28-11-2006
- Enquanto isso, produtores da Tailândia
e do Vietnã se comprometem a não
plantar arroz transgênico. Os dois países
respondem por mais de 50% de todo o arroz
comercializado no mundo
Numa decisão controversa,
o Departamento de Agricultura dos Estados
Unidos (USDA, na sigla em inglês) concedeu
no último dia 24 de novembro aprovação
comercial para uma variedade de arroz transgênico,
o LL601, desenvolvida pela Bayer CropScience.
A aprovação foi dada apenas
três meses após ter sido anunciado
que o produto havia contaminado estoques e
exportações americanas de arroz.
O Greenpeace condenou a decisão, por
considerar que ela serve apenas para legalizar
uma variedade ilegal e para dar proteção
jurídica à Bayer nos inúmeros
processos judiciais que a empresa enfrenta
por causa da contaminação ocasionada
por seu produto.
“A tática usada pela
Bayer para fugir dos processos judiciais é
muito similar à que foi usada pela
Monsanto aqui no Brasil para aprovar a sua
soja transgênica”, disse Gabriela Vuolo,
da campanha de engenharia genética
do Greenpeace Brasil. “Depois de ter um fato
consumado de contaminação, a
empresa recorreu ao governo, que priorizou
os interesses da multinacional, e ignorou
completamente os agricultores que vem sofrendo
perdas enormes por causa da contaminação”.
Pelo menos cinco processos
multimilionários foram iniciados por
cerca de 300 fazendeiros americanos contra
a Bayer. Eles tentam proteger suas plantações
de arroz da contaminação provocada
pelo produto transgênico. Além
disso, a maior empresa do mundo em processamento
de arroz, a Ebro Puleva – que controla 30%
do mercado americano de arroz – parou de importar
arroz dos EUA e pode também entrar
com uma ação legal contra a
Bayer pelo mesmo motivo.
A Bayer encerrou há
cinco anos as atividades dos campos experimentais
de arroz LL601 nos EUA, e até o momento
não se sabe como esses campos provocaram
uma contaminação de escala global
nos estoques de arroz. Até agora, essa
variedade ilegal e sem aprovação
foi encontrada em pelo menos 24 países.
Na semana passada, foi divulgada a contaminação
de diversos países da África.
A União Européia, Japão
e Rússia, entre outros, já impuseram
restrições às importações
de arroz dos Estados Unidos, e os dados sobre
as exportações americanas revelam
que as vendas do país estão
em um preocupante declínio.
Grandes exportadores de
arroz dizem 'não' aos transgênicos
Também na semana passada, produtores
de arroz da Tailândia e Vietnã,
os maiores exportadores do mundo, anunciaram
estarem comprometidos em não cultivar
variedades transgênicas em suas plantações.
Os dois países são responsáveis
por mais da metade de todo o arroz comercializado
no mercado mundial atualmente e a decisão
desses países colocará muita
pressão em outras nações
produtoras de arroz para que elas também
se comprometam a manter um estoque livre de
transgênicos.
"Esse anúncio
dos maiores exportadores de arroz aconteceu
depois de várias reações
contra a indústria de transgênicos,
e serve de resposta aos recentes escândalos
de contaminação causada por
arroz transgênico ilegal", afirmou
Jeremy Tager do Greenpeace Internacional.
O Brasil é o 9º
produtor mundial de arroz, colhendo cerca
de 12 milhões de toneladas por ano.
No entanto, essa produção corresponde
a apenas 87% da demanda nacional, obrigando
o país a importar mais de 800 mil toneladas
por ano. Além disso, a Bayer já
solicitou autorização para a
comercialização de uma variedade
de arroz Liberty Link no Brasil, mas ainda
está aguardando o parecer da CTNBio.