23/11/2006 - Em ato simbólico
após corrida de toras, realizada na
Esplanada dos Ministérios nesta quinta-feira
em Brasília, representantes dos povos
indígenas do Cerrado cobraram do Presidente
da República explicações
sobre posicionamento de que os índios
são entraves ao desenvolvimento. As
lideranças também denunciaram
os graves problemas ambientais causados pelo
avanço das fazendas de soja, pela construção
de hidrelétricas e pela implantação
mal planejada de estradas próximas
a seus territórios.
Eram duas toras de madeira
- de mais de cem quilos cada – para serem
carregadas por 1,5 quilômetros sob o
sol do Cerrado, até a rampa do Congresso
Nacional. Mas as duas equipes indígenas
que disputaram a segunda corrida de toras
na Esplanada dos Ministérios, nesta
quinta-feira em Brasília, tiraram de
letra o desafio e conseguiram completar o
percurso em pouco mais de quinze minutos.
A equipe formada pelos índios Timbira
(eram seis representantes dos povos Krahô,
Kanela, Apinajé, Gavião) mais
uma vez ganhou da equipe formada pelos Xavante,
que deixaram a pesada tora de buriti cair
duas vezes durante o percurso.
A corrida de toras, que
é uma modalidade esportiva tradicionalmente
praticada por vários povos indígenas
do Centro-Oeste e Norte do País, foi
o ato simbólico que inaugurou a Mobilização
dos Povos Indígenas em Defesa do Cerrado,
programada para os dias 23 a 26 de novembro
na capital federal. Saiba mais.
A mobilização
é parte do V Encontro e Feira dos Povos
do Cerrado e tem como objetivo reunir as principais
lideranças indígenas da região
para discutir estratégias de como enfrentar
as mais graves ameaças à integridade
de suas terras e dos recursos naturais de
que dependem para sobreviver. O rápido
desmatamento causado pelas fazendas de soja,
as alterações nos rios que cortam
suas terras provocadas por hidrelétricas
e os impactos indiretos causados pela construção
de estradas estão entre as principais
ameaças. Saiba mais.
Ao final da corrida, as
duas equipes foram recebidas pelo deputado
Eduardo Valverde (PT/RO), que é presidente
da Frente Parlamentar pelos Povos Indígenas
e representava o presidente da Câmara
Federal, Aldo Rebelo, em viagem. Em entrevista
coletiva, o deputado frisou a necessidade
de se discutir seriamente, já no início
da próxima legislatura, a reforma do
Estatuto do Índio (Lei Federal 6001/73),
avaliando e fazendo avançar o projeto
de lei que se encontra parado na Câmara
dos Deputados há mais de doze anos.
Na semana que vem será realizada uma
audiência pública na Comissão
de Direitos Humanos e Minorias da casa para
discutir a harmonização dos
projetos hoje em tramitação
e a criação de uma comissão
mista para apreciar todas as propostas envolvendo
direitos indígenas.
Hiparidi Xavante, uma das
lideranças indígenas presentes,
ressaltou a necessidade de que a nova legislação
estabeleça regras de proteção
às terras indígenas, para que
seja possível controlar as atividades
externas que causam impacto direto sobre a
fauna, flora e recursos naturais que os indígenas
necessitam para sobreviver física e
culturalmente. Também cobrou publicamente
explicações do Presidente Lula,
que teria dito, no início da semana,
que os povos indígenas são um
entrave ao desenvolvimento do País.
O deputado Valverde reafirmou que esse não
é o posicionamento histórico
de seu partido e que, embora não tivesse
conhecimento do pronunciamento do presidente,
não concordava com a idéia.
Os participantes da mobilização
indígena se encontrarão com
autoridades do governo federal nos próximos
dias para entregar reivindicações,
principalmente garantias de que seus territórios
e recursos naturais sejam respeitados.
ISA, Raul Silva Telles do Valle.