15 de Novembro de 2006 -
Lana Cristina - Repórter da Agência
Brasil - Brasília - Atividade econômica
alguma no mundo se desenvolve sem água.
Mas a agricultura é uma das que mais
demanda, em volume, os recursos hídricos.
A produção de alimentos mundial
responde por 70,2% do consumo de água
que vem dos mananciais. A seguir, os maiores
usos são a produção industrial
e o abastecimento humano domiciliar. No Brasil,
os índices não são muito
diferentes e acompanham a proporção
mundial.
De acordo com o professor
de sistemas de irrigação e drenagem
do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental
da Universidade de Brasília (UnB),
Demetrios Christofidis, a agropecuária
no Brasil responde por 69% do volume de água
retirado dos mananciais. O abastecimento doméstico
e a atividade industrial são, na seqüência,
os maiores usuários, com 21% e 18%,
respectivamente, de volume utilizado. Os dados
são de 2002.
Essas constatações,
presentes nos Cadernos Setoriais dos Recursos
Hídricos que o Ministério do
Meio Ambiente publicou recentemente, indicam
que é preciso conhecer bem como o setor
usa a água para gerenciar bem um recurso
que não é infinito.
A irrigação,
por exemplo, segundo dados da Agência
Nacional de Águas (ANA) de 2005 responde
por 69% dos usos. As categorias seguintes,
de acordo com estudos da agência que
regula o uso da água, são o
uso urbano (11%), o abastecimento animal (11%),
o uso industrial (7%) e o abastecimento rural
(2%). Os percentuais correspondem às
vazões efetivamente consumidas.
“O futuro da alimentação
no mundo virá da irrigação.
Cerca de 80% da produção de
alimentos virá da agricultura irrigada,
um aumento que corresponderá a um acréscimo
no consumo de água de apenas 15%”,
constata Christofidis.
Segundo ele, a agricultura
irrigada hoje tem tecnologia para fazer pequenas
aplicações de água e
para reaproveitar o recurso. O grande vilão,
responsável pela destruição
dos recursos hídricos, segundo o professor
da UnB, é a agricultura de sequeiro,
aquela que depende da chuva e promove a abertura
de frentes agrícolas.
Com o desmatamento para
a abertura das frentes, a agricultura de sequeiro
torna-se responsável por grande parte
da erosão no meio rural. “Sem proteção
no solo, os sedimentos são carregados
pela chuva, assoreando os rios”, observa Christofidis.
Para o agricultor Jairo
dos Santos Lousa, representante dos irrigantes
no Conselho Nacional de Recursos Hídricos
(CNRH), não há porque crucificar
a irrigação. “A produtividade
na agricultura irrigada é bem maior
e isso deveria ser considerado na hora de
planejar políticas públicas
para o setor. O arroz de sequeiro, por exemplo,
rende 2 toneladas por hectare e o inundado
de 8 a 10 toneladas", calcula Lousa.
"Os que irrigam no
Centro-Oeste produzem até três
safras. Se não estão colhendo,
estão plantando. Tem sempre trabalho.
As agroindústrias, por conta disso,
trabalham em até três turnos.
Isso é emprego e renda.”
Um dos desafios é
tornar a irrigação mais eficiente.
Hoje, perde-se 35% do que se retira de água
dos mananciais na condução do
recurso ou ainda na distribuição
propriamente dita. A pecuária também
demanda grandes quantidade de água,
com a manutenção do rebanho,
na fase do abate, no preparo agroindustrial
dos cortes e na oferta de produtos derivados,
tais como leite e ovos.
Esse panorama está
detalha nos Cadernos Setoriais dos Recursos
Hídricos do Ministério do Meio
Ambiente. Os documentos serão distribuídos
para prefeituras, conselhos estaduais de recursos
hídricos, comitês de bacias hidrográficas
e organizações não-governamentais.
O objetivo, segundo o diretor
do Programa de Estruturação
da Secretaria de Recursos Hídricos,
Márley Caetano de Mendonça,
é ajudar a todos os gestores da água
a elaborar seus planos e implementar as diretrizes
do plano nacional.
Márley acredita que,
com a divulgação do material,
e a elaboração de planos estaduais
de recursos hídricos, o planejamento
do uso da água vai se tornar cada vez
mais racional.
“Se a irrigação
não usa técnicas racionais,
que leva ao desperdício, tem que ter
diagnóstico frio para trabalhar na
reversão disso. Para nos ajudar nesse
trabalho, temos uma enorme base de dados,
que são os cadernos setoriais e também
os regionais, diagnóstico do uso da
água feito por região hidrográfica.”