13-12-2006 – Brasília - A chuva era
fraca, mas insistente. Quando as pesadas nuvens
davam uma trégua, era a vez do sol
forte incomodar. Mas os trabalhadores rurais
e integrantes de ONGs ambientalistas e da
sociedade civil não arredaram pé
e mantiveram a vigília em frente à
Comissão Técnica Nacional de
Biossegurança (CTNBio), em Brasília.
A manifestação, iniciada na
manhã desta quarta-feira, foi organizada
para protestar contra uma possível
aprovação de dois pedidos de
liberação comercial de milho
geneticamente modificado feitos pelas empresas
Bayer e Monsanto.
O pedido feito pela Bayer é para comercializar
um milho resistente ao agrotóxico gluofosinato
de amônio (Liberty Link). Já
o pedido da Monsanto é para a comercialização
de um milho com propriedade inseticida (Guardian
Bt).
Gritando palavras de ordem a favor das sementes
crioulas e contra os transgênicos, os
manifestantes abriram faixas lembrando aos
integrantes da Comissão, que chegavam
para a última reunião do órgão
no ano, sobre a importância de se manter
o Brasil livre do milho geneticamente modificado.
A vigília é organizada pela
Via Campesina e pela Campanha Por Um Brasil
Livre de Transgênicos. A reunião
da CTNBio termina na quinta-feira à
tarde (14/12).
O deputado João Alfredo (PSOL-CE)
compareceu à vigília e conversou
com os manifestantes. O parlamentar, que é
relator do Grupo de Trabalho da Comissão
de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias,
alertou aos presentes que a biossegurança
do país corre um sério risco
no atual momento.
"O que está em jogo aqui agora
não é apenas a liberação
dessas duas variedades de milho transgênico
mas também a proteção
de toda a biodiversidade brasileira. Temos
uma Medida Provisória para ser votada
no Congresso que pode alterar a relação
de forças na CTNBio e prejudicar trabalhadores
rurais, o meio ambiente e nós consumidores",
afirmou o deputado, que pede um aliança
forte entre movimentos sociais e instituições
ambientalistas para combater as forças
ruralistas e de empresas transnacionais como
Bayer e Monsanto.
"Quando vejo as contradições
desse atual governo, que deu mais espaço
aos ruralistas, que orienta seus esforços
em prol do agronegócio e das grandes
empresas multinacionais, fico pessimista com
o nosso futuro. Mas ao ver movimentos como
esta vigília, em que há uma
forte aliança entre movimentos sociais,
organizações ambientalistas
e órgãos de defesa do consumidor,
retomo meu otimismo."
Uma carta pedindo que o governo proteja a
agro-biodiversidade brasileira e impeça
a introdução do milho transgênico
no país foi entregue pelos trabalhadores
aos membos da CTNBio. Mário Barbarioli,
agricultor paranaense de 50 anos, exibia com
orgulho sua coleção de mais
de 100 variedades de sementes de milho, e
outras de feijão, arroz e leguminosas.
Representante da rede EcoVida de AgroEcologia
de Curitiba, Barbarioli trouxe o mostruário
de sementes crioulas de sua região
para mostrar o perigo que o Brasil corre se
liberar variedades transgênicas.
"Se eles (integrantes da CTNBio) liberarem
os transgênicos, acredito que em 10
anos não teremos mais quase nenhuma
semente crioula. A contaminação
é muito veloz porque o milho tem polinização
cruzada, acelerando o processo", alertou
o agricultor.
Para Ventura Barbeiro, engenheiro agrônomo
do Greenpeace Brasil, também presente
à vigília, é preciso
aprender com a experiência de outros
países para não sofrermos os
mesmos problemas.
"A contaminação do milho
por transgênicos já é
uma realidade no México, Espanha e
Estados Unidos, entre outros. Por isso estamos
aqui,
para proteger o patrimônio genético
brasileiro", disse ele.
Darci Frigo, coordenador da ONG Terra de
Direitos, também integrante da Campanha
Por Um Brasil Livre de Transgênicos,
existe hoje uma
completa falta de transparência por
parte da CTNBio na aprovação
de pedidos de liberação comercial
de produtos geneticamente modificados.
"As regras são bem definidas,
mas elas não têm sido observadas
pelos integrantes da CTNBio. Temos que tornar
público o que eles escondem. Não
há um devido cuidado com decisões
que podem afetar nossa biodiversidade e até
a saúde humana. Quem vai se responsabilizar
no futuro caso haja uma contaminação
das lavouras? Quem garante a sobrevivência
das sementes crioulas?", questiona.
Recentemente, o Greenpeace protocolou diversos
documentos junto à CTNBio, apontando
os possíveis impactos do milho transgênico
sobre o meio ambiente e a saúde humana.
Os textos estão disponíveis
no link:
www.greenpeace.org.br/biblioteca/transgenicos.php
Foto: Geenpeace