mudanças climáticas, Miranda
falou sobre o possível cenário
de mudanças climáticas, que
é estudado por pesquisadores brasileiros.
“De forma geral, estas mudanças
se caracterizarão por um contraste
climático maior. Ou seja, chuvas mais
intensas, períodos secos mais prolongados,
uma maior agressividade das manifestações
do clima”. O ecologista explicou que não
haveria aumento da incidência das chuvas
ou das secas ao longo do ano, mas sim da sua
intensidade. “Nós vamos ter a ocorrência
maior de períodos extremos, quer dizer,
grandes chuvas – inclusive, com a ocorrência
de vendavais e furacões, sobretudo
no sul do país.”
Na opinião do pesquisador,
o país ainda não está
preparado para enfrentar estas novas situações
“até porque elas são completamente
inéditas”. Algumas dessas manifestações
já começaram. Segundo Miranda,
o código de obras brasileiro não
previa, por exemplo, ventos com a intensidade
que tem sido constatada em algumas localidades
ultimamente. O resultado é a destruição
de construções, de torres de
transmissão de eletricidade ou de sistemas
de telefonia móvel. “As estruturas
construídas não previam esta
intensidade de ventos e por aí vai.
Nós não estamos preparados,
nós estamos começando a nos
preparar para isso”.
Entre os eventos recentes
que ilustram as expectativas e previsões
de Miranda, houve o “furação”
Catarina, ocorrido em março de 2004
na região Sul, o primeiro ciclone de
grande intensidade de que se teve notícia
no Atlântico Sul, a estiagem na Amazônia,
no ano passado, mensurada como a maior em
50 anos, e a seca no Rio Grande do Sul, também
em 2005, que atingiu mais de 80% dos municípios
gaúchos e gerou milhões de reais
em perdas aos produtores.
Para Miranda, o Brasil pode
dar duas contribuições significativas
para frear o aquecimento global: reduzir suas
emissões de gases do efeito-estufa,
ou seja, combater o desmatamento e as queimadas
na Floresta Amazônica, e desenvolver
combustíveis alternativos, com álcool
e óleos vegetais combustíveis,
a chamada agroenergia.
Miranda acredita que o Tratado
de Quioto é uma iniciativa fundamental.
“Ele é um acordo que foi obtido com
uma expressiva participação
mundial. É difícil você
conseguir imaginar no momento uma outra iniciativa
de dimensão planetária que possa
ser articulada fora do Protocolo de Quioto.
E este encontro na África será
importante, pois vai permitir consolidar os
dados e dar um bom panorama do quanto nós
avançamos e do quanto falta avançar
ainda”.
Aquecimento global
está comprovado pela ciência,
mas conseqüências ainda são
hipóteses
8 de Novembro de 2006 -
Thaís Brianezi - Repórter da
Agência Brasil - Manaus - O aquecimento
global é um fato comprovado pela ciência,
mas a análise de suas conseqüências
atuais e futuras na vida dos homens e do planeta
divide os cientistas. A grande seca na Amazônia
no ano passado e a possibilidade de que fenômenos
semelhantes voltem a ocorrer com mais freqüência,
por exemplo, é um dos pontos de polêmica.
“Daqui a 20 anos deveremos
ter um El Niño permanente sobre a Amazônia,
o que provoca um aumento da seca em grande
parte da região”, declarou o pesquisador
Paulo Artaxo, que faz parte do comitê
científico do Experimento de Grande
Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia
(LBA) e do Painel Intergovernamental de Mudanças
Climáticas (IPCC).
“Não há nada
muito conclusivo sobre chuvas na Amazônia”,
ponderou o gerente-executivo do LBA, Antônio
Manzi. “Em geral, os modelos climáticos
apontam aumento que vai chover mais no mundo
inteiro, mas não se sabe como essa
pluviosidade será distribuída”.
O pesquisador Arnaldo Carneiro,
do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
(Inpa), lembrou que o clima do nosso planeta
é dinâmico, marcado por longos
períodos glaciais e interglaciais.
“As grandes mudanças climáticas
estão relacionadas à relação
entre Terra e o Sol, na qual o homem não
pode interferir”, avaliou. “Por isso é
tão difícil fazer projeções
e avaliar o efeito da ação humana
no clima”.
O IPCC é formado
por cientistas do mundo inteiro, que oferecem
subsídios para as decisões tomadas
no âmbito da Convenção
sobre Mudanças Climáticas da
Organização das Nações
Unidas (ONU). Nesta semana e até o
próximo dia 17, os países signatários
do acordo estão reunidos no Quênia,
na 12ª Conferência das Partes (COP-12).
As análises do IPCC
são divulgadas por meio de relatórios.
O terceiro e último foi publicado em
2001. O quarto deve ser lançado apenas
após a Assembléia Geral do IPCC,
em abril do próximo ano, na Bélgica.
Mas o médico brasileiro Ulysses Confalonieri,
que coordena o Comitê de Saúde
do IPCC, adiantou algumas das conclusões
que estarão no documento.
“O relatório afirma
que não houve tendências claras
sobre ciclones tropicais e tornados, mas que
aumentou a frequência de secas mais
intensas e duradouras desde 1970 e de episódios
de muita chuva”, revelou Confalonieri. “Outro
dado é que a temperatura global média
do ar aumentou 0,74ºC entre 1906 e 2005.
Isso significa que a primavera no hemisfério
Norte está sendo antecipada em 10 dias”.
De acordo com o médico,
outras conclusões presentes no quarto
relatório do IPCC são: 11 dos
12 últimos anos foram os mais quentes
desde 1850; o nível médio do
mar aumentou 1,6 milímetros por ano
entre 1993 e 2003 (ao longo do século
20, foram cerca de 17 centímetros);
a cobertura de neve e a extensão das
geleiras diminuíram nos dois hemisférios;
a área máxima coberta sazonalmente
por gelo no hemisfério Norte decresceu
7% desde 11000 (ou seja, os invernos lá
estão menos rigorosos
Brasil precisa assumir
responsabilidade como grande emissor de gases-estufa,
defendem especialistas
5 de Novembro de 2006 -
Renato Brandão - Da Agência Brasil
- São Paulo - Apesar de não
ter de cumprir metas de redução
de emissão de gases agravantes do efeito
estufa, o Brasil poderia assumir uma posição
mais avançada e adotar metas próprias.
Esta é a opinião de um dos ambientalistas
da Organização Não-Governamental
Greenpeace, Carlos Rittl. Ele defende a adoção
dessas metas para países em desenvolvimento,
como o Brasil, prevista na Proposta de São
Paulo para a segunda etapa do Tratado de Quioto,
que procurar controlar o aquecimento global.
“O que a gente espera é
que da reunião em Nairobi, a gente
tenha uma demonstração de empenho
de todos os países do mundo. Dos desenvolvidos
em ampliar consideravelmente sua contribuição;
de países como o Brasil, que hoje é
um grande emissor, é um país
em desenvolvimento, em aumentar sua contribuição,
assumir sua responsabilidade de uma forma
mais ampla e dar uma contribuição
maior”.
Para Rittl, o governo brasileiro
precisa ampliar a política de combate
ao desflorestamento e queimadas na Amazônia,
que, segundo o Greenpeace, são as maiores
causas de emissão de gases de efeito
estufa no Brasil. “A gente tem que fazer com
que essa diminuição na taxa
de desmatamento seja sistemática e
freqüente, para que a gente consiga eliminar
este problema do país. E fazer também
com que a gente assuma um compromisso de desenvolver
nossa matriz energética de uma maneira
limpa e equilibrada, usando energias renováveis
modernas, como as energias do sol ou dos ventos,
coisas que estão disponíveis
em nosso país, e a gente aproveita
muito pouco.”
Rittl afirma que o Brasil
deve assumir a responsabilidade de ser grande
emissor de gases-estufa no planeta. “Certamente,
nossa contribuição histórica
é diferente da dos países desenvolvidos,
mas a responsabilidade diferenciada não
significa falta de responsabilidade.”
O professor visitante do
Instituto de Estudos Avançados da Universidade
de São Paulo (USP), Luiz Gylvan Meira
Filho, participante do Projeto Basic, concorda
que há um descompasso entre o discurso
oficial e a ação. “Fala-se muito
sobre ações na Amazônia,
do combate ilegal da extração
ilegal de madeira, mas efetivamente não
há um programa de governo que inclua
uma meta para limitar da taxa de desflorestamento
da Amazônia”, afirma.
“Veja aqui no Brasil. O
Brasil sempre foi um defensor da Convenção-Quadro
e do Protocolo de Quioto. Se você olhar
na realidade, as políticas que vêm
sendo implementadas na área de energia,
no último leilão de energia
foram aprovadas usinas térmicas à
carvão - importado, porque o Brasil
tem pouco carvão - enquanto que sob
o ponto de vista de mudança de climas,
é mais interessante construir usina
hidrelétrica, não usina térmica,
muito menos a carvão. Daí, você
tem uma diferença entre o discurso
e a ação. A maior causa da emissão
de gases de efeito estufa no Brasil é
o desflorestamento da Amazônia, mas
efetivamente não há um programa
de governo que inclua, por exemplo, uma meta
para limitar da taxa de desflorestamento da
Amazônia”, afirma Meira Filho.