22/12/2006 - A Companhia de Tecnologia de
Saneamento Ambiental – CETESB, cumprindo sua
missão de desenvolver tecnologia em
prol do meio ambiente e de saneá-lo,
lançou ontem (21/12) o CD-ROM “Ambientes
Costeiros Contaminados por Óleo – Procedimentos
de Limpeza”. Com este trabalho, a agência
ambiental paulista compartilha, com outros
atores, conhecimentos adquiridos ao longo
de 28 anos de atuação do seu
Setor de Operações de Emergência.
“Se as ações de limpeza de
um ambiente atingido por óleo não
forem corretas, podem agravar os efeitos nocivos
ao meio. Este trabalho, pioneiro em nosso
país, reúne subsídios
para atender a gestores ambientais de todo
o Brasil, por abranger os principais ecossistemas
da costa brasileira” destacou Lineu Bassoi,
diretor de Engenharia, Tecnologia e Qualidade
Ambiental.
“A história desse setor é motivo
de orgulho na CETESB, não apenas no
atendimento às emergências, como
nas análises de risco, que contribuíram
para a redução das ocorrências”,
conclui Bassoi, que aproveitou a oportunidade
para agradecer ao secretário de Estado
do Meio Ambiente, José Goldemberg,
a valorização dada ao corpo
técnico, “que pôde ser mais pró-ativo”.
O presidente da CETESB, Otávio Okano,
lembrou que nestes 28 anos o setor atendeu
a mais de seis mil ocorrências. “A qualidade
dos trabalhos levou a OPAS - Organização
Pan-americana de Saúde, a reconhecê-lo
como centro de excelência da CETESB
nesta área de atuação
e esta condição foi renovada
recentemente, indo até 2010”, enfatizou
Okano.
O presidente também agradeceu ao secretário
o estímulo e a confiança nele
depositados e ressaltou o orgulho “em poder
ter trabalhado com um cientista, que deu outro
destino ao meio ambiente no Estado”.
“O fato de a CETESB atender mais de 500 ocorrências
por ano, o que dá mais de uma por dia,
fala por si mesmo.
Nesse ritmo de trabalho, a empresa acumulou
uma experiência extraordinária
e sabemos disso apenas vendo televisão.
Basta ter um acidente com produto tóxico
e lá está a imagem do carro
da CETESB, muitas vezes chegando primeiro
do que o carro dos bombeiros”, comentou por
sua vez Goldemberg. O secretário agradeceu
os elogios afirmando que considerações
técnicas são incontestáveis.
“Não se discute contra os fatos. Posso
argumentar e não sou nenhum leigo,
mas quando sou convencido só posso
acatar o argumento técnico”, ponderou.
“Esse meu comportamento segue uma citação
comum entre os físicos, usada por Galileu
após seu julgamento no tribunal da
inquisição, quando, por questão
de sobrevivência e após ser apresentado
aos instrumentos de tortura, retirou sua afirmação
de que a Terra girava em torno do Sol. Galileu
era uma pessoa muito perspicaz e observou
fatos que hoje vemos todos os dias, por exemplo,
no vácuo uma bolinha de chumbo e uma
pena caem ao mesmo tempo. A frase célebre
murmurada por Galileu ao sair do tribunal
após sua absolvição,
é “Eppur si muove” (mas ela se move).
Portanto, se os técnicos me mostram
uma análise, não adianta eu
mostrar os instrumentos de tortura”, brincou
o secretário.
A apresentação do CD foi feita
pelo biólogo Carlos Ferreira Lopes,
que assina o trabalho juntamente com seus
colegas João Carlos Tavares Milanelli
e Iris Regina Poffo. “Nós não
somos pretensiosos para dizer que este é
um trabalho de três técnicos,
mas sim de uma equipe técnica que teve
envolvimento direto em diversos atendimentos
ao longo destes anos”, iniciou Lopes.
Lopes explicou que a demanda mundial de petróleo
é de 10,8 bilhões de litros
por dia e expôs os vários cenários
em que podem ocorrer acidentes. Começando
pelo ponto de exploração, de
onde o petróleo segue para as refinarias,
por meio de navios petroleiros, depois para
os entrepostos de armazenamento, podendo voltar
ao mar para ser distribuído por navios,
ou seguir por terra em caminhões e
trens.
O técnico considerou o lado benéfico
dos acidentes de grandes proporções:
“Eles provocam comoção social,
mexem com a sociedade, que passa a se preocupar
com a prevenção, geram uma ação
reativa, levando as indústrias a se
prepararem melhor e a legislação
a se tornar mais rígida”. Projeções
indicam que em 1973 foram lançados
nos oceanos, em decorrência de acidentes,
seis milhões de litros de óleo,
em 1981 o volume caiu para 3 milhões
de litros e fechamos os anos 90, com 606 mil
toneladas.
Lopes informou que os aspectos preventivos
e a melhoria dos navios, alguns com casco
duplo, contribuíram para essa redução,
além dos programas de gerenciamento
de risco e a mudança na postura dos
indústrias. “As opções
de limpeza variam conforme o ambiente atingido.
Essas opções foram testadas
por nós em experiências de campo.
Com o tempo, fomos formando massa crítica
e pudemos avaliar as estratégias mais
adequadas para cada situação.
Por exemplo, usar trator para remover óleo
da areia é péssimo.
O melhor é a remoção
com pá e enxada.. O trabalho será
mais demorado, mas o dano ambiental será
menor”, ensina Lopes.
Além do CD, foi produzido um manual
impresso, a ser lançado no início
de 2007.
Texto: Cristina Olivette
Foto: Pedro Calado