12/12/2006
- Um tema que vem sendo debatido no mundo
todo e com diferentes pontos de vista será
retomado na tarde de hoje (12), durante o
2º Simpósio da Biota Amazônica.
A importância e os desafios da conservação
na Amazônia será a questão
debatida por quatro especialistas no assunto,
sob diferentes áreas de conhecimento.
O evento acontece em Belém (PA), até
o dia 14 de dezembro, no Hotel Crowne Plaza.
A partir das 15h30, será
aberta a mesa-redonda “Conservação
de sistemas terrestres e aquáticos
na Amazônia”. O coordenador será
o pesquisador do Museu Paraense Emílio
Goeldi (MPEG/MCT), Leandro Ferreira. Em sua
abordagem, Ferreira irá apresentar
os resultados de seu estudo sobre a eficiência
das áreas protegidas da Amazônia
em conter o desmatamento.
Em 2005, a área desmatada
na Amazônia Legal Brasileira chegou
a cerca de 700 mil km², correspondendo
a 17% de seu território. “Boa parte
desse número está concentrada
na região conhecida como ‘Arco do Desmatamento’,
cujos limites se estendem do sudeste do Maranhão,
norte do Tocantins, sul do Pará, norte
de Mato Grosso, Rondônia, sul do Amazonas
e sudeste do Acre”, aponta Ferreira.
No seu estudo, Ferreira
pesquisou 424 áreas protegidas dentro
da Amazônia Legal. Dessas, 62,3% apresentaram
índice de desflorestamento menor que
nas áreas em seu entorno. Ou seja,
as Unidades de Conservação e
as Terras Indígenas estão dando
conta do recado. “Os resultados deste trabalho
são úteis, pois demonstram claramente
que criar Unidades de Conservão e Terras
Indígenas na Amazônia é
um instrumento eficiente para conter o desmatamento”,
afirma.
O trabalho também
apresenta algumas regiões críticas,
onde a pressão do desflorestamento
já atingiu níveis preocupantes.
“Com base nestes dados, podemos direcionar
políticas para a conservação.
Isto é, prover essas áreas de
recursos humanos e financeiros, pois elas
não possuem condições
de, sem apoio e investimento, conter o desflorestamento”,
completa o pesquisador.
História
A necessidade de preservação
da biodiversidade, apesar de ser um dos principais
debates da atualidade, não surgiu agora.
Esse histórico será levantado
pelo pesquisador David Oren, da The Nature
Conservancy, uma organização
não-governamental fundada em 1951,
nos Estados Unidos, com a missão de
preservar a biodiversidade e que hoje atua
em mais de 30 países.
Segundo Oren, o movimento
conservacionista no Brasil surgiu com José
Bonifácio de Andrada e Silva, no início
do século XIX. Tratava-se de uma visão
local, pois lamentava a destruição
das florestas nativas dos arredores do Rio
de Janeiro. As razões básicas
da preocupação de José
Bonifácio, porém, permanecem
até hoje. “Ele alertou para três
questões: (1) desperdício de
recursos naturais preciosos, como as árvores
de madeira de lei, dizimada pela agricultura
insustentável; (2) destruição
dos solos e (3) destruição dos
serviços ambientais em forma de estabilidade
climática e dos recursos hidrológicos”,
relata Oren.
Riqueza nos rios
O conceito de conservação abrange
também os rios. Afinal, a Amazônia
tem a maior riqueza de espécies de
peixes de água doce do mundo. Estima-se
que sejam cerca de cinco mil, número
de espécies superior ao que foi encontrado
até hoje em todo o Oceano Atlântico,
relata pesquisador Miguel Petrere Jr., da
Unesp/Rio Claro.
Segundo estudos recentes,
a desenfreada ocupação da Amazônia
e a falta de controle dos recursos pesqueiros
começam a alterar a dinâmica
tanto do consumo quanto da diversidade de
espécies. Entre os fatores que contribuem
para esse quadro, está o crescimento
populacional das maiores cidades, o que influi
no setor pesqueiro.
“Por exemplo, em um raio
ao redor de cem quilômetros de Manaus,
a maioria dos lagos está com seus estoques
de espécies cada vez menores e necessitam
de medidas de conservação. E
essa estratégia deve ser pensada quando
a abundância de uma espécie atinge
níveis baixíssimos e corre o
risco de ser extinta, ainda que comercialmente”,
alerta o pesquisador.
Entre as espécies
que já requerem um cuidado maior, Petrere
Jr. cita o tambaqui (Colossoma macropomum),
a pescada (Plagioscion spp) e o tucunaré
(Chila spp). A preocupação,
porém, é a forma como implementar
políticas de preservação.
“As medidas de manejo terão que se
transformar em medidas mais drásticas
de conservação. Afinal, em uma
bacia hidrográfica, essa fiscalização
torna-se dificílimas de serem implementadas
devido à sua ampla distribuição
internacional”, explica.
Diversidade
A mesa-redonda terá ainda a contribuição
das pesquisas de José Maria Cardoso,
da organização não-governamental
Conservação Internacional do
Brasil. Cardoso abordará os dois padrões
biogeográficos básicos da Amazônia.
O primeiro é constituído por
áreas de endemismo, ou seja, onde ocorrem
espécies somente nestas regiões.
Por exemplo, oito áreas de endemismo
são reconhecidas para vertebrados terrestres.
São elas: Guiana, Imeri, Nap, Inambari,
Rondônmia, Tapajós, Xingu e Belém.
O outro padrão é aquele onde
ocorrem espécies aparentadas nas áreas
vizinhas às endêmicas.
A formação
das áreas de endemismo na Amazônia
é uma conseqüência de diferentes
eventos. “Todos os estudos recentes indicam
uma longa e complexa história evolutiva
das áreas de endemismo”, afirma Cardoso.
Para ele, essas áreas
requerem políticas específicas
de preservação. “A conservação
das áreas de endemismo pede políticas
como o manejo efetivo das unidades de conservação,
o apoio às populações
e a integração de todas as áreas
protegidas”, defende, citando a criação
dos corredores de biodiversidade.
Mais informações
sobre o II Simpósio da Biota Amazônia
no portal do Museu Goeldi (http://www.museu-goeldi.br/biota/).
Daniel Nardin - Assessoria de Comunicação
do Museu Goeldi
Cientistas pedem mais liberdade
para pesquisas na abertura do 2º Simpósio
da Biota Amazônica
Ciência e Desenvolvimento
- 12/12/2006 - Foi oficialmente aberto na
noite desta segunda-feira (11), em Belém
(PA), o 2º Simpósio da Biota Amazônica.
Durante quatro dias, mais de 600 pessoas estarão
reunidas no Hotel Crowne Plaza para discutir
o futuro da Amazônia. Juntos, cientistas,
pesquisadores e estudantes vão debater
40 anos de avanços na pesquisa e as
principais transformações na
região.
A abertura deste 2ª
Simpósio contou com a participação
da diretora do Museu Paraense Emilio Goeldi
(MPEG/MCT), Ima Vieira, e do presidente nacional
da Sociedade Brasileira para o Progresso da
Ciência (SBPC), Ennio Candotti. Também
estiveram presentes na solenidade o secretário
estadual de Ciência, Tecnologia e Meio
Ambiente (Sectam), Raul Porto, representando
o governador do estado do Pará, Simão
Jatene, e a secretária municipal de
Meio Ambiente, Sylvia Santos.
Histórico
Após a solenidade,
o coordenador de Comunicação
e Extensão do Museu Goeldi, Nelson
Sanjad, um dos coordenadores do evento, fez
uma breve explicação, através
de fotos e slides, sobre a primeira edição
da Biota Amazônica. Ele destacou que
o Simpósio foi um dos primeiros eventos
de grande porte a discutir a região
amazônica em termos de conhecimento
científico.
O 1º Simpósio
foi organizado em sete seções:
Geociências, Antropologia, Limnologia,
Botânica, Zoologia, Patologia e Conservação
da Natureza e de Recursos Naturais. De acordo
com Herman Lent, editor das Atas do evento,
16 países inscreveram-se no 1º
simpósio, representando 97 instituições.
No total, foram proferidas 22 conferências
e apresentados 227 trabalhos originais. O
público inscrito foi de 611 pessoas.
As Atas foram publicadas em 1967, em sete
volumes, reunindo 169 artigos, em 2.408 páginas.
Conforme demonstram esses
números, o 1º Simpósio
da Biota Amazônica representa o primeiro
grande evento científico que teve a
Amazônia como tema, num contexto de
progressiva ampliação do sistema
nacional de Ciência e Tecnologia. Nesse
sentido, foi um marco para as políticas
nacionais de ciência e tecnologia voltadas
para a região.
Pesquisa
O presidente da SBPC, Ennio
Candotti, proferiu a conferência de
abertura “Ciência e desenvolvimento
na Amazônia: desafios temperados”. No
início, Candotti lamentou que, apesar
dos grandes avanços na ciência,
a comunidade científica não
pôde conter a crescente perda da biodiversidade,
fato que já era alertado em 1966. “Não
é possível que, passados 40
anos, tenhamos que repetir as mesmas coisas,
as mesmas metas, os mesmos alertas. E agora
com muito mais dificuldades para realizar
os projetos”, lembrou.
Em seu discurso, Candotti
destacou ainda a importância do conhecimento
produzido pelas comunidades tradicionais da
Amazônia para o desenvolvimento da ciência.
Ele observou que tal troca de conhecimento
deve ser levada em consideração
apenas se os benefícios forem compartilhados
com as comunidades. “A divulgação
do conhecimento tradicional esbarra em muitas
questões. Entre elas, é preciso
garantir remuneração aos detentores
desse conhecimento”, afirmou.
No final da conferência,
Candotti tocou em outro tema polêmico,
sempre com firmeza: a dificuldade de se pesquisar
com tantas leis que intimidam os cientistas.
“Hoje vemos pesquisadores sendo presos por
ousar estudar a natureza. A situação
é patética e insustentável.
A absoluta incapacidade de fiscalização,
por parte dos órgãos públicos,
acaba esbarrando nas pesquisas. Não
se trata de biopirataria e, sim, de conhecimento
produzido, de ciência, de estudo”, disse.
Candotti destacou ainda
que é preciso estimular as pesquisas.
“Com esse ambiente, não haverá
uma terceira edição da Biota,
pois nossos jovens podem ficar desestimulados,
receosos. Afinal, sempre sai notícia
de pesquisador preso por coletar natureza
para pesquisa. É preciso mudar a legislação,
formar mais profissionais, avançar
e avançar”, completou.
Daniel Nardin - Assessoria de Comunicação
do Museu Goeldi
2ª Biota Amazônica
discute os avanços dos estudos botânicos
na região
Amazônia - 13/12/2006
- A diversidade vegetal dos ecossistemas amazônicos
e os desafios dos estudos botânicos
nessa região também serão
debatidos no II Simpósio Biota Amazônica
Os debates envolvendo o
tema Botânica acontecerão na
tarde desta quarta-feira (13), no Hotel Crowne
Plaza, em Belém (PA). As discussões
começaram às 14h30, com a conferência
“Estudos taxonômicos e florísticos
na Amazônia, com ênfase em Rutaceae:
a contribuição da USP e sua
colaboração com as instituições
do Norte do Brasil”, proferida pelo pesquisador
José Rubens Pirani, da Universidade
de São Paulo (USP).
Às 15h30, será
realizada a mesa-redonda “Avanços e
Desafios na Sistemática de Plantas
Amazônicas”, coordenada pelo pesquisador
Ricardo Secco, curador do herbário
do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG).
A seção contará
com a participação dos pesquisadores
Willian Rodrigues, da Universidade Federal
do Paraná, que falará sobre
os estudos taxonômicos na Amazônia
Brasileira; Douglas Daly, do New York Botanical
Gardens (Estados Unidos), que falará
sobre o desafio de se encontrar novos taxonomistas
para a região; e Regina Silva, da Embrapa
Amazônia Oriental, que apresentará
os avanços nos estudos taxonômicos
das espécies de copaíba (Copaifera
L.).
Museu
O pesquisador Ricardo Secco
abrirá a mesa falando sobre os avanços
e desafios do Museu Paraense Emílio
Goeldi (MPEG/MCT) nos estudos recentes em
taxonomia vegetal na Amazônia. Segundo
Secco, as pesquisas realizadas pelo Museu
Goeldi, ao longo de seus 140 anos de existência,
representam um grande avanço no conhecimento
da flora amazônica e na formação
de recursos humanos, subsidiando também
estudos ecológicos, etnobotânicos
e políticas públicas.
Centrados nos estados de
Roraima, Amapá, Amazonas, Acre, Pará,
Maranhão e Rondônia, os estudos
da flora amazônica realizados pelos
pesquisadores do Museu Goeldi estendem-se
também ao Peru, Bolívia, Colômbia,
Venezuela, Equador e Guianas.
Além de um grupo
de pesquisadores envolvidos, as pesquisas
contam com a participação de
alunos de iniciação científica
e de pós-graduação. Segundo
Secco, esses estudos contribuíram,
recentemente, para a descoberta de 10 espécies
novas para a ciência, além de
diversos novos registros, inclusive de gêneros,
endemismos e disjunções.
De acordo com Secco, uma
das metas da pesquisa científica nessa
área é intensificar coletas
botânicas em regiões pouco exploradas
botanicamente ou sob risco de desmatamento.
A contratação de taxonomistas
e a consolidação de cursos de
pós-graduação nos níveis
na área de Botânica também
são outros desafios enfrentados pela
pesquisa na região.
Diversidade
A diversidade vegetal dos
ecossistemas amazônicos é o tema
central da última mesa-redonda do dia,
tendo início às 17 horas. A
mesa será coordenada pelo pesquisador
Samuel Almeida, do Museu Goeldi, e contará
com a participação dos pesquisadores
Alfredo Homma, da Embrapa Amazônia Oriental;
Charles Clement, do Instituto Nacional de
Pesquisas da Amazônia (INPA); e Spartaco
Filho, do Centro de Biotecnologia da Amazônia
(CBA).
Durante a seção,
serão discutidos os avanços
e as limitações na área
de inventários biológicos e
bioprospecção, além da
importância do conhecimento botânico
sistemático sobre a flora amazônica
para a proteção de espécies
ameaçadas e a implantação
de novas áreas protegidas. Mais informações
sobre o II Simpósio Biota Amazônica
no portal do Museu Goeldi http://www.museu-goeldi.br.
Assessoria de Comunicação Social
do Museu Goeldi
Pesquisadores avaliam que
biodiversidade amazônica precisa ser
mais estudada
Recursos Naturais - 13/12/2006
- Na manhã desta quarta-feira, a rica
diversidade da zoologia na Amazônia
está sendo o tema dos debates, iniciando
o terceiro dia do 2º Simpósio
da Biota Amazônica, no auditório
do Hotel Crowne Plaza, em Belém. A
biodiversidade da região será
complementada com a mesa-redonda que será
aberta no período da tarde, sobre botânica.
O Dr. José Maria
Cardoso, da Conservação Internacional,
substitui o Dr. Nelson Papavero, da Universidade
de São Paulo (USP), que está
impossibilitado de vir a Belém por
razões de saúde. Cardoso profere
a conferência “Sistemática, Biogeografia
e Conservação dos Primatas Amazônicos”.
Em seguida, será
aberta a mesa-redonda “Biodiversidade amazônica:
avanços e desafios em taxonomia e sistemática”.
A coordenação da mesa ficará
com a Dra. Teresa Cristina Sauer de Ávila-Pires,
do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG/MCT).
A Amazônia é
uma das regiões com maior biodiversidade
do planeta e é onde se localiza a maior
floresta úmida tropical contínua,
que inclui o maior sistema fluvial do mundo.
“Apesar da grande biodiversidade, ou por isso
mesmo, ainda se conhece muito pouco sobre
a fauna e flora da região”, avalia.
Paralelo a isso, existe
certa pressa em se pesquisar mais sobre o
que existe na região, por conta do
acelerado ritmo de alteração
das paisagens naturais, seja por sua substituição
por monoculturas como a soja, seja pela exploração
madeireira ou ainda pelo desmatamento e outras
ações causadas pelo homem.
Ávila-Pires deve
abordar também a atual preocupação
dos cientistas com o tema em diversas reuniões,
encontros e convenções ao longo
da década de 11000. Em relação
aos avanços da pesquisa científica,
foram estabelecidas algumas metas, ainda esse
ano, como dobrar a taxa de inventários
taxonômicos até 2015 e empregar
dez mil taxônomos até 2020. “Como
podemos contribuir para chegarmos ao menos
perto disso? Somente com investimentos em
pesquisa podemos melhorar de fato nosso entendimento
sobre a Amazônia e sua intrincada teia
de vida”, avalia Ávila-Pires.
O Dr. Miguel Trefaut Rodrigues,
também da USP, vai detalhar a evolução
nos sistemas de classificação
taxonômica e o atual estágio
de conhecimento. Ele ressalta a importância
de se estudar mais para suprir a carência
que ainda existe no tema. A situação
é mais trágica quando olhamos
para o rápido desmatamento. Precisamos
reverter este quadro com a máxima urgência”,
alerta.
José Albertino Rafael,
do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazona
(Inpa/MCT) participa da mesa abordando o caso
da entomologia. Segundo ele, os insetos representam
o componente majoritário da biodiversidade
terrestre. “Atualmente são conhecidas
925 mil espécies no mundo e cerca de
110 mil espécies, ou 12%, no Brasil.
“Baseado a porcentagem, esse número
deve chegar a 66 mil espécies, mas
muito provavelmente esse total não
foi atingido”, afirma Albertino
A falta de recursos humanos
nessa área é evidente. De acordo
com o pesquisador, existe hoje apenas um ‘entomólogo
taxonomista’ para uma área equivalente
ao estado do Acre. “Se permanecer esse nível,
serão necessários 500 anos para
se chega a um nível satisfatório
do conhecimento da nossa entomofauna. Isso
sem levar em consideração que,
no ritmo atual de destruição
da floresta, a maioria das espécies
já estará extinta”, alerta.
Daniel Nardin - Assessoria de Comunicação
do Museu Goeldi