04/12/2006
- O Sindicato de Trabalhadores Rurais de Lucas
do Rio Verde (MT) foi o vencedor do premio
na categoria Associação Comunitária.
Parceiro do ISA e de outras organizações
na campanha 'Y Ikatu Xingu, vem aliando a
luta pela reforma agrária, o compromisso
com a conservação ambiental
e a agroecologia. A instituição
atua em conjunto com dezenas de associações
e lideranças de agricultores familiares,
assentados e trabalhadores rurais. Organização
Indígena da Bacia do Içana (Oibi),
no noroeste amazônico, teve reconhecido
o seu trabalho no estímulo à
produção e comercialização
da pimenta Baniwa vencendo na categoria Negócios
Sustentáveis.
O Sindicato de Trabalhadores
Rurais (STR) de Lucas do Rio Verde (MT) e
a Organização Indígena
da Bacia do Içana (AM) estão
entre os ganhadores do Prêmio Chico
Mendes, concedido todo ano pela Secretaria
de Coordenação da Amazônia
do Ministério do Meio Ambiente (MMA).
O sindicato foi o vencedor na categoria “associação
comunitária”. O presidente da entidade,
Nilfo Wandscheer, também foi premiado,
conquistando o segundo lugar na categoria
Liderança Individual. A Oibi teve reconhecido
como “negócio sustentável” seu
trabalho com a produção e comercialização
da pimenta do povo Baniwa, do Alto Rio Negro.
Também a jornalista Mara Régia,
responsável pelo programa de rádio
Natureza Viva, que apresenta há 14
anos na Rádio Nacional da Amazônia,
ganhou o primeiro lugar na categoria Arte
e Cultura. O anúncio da premiação
aconteceu na terça-feira, dia 28 de
novembro.
Os primeiros lugares de
cada categoria (confira abaixo a lista completa
dos premiados) receberão um diploma
e R$ 20 mil, somando R$ 120 mil em prêmios,
em solenidade a ser realizada no dia 13 de
dezembro. A homenagem foi criada em 2002 e
é conferida a pessoas, comunidades,
ONGs, empresas e pesquisadores com trabalhos
socioambientais que contribuam para a conservação
e o desenvolvimento sustentável da
Amazônia.
Fundado em 1989, o STR vem
aliando à luta pela reforma agrária
o compromisso com a conservação
ambiental e a agroecologia. A instituição
atua em conjunto com dezenas de associações
e lideranças de agricultores familiares,
assentados e trabalhadores rurais da região
de Lucas do Rio Verde, município localizado
à margem da rodovia BR-163 (Cuiabá-Santarém),
cerca de 365 quilômetros ao norte de
Cuiabá. O sindicato inegra a Campanha
‘Y Ikatu Xingu, que pretende proteger e recuperar
as nascentes e as matas ciliares do rio Xingu
no Mato Grosso. Juntamente com o Instituto
Socioambiental (ISA), o STR coordena a rede
BR-163 + Xingu, fórum de troca de experiências
e informações entre nove projetos
apoiados pelo PDA-Padeq (Projetos Demonstrativos)
do MMA que visam criar alternativas econômicas
sustentáveis ao desmatamento e às
queimadas em municípios do norte do
Mato Grosso, como Vera, Água Boa, Cláudia
e Nova Ubiratã. Neste ano, o STR ganhou
espaço na mídia ao denunciar
a contaminação por agrotóxicos
ocorrida na cidade por conta da pulverização
realizada de forma incorreta por aviões
usados em grandes plantações
da região. O presidente do sindicato,
Nilfo Wandscheer, também foi premiado,
ganhando o segundo lugar na categoria liderança
individual.
Pimenta Baniwa
Desde o início de
2005, a Oibi vem desenvolvendo na Terra Indígena
Alto Rio Negro, na região de São
Gabriel da Cachoeira (AM), um trabalho de
estímulo à produção
da pimenta cultivada tradicionalmente pelas
mulheres do povo Baniwa (confira). Já
foram realizados vários encontros e
reuniões entre elas para a troca de
experiência e conhecimentos, debates
e a classificação de dezenas
de variedades da planta existentes na região
(saiba mais). A partir daí, em conjunto
com o ISA e a Federação das
Organizações Indígenas
do Alto Rio Negro (Foirn), a Oibi elaborou
um plano de negócios que prevê
a instalação de quatro “casas
de pimenta” para a fase final do processamento
e embalagem do produto e a sua venda em restaurantes
e lojas especializadas do sudeste do País
com o rótulo da “Arte Baniwa”, marca
também lançada pela Oibi e reconhecida
como símbolo de excelência em
cestarias indígenas. Mais de 70 litros
de pimenta já estão sendo vendidos
em São Gabriel da Cachoeira e em eventos
dos quais a Oibi participa. A organização
está tentando fazer contatos com parceiros
e financiadores que possam ampliar a iniciativa.
A intenção é colaborar
com o desenvolvimento das comunidades indígenas,
promovendo a geração de renda
de modo a garantir a proteção
e o uso racional da agrobiodiversidade manejada
pelas comunidades locais.
Outra organização
da sociedade civil que teve seu trabalho reconhecido,
ao receber o segundo lugar na categoria “associação
comunitária”, foi a Associação
da Reserva Extrativista do Iriri, sediada
na Terra do Meio, na região de Altamira
(PA). A instituição foi criada
em janeiro deste ano para mobilizar a comunidade
de quase 60 famílias de ribeirinhos
que vivem às margens do rio Iriri para
defender seus direitos e pressionar o governo
a criar ali a Reserva Extrativista do Iriri.
A Unidade de Conservação foi
formalizada em junho deste ano e a organização
vem reivindicando a instalação
de postos de saúde e escolas e denunciando
a ação de grileiros e pistoleiros
contra a população local (veja
mais).
Em 2002, o ISA foi o vencedor
entre as organizações não-governamentais
por seus projetos de educação
em comunidades no Parque Indígena do
Xingu. No mesmo ano, a então senadora
Marina Silva recebeu o prêmio como “liderança
individual”. No ano seguinte, o ISA e a Foirn
receberam o prêmio de “ciência
e tecnologia” pelos trabalhos de piscicultura
e manejo florestal associado, desenvolvidos
com as comunidades indígenas da Bacia
do Rio Negro.
(Com informações do MMA).
Prêmio Chico Mendes
2006
Liderança Individual
1º lugar: Padre Paolino
Baldassari, Sena Madureira (AC)
Italiano de nascimento,
brasileiro e amazônida de coração.
Radicado no Brasil desde 1951, morou no Amazonas
e vive atualmente no município de Sena
Madureira, Acre, onde realiza trabalho social,
ambiental e de saúde, dando continuidade
ao ideal forjado por Chico Mendes. Respeitado
e querido pela comunidade, Padre Paulino se
fez merecedor de várias homenagens.
Sua indicação para concorrer
ao Prêmio Chico Mendes de Meio Ambiente
partiu do Frei Heitor Turini, da Ordem dos
Servos de Maria e companheiro de jornada.
2º lugar: Nilfo Wandscheer,
Lucas do Rio Verde (MT)
Sindicalista, nascido na
zona rural de Mondaí, em Santa Catarina.
É dirigente do Sindicato dos Trabalhadores
Rurais de Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso.
Seu engajamento político-social tem
origem nas reuniões da Comissão
Pastoral da Terra e na luta pela reforma agrária,
atuando na Federação dos Trabalhadores
na Agricultura (Fetagri). Ajudou a criar a
regional do Grupo de Trabalho Amazônico
(GTA) no Mato Grosso e a executar o Projeto
Proteger do Programa Piloto para a Proteção
das Florestas Tropicais do Brasil. Foi indicado
para concorrer ao Prêmio Chico Mendes
pela coordenadora estadual do Projeto Proteger,
Epifânia Vuanden.
3º lugar: Manoel da
Silva Cunha, Manaus (AM)
Nasceu na comunidade de
São Francisco, no município
de Curauari, no Amazonas, onde se consolidou
como liderança comunitária junto
às comunidades extrativistas que vivem
na área da Reserva Extrativista do
Médio Juruá. Dentre as entidades
das quais participa estão o Conselho
Nacional dos Seringueiros, do qual foi eleito
presidente em 2005; Conselho Estadual do Desenvolvimento
Rural do Amazonas e Conselho Nacional do Meio
Ambiente (Conama). Foi indicado para concorrer
ao Prêmio Chico Mendes de Meio Ambiente
por Luciene Pohl, colaboradora do CNS.
Associação
Comunitária
1º lugar: Sindicato
dos Trabalhadores Rurais de Lucas do Rio Verde,
Rio Verde (MT)
Com uma trajetória
forjada na luta pela conquista da terra, o
Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Lucas
do Rio Verde associou à sua plataforma
o compromisso pela conservação
ambiental e pela agricultura ecológica,
contribuindo, dessa forma, para o desenvolvimento
sustentável na região. Sua força
organizativa se deve à participação
efetiva nas lutas de agricultores familiares,
assalariados rurais e trabalhadores rurais
sem-terra que formam o público com
o qual o sindicato atua. O sindicato já
protagonizou muitas lutas sociais, sendo por
isso reconhecido e respeitado como entidade
interlocutora dos interesses de seus associados.
2º lugar (empate):
Asssociação Comunitária
da Reserva Extrativistado Rio Iriri, Altamira
(PA)
A criação
da Reserva Extrativista do Iriri (Terra do
Meio) foi uma das principais conquistas da
associação, que se estabeleceu
para combater a grilagem de terras e as práticas
ilegais de exploração dos recursos
naturais, na região conhecida como
Terra do Meio. As comunidades tradicionais
que vivem na região estavam constantemente
sob ameaças, fato que as levaram a
se unir a várias entidades com atuação
destacada na área ambiental para pleitear
do governo a criação de um mosaico
de unidades de conservação na
região.
2º lugar (empate):
Associação dos Moradores do
Rio Unini, Barcelos (AM)
A associação
surgiu num contexto de luta coletiva em favor
da resolução de conflitos gerados
a partir da proibição ao uso
dos recursos naturais, do controle social
sobre eles e para contribuir com a busca de
alternativas à resolução
da questão fundiária no Parque
Nacional do Jaú (AM). A associação
atua no rio Unini, onde mora a maioria de
seus associados, formados por nove comunidades
e um total de 180 famílias. Sua luta
resultou na criação da Reserva
Extrativista do Rio Unini.
3º lugar: Associação
de Desenvolvimento Comunitário de Lages
- ASLAGES, Monte Alegre (PA)
A Comunidade de Lages, na
região de Monte Alegre, foi criada
há 52 anos. Sua subsistência
era baseada na agricultura e na pesca, que
se tornaram insuficientes em função
da criação do Parque Estadual
de Monte Alegre. Tem como base econômica
a agricultura com cultivo de mandioca e feijão,
envolvendo todos os membros das 35 famílias
que a compõe. Em 2002 foi aprovado
o Projeto Experimentos agrícolas alternativos
e beneficiamento do buriti com base sustentável
em comunidades do entorno do Parque Estadual
Monte Alegre, dando a elas nova base de subsistência
com sustentabilidade.
Organização
Não-Governamental
1º lugar: Operação
Amazônia Nativa OPAN, Cuiabá
(MT)
Trabalha com povos indígenas,
especialmente nas regiões Centro-Oeste
e Norte do Brasil, desenvolvendo projetos
de defesa territorial, sustentabilidade, atenção
à saúde, educação
e promovendo formação e capacitação
nas mais diferentes áreas, por meio
do contato direto e cotidiano com as aldeias
indígenas. A OPAN reconhece que a demarcação
de terras indígenas é um processo
básico e fundamental para o desenvolvimento
das culturas, a sustentabilidade e a melhoria
de vida dos povos indígenas. A OPAN
contribuiu diretamente para a demarcação
das terras dos povos Paresi, Cinta Larga,
Enawene Nawe, Kanamari, Kulina, Paumari, Katukina,
Parintintin e Deni.
2º lugar: Associação
de Defesa Etnoambiental - Kanindé,
Porto Velho (RO)
Seu princípio orientador
é a harmonia entre o homem e a natureza,
participando na construção de
um desenvolvimento socialmente justo e ambientalmente
sustentável . É uma Organização
da Sociedade Civil de Interesse Público
com atuação na região
Sudeste do Amazonas e em Rondônia. Desenvolve
diversos projetos e atividades com o objetivo
de proteger o meio ambiente e os direitos
indígenas.
2º lugar: Instituto
Internacional de Educação do
Brasil IEB, Brasília (DF)
Associação
civil com atuação destacada
na capacitação de recursos humanos
para a conservação e o uso sustentável
dos recursos naturais, cultivando o capital
humano para uma sociedade sustentável,
por meio de ações de formação,
disseminação de conhecimentos
e fortalecimento da articulação
de atores sociais, tendo como prioridade a
região amazônica.
3º lugar: Associação
Vaga Lume, São Paulo (SP)
A associação
Vaga Lume tem como missão promover
o desenvolvimento cultural e educacional de
comunidades rurais da Amazônia Legal,
mediante a aplicação da metodologia
de implantação de bibliotecas
comunitárias e a formação
de pessoas para o incentivo à leitura,
além de contribuir com a troca de conhecimentos
entre a população amazônida
e as demais regiões do país.
Negócios Sustentáveis
1º lugar: Organização
Indígena da Bacia do Içana,
São Gabriel da Cachoeira (AM)
Trabalha com produção
e comercialização de pimenta
em pó para tempero de carne e peixe.
Com esse trabalho, a organização
busca colaborar com o desenvolvimento das
comunidades indígenas, promovendo a
geração de renda e a avaliação
do potencial florestal da região para
garantir o uso racional dos recursos naturais.
Essa produção é feita
pelas mulheres em suas roças, sem mudanças
negativas na sua identidade cultural e forma
de vida.
2º lugar: Liba Produtos
Florestais, Rio Branco (AC)
Indústria de pequenos
objetos de madeira (certificada pelo FSC)
e outros materiais florestais, com atuação
nos mercados de presentes finos, utilitários
domésticos, brindes corporativos, jogos
e brinquedos. Sua atuação é
baseada no manejo florestal comunitário
em parceria com associações
de seringueiros. Trata-se de empresa jovem,
instalada há um ano e meio em Rio Branco,
fruto de experiência familiar acumulada
em mais de 35 anos no ramo de objetos de madeira.
3º lugar: Associação
dos Extrativistas e Artesãos do Capim
Dourado do Jalapão, Novo Acordo (TO)
A confecção
do artesanato de capim dourado é a
base do negócio sustentável
desenvolvido pela Associação
dos Extrativistas e Artesãos do Jalapão.
O compartilhamento entre as artesãs
e a troca de experiência por meio da
realização de mutirões
são princípios que norteiam
as relações de produção
das artesãs.
Ciência e Tecnologia
1º lugar: Philip Fearsinde,
Manaus (AM)
Com extenso currículo
de atividades de pesquisa desenvolvidas na
Amazônia, Philip Fearnside foi classificado
em primeiro lugar na categoria Ciência
e Tecnologia. Ele foi um dos primeiros cientistas
no Brasil a alertar para o impacto do desmatamento
sobre o clima. Com o projeto Serviços
ambientais como estratégia alternativa
para o desenvolvimento na Amazônia quantificou,
de forma simples e facilmente replicável
às comunidades da região, as
emissões causadas pela mudança
no uso da terra na Amazônia; qualificou
o benefício climático de mudar
os padrões de uso da terra; redirecionou
a base de sustento da população
rural.
2º lugar: Tânia
de Paula e Cristian Ullmann, São Paulo
(SP)
Classificados com o Projeto
Oficina Nômade , cujo objetivo é
identificar, apoiar, divulgar e fortalecer
o mercado de produtos comunitários
amazônicos que utilizam de forma sustentável
os recursos naturais.
3º lugar: Floriano
Pastore Jr., Brasília (DF)
Participou com projeto que
trata do uso de tecnologia alternativa para
a produção de borracha natural,
que permite ao trabalhador preparar o látex
beneficiado, empregando técnicas e
materiais simples de custo relativamente baixo.
O projeto apóia os seringueiros na
preservação e no uso sustentável
da floresta.
Menção Honrosa:
Museu Emílio Goeldi, Belém (PA)
O Museu Paraense Emílio
Goeldi atua na geração e divulgação
do conhecimento científico na Amazônia,
por meio de estudos e da difusão da
sociobiodiversidade. Dentre as muitas contribuições
oferecidas pelo Museu Goeldi para o desenvolvimento
regional, pode-se destacar a manutenção
e a conservação de acervos científicos,
e a formação de recursos humanos
especializados em assuntos da região.
O fato de que o conjunto da obra do Museu
é tão grandioso que não
permite comparação com o trabalho
de outros fez com que a Comissão Julgadora
optasse por uma menção honrosa
ressaltando este trabalho.
Arte e Cultura
1º lugar: Mara Régia
Di Perna, Brasília (DF)
Jornalista e professora
universitária, desenvolve desde 11000
programas de rádio voltados à
capacitação das populações
amazônicas em relação
a temas como cidadania, cultura popular, conhecimentos
tradicionais, sexualidade, meio ambiente e
outros. Há 14 anos apresenta o programa
Natureza Viva pela Rádio Nacional da
Amazônia, um projeto do WWF-Brasil,
do GTA (Grupo de Trabalho Amazônico)
e da Radiobras. Em 2005, Mara Régia
integrou a lista de mil mulheres indicadas
em todo o mundo para o Prêmio Nobel
da Paz.
2º lugar: Feliciano Pimentel Lana, São
Gabriel da Cachoeira (AM)
Membro do povo indígena
Desana, demonstra seu talento artístico
em arte gráfica, textos e livros. Teve
sua arte apresentada em exposições,
oficinas e outros eventos. Seus trabalhos
serviram de base para diversos pesquisadores
interessados nas questões culturais
e ambientais da região do Alto Rio
Negro. Acredita que seu ofício é
uma forma de manter viva, documentada e preservada
a cultura de seu povo.
3º lugar: Associação
dos Seringueiros do Seringal Cazumbá,
Sena Madureira (AC)
Concorreu com o Projeto
Barco de Leitura , da Resex Cazumbá-Iracema
(Acre). O projeto tem por objetivo democratizar
o acesso à cultura por meio de obras
literárias, contribuindo para estimular
o hábito de leitura, a reflexão,
o debate, a curiosidade intelectual, a cooperação
e a liderança entre crianças
e jovens da Resex.
ISA, Oswaldo Braga de Souza.