10/11/2006
- No repovoamento do palmito Juçara,
na abertura de roças de banana orgânica
e na construção de viveiros
de mudas, a tradicional prática do
trabalho coletivo volta a ganhar força
nas comunidades do Vale do Ribeira.
Há alguns anos as
comunidades quilombolas do Vale do Ribeira
vêm planejando o uso sustentável
de seus territórios por meio de alternativas
de geração de renda capazes
de aliar a preservação ambiental
e o desenvolvimento local. Uma das características
marcantes destas comunidades é a mobilização
comunitária, os chamados mutirões,
uma ajuda mútua entre as famílias
para a realização de atividades
que demandam mão-de-obra acima da capacidade
familiar. Nestes mutirões, por exemplo,
os grupos se organizam para preparar as áreas
de roça, retirar as canoas feitas na
mata e levá-las até a beira
do rio, ou realizar um esforço para
eventos comunitários, como construir
um barracão e arrumar as prendas para
as festas.
Com as transformações
que vêm ocorrendo nessas comunidades,
como a diminuição das roças,
a proibição de confeccionar
canoas com as árvores nativas, o êxodo
rural e o trabalho assalariado, contudo, estes
mutirões estão caindo em desuso
e uma importante característica das
comunidades tradicionais corre o risco de
desaparecer. Para evitar o fim dos mutirões,
os projetos desenvolvidos nas comunidades
em parceria com o Instituto Socioambiental
visam também estimular o resgate desta
prática coletiva. Assim, têm
sido realizados mutirões de repovoamento
de palmito Juçara, mutirão de
práticas de bananicultura, e mutirão
para construção de viveiros
de mudas.
Só no último mês de outubro
a comunidade quilombola de Ivaporunduva realizou
dois mutirões que mobilizaram juntos
mais de sessenta pessoas. O primeiro foi realizado
no início do mês e possibilitou
a implantação de uma área
demonstrativa de banana orgânica para
difundir este método de cultivo entre
os agricultores da comunidade. A área
foi escolhida para demonstrar que é
possível mudar o local dos tradicionais
bananais orgânicos das várzeas
e beiras de rio - áreas que são
normalmente utilizadas em todo o Vale do Ribeira
– e implantá-los nas encostas.
Outros pontos importantes
referentes à formação
desta área foi a demonstração
do plantio do bananal sem o uso de fogo, uma
prática comum no quilombo. A prática
alternativa apresentada foi o uso de adubação
verde, com o uso de plantas leguminosas e
também a adubação com
compostos e preparados orgânicos permitidos
nas diretrizes da certificação
orgânica do Instituto Biodinâmico
(IBD), entidade que certifica os bananais
de Ivaporunduva. O segundo mutirão,
realizado na penúltima semana de outubro,
ocorreu para a reforma do viveiro de mudas,
também em Ivaporunduva.
Estão previstos mutirões
em mais quatro comunidades ainda em 2006 para
a construção de viveiros de
mudas. Estas atividades vêm consolidar
o programa regional de repovoamento do palmito
Juçara nos territórios de dez
comunidades quilombolas do vale. Ao longo
de 2006, estas comunidades realizaram 10 mutirões
para o lançamento de sementes de Juçara
na mata, nos quais foram utilizados 5.400
quilos de sementes.
Os mutirões realizados
ainda mantêm as características
tradicionais de propiciar momentos de confraternização,
com um almoço ou jantar, após
a realização do trabalho. A
prática dos mutirões é
importante pois traz embutidos os conceitos
de cooperação, convivência
e desenvolvimento conjunto. “Uma atividade
que uma família demoraria no mínimo
quinze dias para realizar, quando nos reunimos
em mutirão se gasta apenas um dia”,
relata Alexandro Marinho, coordenador da associação
de Ivaporunduva.