24
de Dezembro de 2006 - Alessandra Bastos -
Repórter da Agência Brasil -
Brasília - Enquanto o poder público
ainda se organiza para garantir a conservação
do Aqüífero Guarani (veja reportagem),
as ações descoordenadas de exploração
desse manancial já põem em risco
essa que é uma das maiores reservas
subterrâneas de água doce do
mundo.
A perfuração
doméstica, sem o acompanhamento de
técnicos e geólogos, compromete
a água do aqüífero Guarani,
que já está contaminada em vários
pontos, segundo alerta o coordenador da empresa
Perfuradores, de Santa Catarina, João
Ricardo Machiori.
O técnico explica
que o problema ocorre pela perfuração
feita de forma errada. Ele acredita que o
problema é conseqüência
da desinformação e não
da má intenção. O trabalho
da empresa de Machiori consiste em fazer a
ligação entre o cliente e empresas
de consultores, fornecedores e perfuradores
credenciadas na Associação Brasileira
de Águas Subterrâneas (ABAS)
e no Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura
e Agronomia (Crea).
Machiori diz que já foram detectadas
algumas áreas do Aqüífero
Guarani contaminadas. A contaminação,
segundo ele, ocorre “por perfurações
sem um técnico presente e feitas de
maneira errada”. Ele explica que a orientação
de um geólogo é que determina
os locais corretos e controla a utilização
de produtos biodegradáveis. “É
preciso sempre ter um geólogo credenciado
acompanhando a obra”, afirma.
O Aqüífero Guarani
é o maior reservatório de água
subterrânea do mundo. Ele abrange 1,2
milhão de quilômetros quadrados.
No Brasil, se concentra a maior parte: 840
mil quilômetros quadrados. Em seguida
vêm Argentina (225 mil), Paraguai (71,7
mil) e Uruguai (58,5 mil). No território
nacional, o reservatório está
sob os estados de Mato Grosso do Sul, Rio
Grande do Sul, São Paulo, Paraná,
Goiás, Minas Gerais, Santa Catarina
e Mato Grosso.
Em novembro, durante a 7ª
Reunião do Conselho Superior de Direção
de Projeto Aqüífero Guarani, em
Curitiba, foi anunciada uma campanha que será
feita, ainda este ano, com a criação
de um manual para conscientizar perfuradores
dos perigos da contaminação
da água. Em princípio, a campanha
será feita em universidades e instituições.
“Existem muitas empresas
no Brasil que trabalham sem geólogos
e sem autorização do Crea. Elas
fazem perfurações residenciais,
de quatro a dez metros. Apenas colocam uma
bomba e o usuário residencial pode
utilizá-la", relata o técnico.
"Mas ele não sabe do perigo que
pode encontrar depois por ter perfurado um
poço tão raso para obter água
pra uso residencial”.
Em função
desses riscos, Machiori afirma que uma campanha
feita unicamente em universidades e instituições
técnicas não terá o efeito
de conscientização esperado.
"É preciso que chegue aos perfuradores
domésticos e às empresas não
credenciadas”, diz ele.
Para o coordenador da empresa,
além da campanha, o aumento da fiscalização
poderia inibir o trabalho de empresas que
não estejam devidamente credenciadas
e com concessão para a perfuração.
A outorga de uso é dada pelas secretarias
de Meio Ambiente municipais e estaduais ou
pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente
e dos Recursos Naturais Renováveis
(Ibama).
Segundo o técnico,
um dos perigos da perfuração
caseira sem orientação é
a localização. Fazer a perfuração,
por exemplo, em uma residência próxima
a um posto de gasolina, envolve graves riscos.
“Geralmente há vazamentos dos tanques
de gasolina. Uma fossa tem vazamentos. E,
numa perfuração rasa, há
o risco de a água vir com um alto teor
de ferro e coliformes por causa das fossas
e da tubulação de esgoto.”
Ele conta que a perfuração
caseira é feita por “empresas pequenas,
com máquinas de pequeno porte” ou,
ainda hoje, “o pessoal perfura de forma artesanal,
usando apenas um cano e água. A água
vai desmanchando a terra e empurrando o cano
para baixo. "Fazem por desinformação”,
lamenta ele.