07-11-2006
- São Paulo - O mundo já dispõe
de soluções energéticas
melhores do que as propostas oferecidas pelo
Panorama Mundial de Energia divulgado hoje
pela Agência Internacional de Energia
(AIE), em Londres. O Panorama propõe
ações radicais, mas oferece
soluções baseadas no modelo
atual de energia, repleto de fontes sujas,
como carvão e nuclear, e com grande
desperdício.
“A solução,
que não foi apresentada pela AIE, é
melhorar a eficiência energética
e explorar ainda mais as energias renováveis
para suprir a necessidade de energia de forma
sustentável e segura sem contribuir
para o aquecimento global”, afirma Marcelo
Furtado, diretor de campanhas do Greenpeace
Brasil. É possível ainda diminuir
em 50% as emissões de gás carbônico
até 2050 e suprir a necessidade de
energia sem a utilização de
recursos nucleares ou da captura e armazenamento
de carbono, como propõe a Agência.
“A afirmação
que a energia nuclear é opção
para minimizar o efeito estufa é equivocada
e incorreta. Se hoje fossem construídos
3 mil reatores nucleares, não seriam
suficientes para minimizar os impactos. Atualmente
2/3 das emissões de gases de efeito
estufa são provenientes da queima do
petróleo. Na América Latina
há abundância de recursos hidrelétricos
e gás natural. A introdução
da energia nuclear seria apenas resultado
de esforço de marketing das empresas
que fornecem equipamentos para usinas nucleares”,
comenta o especialista em energia José
Goldemberg.
Para o Brasil, o cenário
proposto pela AIE também trilha um
caminho errado porque prioriza o uso das atuais
tecnologias poluidoras e não cria oportunidades
para as tecnologias limpas, o uso racional
de energia e o combate ao desperdício
energético. “O governo Lula tem promovido
a retomada do programa nuclear brasileiro
com a expansão da geração
de energia pela tecnologia nuclear e não
tem demonstrado forte vontade política
nem criado mecanismos econômicos eficazes
para o desenvolvimento de um programa energético
que priorize as fontes renováveis -
limpas e sustentáveis de energia como
a solar e a eólica, biomassa e pequenas
centrais hidrelétricas - e o combate
ao desperdício energético”,
disse Furtado.
A avaliação
da AIE é incorreta, pois subestima
o potencial das energias renováveis,
que já geram mais energia do que os
projetos da agência para a tecnologia
nuclear em 2030. A energia nuclear, mesmo
com todos os investimentos propostos pela
Agência, ainda terá uma participação
menor em 2030 do que hoje já representa
as renováveis. Mesmo com um aumento
de 50% na sua capacidade – o que significa
a construção de 151 novos reatores
até 2030 - a capacidade total instalada
irá contribuir com aproximadamente
15% da eletricidade global, 3% menos do que
já é gerado pelas renováveis.
Além disso, o plano nuclear da AIE
exigiria 200 novos reatores nos próximos
24 anos. Seguindo a proposta da AIE, os capitais
e subsídios que seriam investidos em
energia nuclear estrangulariam os investimentos
em energias eficientes e renováveis,
impedindo a grande mudança radical
que a AIE está pedindo.