Brasília
(18/12/2006) - Obra suspensa, a estrutura
não toca o solo, elevada apenas por
toras diagonais de eucalipto tratado em autoclave.
O concreto e o tijolo parecem flutuar. A natureza
sustenta o prédio tornando-se o elo
entre o homem e a terra. Após um ano
de construção, este é
o prédio do Centro Nacional de Apoio
ao Manejo Florestal (Cenaflor) inaugurado
hoje, 18/12. São três andares
mais um terraço tendo à volta
uma imensa área verde no campus do
Ibama sede em Brasília. Instituído
pela Portaria Ibama n° 56/03 o Cenaflor
já capacitou diretamente ou por meio
de parcerias quase 300 profissionais das mais
diversas áreas. Seu principal objetivo
é proporcionar a difusão de
técnicas de manejo florestal e exploração
de impacto reduzido por meio de treinamento,
capacitação e aplicação
dessas técnicas para empresários
e comunidades, além do apoio à
pesquisa aplicada.
Estiveram presentes na inauguração,
representando a Ministra do Meio Ambiente,
Marina Silva, o Diretor Geral do Serviço
Florestal Brasileiro, Tasso Azevedo, o Presidente
do Ibama, Marcus Barros e o Diretor da Diretoria
de Florestas, Antonio Carlos Hummel.
Em seu discurso de abertura
do evento, Tasso Azevedo lembrou a importância
e excelência dos centros especializados
do Ibama. “Montar um sistema de rede a partir
de um centro especializado do Ibama para trabalhar
com manejo florestal é uma forma de
fazer com que essas iniciativas ganhem consistência
e se perpetuem”, informa. Para ele, a gestão
compartilhada com os estados e a própria
capacitação são as funções
mais importantes do Cenaflor. “Não
iremos treinar ninguém, mas articular
resiliência por meio de um espaço
construído para fazer com que as diferentes
iniciativas sejam “normatizadas”, difundidas
e aplicadas”, revela.
Para o presidente do Ibama,
a continuidade é também uma
de suas maiores preocupações.
“A inauguração do prédio
do Cenaflor é uma certeza de que a
experiência do Pró-Manejo, iniciada
por volta de 1994, não vai acabar”,
diz. Segundo Barros, a visão da engenharia
florestal, de que a plenitude vem com o uso
da natureza com manejo, parcimônia,
técnica e ciência está
de pleno acordo com os princípios que
basearam a consolidação do Centro.
“Espero que o progresso não seja apenas
uma alta taxa de crescimento, mas, principalmente,
distribuição de renda e felicidade
de nossos filhos e netos”, enfatiza.
“Enquanto o Pró-Manejo
estava voltado para a Amazônia, o Cenaflor
tem como função pensar as florestas
como um todo, não só as do norte,
mas também a caatinga, o cerrado, a
mata atlântica e todas as áreas
florestais do Brasil. Por isso, tem sede em
Brasília”, informa o Diretor da Diretoria
de Florestas. Para Hummel, “esta é
uma das estacas fundamentais para deixar as
florestas em pé, pois o Centro nasce
com várias perspectivas favoráveis
tanto financeiras quanto em termos de legislação”.
Segundo o diretor, o grande desafio atual
é a ampliação da equipe
técnica.
Um dos grandes destaques
do prédio é sua beleza e funcionalidade.
Para Marcus Barros, “o Cenaflor expressa uma
nova ideologia, pois é leve e compõe
em harmonia o espaço com os outros
prédios que aqui estão”. Dando
continuidade à valorização
dos servidores, o projeto é de autoria
do arquiteto Roberto Lecomte e o acompanhamento
da obra e cálculos estruturais do engenheiro
Júlio Eustáquio, ambos do Laboratório
de Produtos Florestais (LPF). Júlio
é um dos poucos calculistas em madeira
na região centro-oeste e responsável
por obras especiais em madeira em locais de
difícil acesso, como Antártida,
Atol das Rocas e Arquipélago de São
Pedro e São Paulo, o ponto mais distante
da costa brasileira.
Para Lecomte, “o projeto
é uma vitrine de soluções
construtivas em madeira desenvolvidas pelo
LPF”. Foram utilizadas madeiras tropicais
alternativas de alta durabilidade como tuturubá,
louro vermelho e cumaru, além do eucalipto
de reflorestamento, aliadas a materiais convencionais
como laje de concreto e paredes de alvenaria.
A estrutura da cobertura é inédita,
com arcos de madeira tropical cerrada e telha
com isolamento termo-acústico com lã
de rocha, o que permite um isolamento semelhante
ao da cerâmica. A luz e a ventilação
foram pensadas com princípios de conforto
ambiental, de forma a minimizar o uso de ar-condicionado
e luz elétrica. A idéia de obra
suspensa permite que o jardim entre por baixo
do prédio, proporcionando uma maior
integração com a natureza circundante.
Luis Lopes