Sete
novas áreas protegidas totalizam 15
milhões de hectares e formam o maior
corredor de biodiversidade de florestas tropicais
Belém, 04 de dezembro
de 2006 — Com o anúncio da criação
de sete Unidades de Conservação
(UCs) no estado, o governo do Pará
dá um passo decisivo na gestão
de suas florestas e entra para a história
batendo recordes em área de conservação.
As novas áreas protegidas somam 15
milhões de hectares e incluem duas
UCs de proteção integral – Estação
Ecológica (Esec) Grão-Pará
e Reserva Biológica (Rebio) Maicuru
– e cinco de uso sustentável – quatro
Florestas Estaduais (Flotas) e uma Área
de Proteção Ambiental (APA).
A Esec Grão Pará, com 4,2 milhões
de hectares, é a maior unidade de conservação
de proteção integral em florestas
tropicais no mundo, ultrapassando em 362.871
hectares o Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque,
no estado do Amapá. Com 3,6 milhões
de hectares, a Floresta Estadual do Paru é
a maior UC de uso sustentável nos trópicos.
Com área similar
à soma dos territórios de Portugal,
Dinamarca e Suíça, as novas
unidades formam, junto a outras UCs e Terras
Indígenas já existentes ao norte
do rio Amazonas, o maior bloco de florestas
protegidas oficialmente. A iniciativa é
parte da estratégia de redesenho do
mapa ambiental do Pará, prevista no
Zoneamento Ecológico-Econômico
(ZEE) do estado que visa desenvolver políticas
de incentivo à diminuição
da perda da biodiversidade pelo desmatamento
ilegal, fomentar atividades econômicas
florestais manejadas e reduzir conflitos fundiários.
“Essa medida possibilita
a mudança do foco e da lente dos que
olham o Pará e a Amazônia como
almoxarifado ou santuário. Não
somos nem uma coisa nem outra. Temos aí
um instrumento legal poderoso para utilizar
a natureza incorporando o homem”, afirma o
governador do estado, Simão Jatene.
Para ele, o decreto de criação
das UCs, baseado na Lei do ZEE, é capaz
de promover o desenvolvimento sustentável
e de separar o joio do trigo. “Quem quiser
produzir dentro da legalidade ambiental, será
bem-vindo”.
A criação
das UCs é resultado de vários
estudos técnicos liderados pela Secretaria
Especial de Produção (Sepro)
e Secretaria Executiva de Ciência, Tecnologia
e Meio Ambiente (Sectam), com a colaboração
técnica da Conservação
Internacional (CI-Brasil) e do Instituto do
Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).
Com o decreto assinado hoje,
o estado do Pará passa a ter 55,4%
de seu território protegido. “A atitude
do governador é visionária.
Esse trecho da Amazônia tem mais área
intacta de floresta do que qualquer outro,
e essas novas áreas protegidas representam
um avanço histórico para a garantia
da conservação da rica biodiversidade
da região e a manutenção
dos serviços ambientais essenciais
que ela provê”, avalia Russell A. Mittermeier,
presidente da Conservação Internacional.
Para Adalberto Veríssimo,
pesquisador sênior do Imazon, trata-se
do maior ato de criação de unidades
de conservação já visto.
“Além de assegurar a proteção
de 55% do Estado, eleva para 42% a área
protegida da Amazônia”, acrescenta.
Blindagem ambiental no Escudo
das Guianas – A Calha Norte do Pará,
região ao norte do rio Amazonas, integra
o chamado Escudo das Guianas, área
formada por unidades de conservação
dos estados do Pará, Amazonas, Roraima
e Amapá, e da Guiana, Suriname e Guiana
Francesa. O Escudo das Guianas contém
mais de 25% das florestas tropicais úmidas
restantes no mundo e cerca de 80 a 90% de
suas florestas ainda estão intactas.
Essa região também abriga as
últimas grandes reservas de água
doce não-contaminadas nos trópicos
americanos, com aproximadamente 20% de toda
a água do planeta. Por essas características,
é considerada por especialistas uma
prioridade global para a conservação
da biodiversidade e a promoção
do desenvolvimento sustentável.
“A criação
dessas áreas protegidas na Calha Norte
paraense representa um passo significativo
para a conservação de um dos
maiores blocos contínuos de florestas
tropicais do planeta, localizado no Escudo
das Guianas”, frisa José Maria Cardoso
da Silva, vice-presidente de Ciência
da CI-Brasil. Ele lembra que, segundo o ZEE
do estado, a maior parte da Calha Norte deveria
ser considerada zona de proteção
integral ou de uso sustentável. “As
novas unidades vêm garantir um incremento
de 34% para 81%, ou 22 milhões de hectares,
na conservação da Calha Norte”.
Riqueza de espécies
– As Rebio Maicuru e a Esec Grão-Pará
abrigam pelo menos 61 espécies de anfíbios
(com alto percentual de endemismo - espécies
que só ocorrem ali - do Escudo das
Guianas); 150 espécies de répteis;
700 espécies de aves (incluindo desde
pequenos beija-flores até mutuns e
harpias, e também espécies migratórias)
e 195 espécies de mamíferos.
Estes números representam entre 14,3%
(no caso dos anfíbios) e 54,1% (no
caso das aves) de todas as espécies
encontradas na Amazônia. Essa região
é o habitat de grandes populações
de pelo menos oito espécies de animais
ameaçados de extinção
no Brasil, conforme a tabela abaixo:
Espécies Classe Nome
Popular
Oryzoborus maximiliani Aves Bicudo-verdadeiro
Myrmecophaga trydactila Mamíferos Tamanduá-bandeira
Panthera onca Mamíferos Onça-pintada
Priodontes maximus Mamíferos Tatu-canastra
Pteronura brasiliensis Mamíferos Ariranha
Speothos venaticus Mamíferos Cachorro-vinagre
Leopardus tigrinus Mamíferos Gato-do-mato
Leopardus wiedii Mamíferos Gato-maracajá
Áreas das novas Unidades
de Conservação do Pará
(área em hectares)
Calha Norte
Reserva Biológica de Maicuru 1.151.761
Floresta Estadual Paru 3.612.914
Floresta Estadual Trombetas 3.172.978
Floresta Estadual Faro 635.936
Estação Ecológica Grão-Pará
4.245.819
Sub-Total 1 12.819.408
Calha Sul
Floresta Estadual do Iriri 440.493
APA Triunfo do Xingu 1.679.280
Sub-Total 2 2.119.773
Total Geral 14.939.181
Informações
complementares
Unidade de Conservação
de Proteção Integral – o objetivo
primordial é conservar a natureza,
sendo permitido apenas o uso indireto dos
recursos naturais, como atividades de pesquisa,
conservação e educação
ambiental.
Unidade de Conservação
de Uso Sustentável – o objetivo primordial
é compatibilizar a conservação
da natureza com o uso sustentável de
uma parcela de seus recursos naturais.
Corredor de Biodiversidade
– Área que compreende uma rede de áreas
protegidas entremeada por áreas com
diferentes graus de ocupação
humana. O manejo é integrado para garantir
a sobrevivência de todas as espécies,
a manutenção de processos ecológicos
e evolutivos e o desenvolvimento de uma economia
regional forte, baseada no uso sustentável
dos recursos naturais.