27/12/2006
- Uma planta considerada por muitos agricultores
como “praga”, por ser invasora de pastagens,
poderá ajudar na geração
de energia elétrica para comunidades
isoladas da Amazônia. Trata-se do Inajá,
de nome científico Maximiliana maripa,
(Aublet) Drude, uma palmeira da Amazônia,
que terá seu óleo aproveitado
para operação em uma usina de
biocombustível para geração
de energia, que será implantada em
Roraima, em março de 2007.
A usina será implantada
como resultado de uma parceria entre a Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(RR), vinculada ao Ministério da Agricultura,
e o Instituto Militar de Engenharia (IME).
A ação faz parte de um projeto
piloto do IME para geração de
energia com oleaginosas da Amazônia
em comunidades isoladas de fronteira, que
conta com recursos da Financiadora de Estudos
e Projetos (FINEP) e Ministério da
Ciência e Tecnologia (MCT). Inicialmente
a usina vai operar com óleo in natura
de inajá, mas é possível
que se façam testes com óleos
in natura de outras plantas.
A princípio, a produção
prevista para a usina de biocombustível
em Roraima será de quatro mil litros
de óleo refinado, por mês, o
suficiente para atender uma comunidade de
até quarenta famílias. A usina
será instalada no Campo Experimental
Serra da Prata, da Embrapa Roraima, em Mucajaí
(RR).
A usina é composta
por dois módulos. Um serve para extração
de óleo e está sendo fabricado
em São Paulo. O outro módulo,
projetado pelo IME, é para o refino
do óleo e virá do Rio de Janeiro.
Durante os meses de janeiro e fevereiro, serão
encaminhadas as providências para transporte
e montagem da usina que entra em operação
no mês de março, segundo previsão
do IME.
O engenheiro químico
do IME, Luiz Eduardo Pizarro Borges, assessor
do projeto, informou que a usina em Roraima
terá capacidade para até 16
mil litros por mês, mas o alcance desse
potencial vai depender de vários fatores,
como a disponibilidade de matéria-prima
e o envolvimento da comunidade no processo.
“É fundamental o envolvimento da comunidade
para que ela perceba a geração
de energia como possibilidade de geração
de renda”, afirmou Luiz.
Um dos fatores para Roraima
ter sido escolhida para o projeto piloto para
comunidades de fronteira foi, além
da localização geográfica,
a atuação da Embrapa na pesquisa
com oleaginosas potenciais para biocombustíveis.
Dois pesquisadores da Embrapa Roraima trabalham
nessa linha. O pesquisador Oscar José
Smiderle estuda características agronômicas
de plantas oleaginosas com potencial para
biodiesel, enquanto o pesquisador Otoniel
Ribeiro Duarte está concluindo o doutorado
no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
(Inpa) com uma pesquisa sobre o uso agroindustrial
do Inajá. O Inajá é uma
planta que tem suas sementes dispersas por
diversos animais, resiste ao fogo e rebrota
nos locais onde ocorrem queimadas para preparação
de roçados ou plantio de pastos. As
sementes de inajá fornecem alto teor
de óleo. De acordo com os estudos já
realizados, o inajá também apresenta
potencial econômico para fabricação
de ração animal para peixes,
aves e suínos.
PROJETO DE BIOCOMBUSTÍVEL
SERÁ PARA AJUDAR NA GERAÇÃO
DE RENDA
27/12/2006 - A geração
de renda é um dos objetivos pretendidos
pelo projeto de geração de energia
em comunidades isoladas de fronteira. A coordenadora
do projeto, Wilma de Araújo Gonzalez,
química do Instituto Militar de Engenharia
(IME), explicou que o foco do projeto é
contribuir para sustentabilidade de comunidades
isoladas da Amazônia, a partir da geração
de energia elétrica com o biocombustível
como suporte para a geração
de renda. A intenção é
aproveitar matérias primas disponíveis
para a geração de energia usando
o biocombustível e, junto com a organização
da comunidade beneficiada, viabilizar o aproveitamento
dessa oportunidade para melhorar a geração
de renda local.
De acordo com a coordenadora,
a estratégia é aplicar o conhecimento
do IME em biocombustíveis e o conhecimento
instalado na região norte em instituições
como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(Embrapa/RR) e a Fundação Centro
de Análise, Pesquisa e Inovação
Tecnológica (Fucapi), aproveitando
a logística do Exército brasileiro,
por meio do Comando Militar da Amazônia,
para contribuir com o desenvolvimento sustentável.
Experiência nesse
sentido já vem sendo desenvolvida no
Amazonas, em outro projeto que envolve a parceria
IME e Embrapa e utiliza o dendê como
matéria-prima para o biodiesel. Uma
usina de produção de biodiesel
de dendê foi implantada pelo IME e Embrapa
Amazônia Ocidental (Manaus-AM), no campo
experimental Rio Urubu, município de
Rio Preto da Eva (AM). Este é um projeto
piloto para atendimento a comunidades isoladas
e integra o Programa Luz para Todos, do Governo
Federal.
Na usina a ser implantada
em parceria com a Embrapa Roraima, vinculada
ao Ministério da Agricultura, Pecuária
e Abastecimento, para usar o biocombustível
a partir do óleo in natura refinado
das sementes da palmeira de inajá será
necessária a adaptação
do motor do gerador de energia. Isso será
feito com um kit já disponível
no mercado. Nesse processo não será
necessária a adição de
álcool, que representaria um custo
a mais para as comunidades de fronteira, conforme
explicou Wilma.
Essa é uma diferença
em relação ao projeto instalado
no Amazonas, pois para usar o biodiesel do
dendê não há necessidade
de adaptação do motor. Outra
diferença é que o processo de
produção do biodiesel é
mais complexo e inclui o álcool como
insumo. “O IME tem experiência no desenvolvimento
de combustíveis para diferentes processos
e matérias-primas, resultado de pesquisas
durante os últimos vinte anos”, afirmou
Wilma Gonzalez.