9 de Janeiro
de 2007 - Aline Bravim - Da Agência Brasil
- Brasília - Segundo levantamento preliminar
do Conselho Indigenista Missionário divulgado
semana passada, as terras guarani-kaiowá
do Mato Grosso do Sul têm hoje um índice
de assassinatos que é praticamente o dobro
da média nacional, quase igual ao de capitais
como o Rio de Janeiro e superior ao de São
Paulo. Para o antropólogo Rogério
Páteo, da Universidade de São Paulo,
a causa de tamanha violência é uma
só: o "confinamento" a que os índios
estão submetidos no estado.
“A gente vê uma degradação
muito grande das condições sanitárias
e das possibilidades de sustentação
econômica. Os grupos estão confinados
em terras minúsculas”, diz Páteo,
que, há cinco anos, realizou pesquisa sobre
o aumento da violência após o contato
com os brancos entre os índios Yanomami,
de Roraima.
O pesquisador disse acreditar
que outro complicador para os Guarani-Kaiowá
é o fato de que várias das terras
indígenas do grupo estão localizados
perto das cidades da região de Dourados (MS),
o que propicia contato mais fácil com armas
e bebidas alcoólicas, por exemplo. “É
um cenário extremamente caótico, em
decorrência do contexto onde esses grupos
estão inseridos”, afirma ele.
“A solução começa
em rever essas demarcações minúsculas,
porque não há saída para o
problema com essa população indígena
confinada em áreas onde não há
chance de subsistência”, diz o pesquisador,
sobre as perspectivas para os Guarani de Mato Grosso
do Sul.
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Milícias armadas por fazendeiros
estão assassinando índios Guarani-Kaiowá,
denunciam MPF e Cimi
10 de Janeiro de 2007 - José
Carlos Mattedi - Repórter da Agência
Brasil - Brasília - Milícias armadas
estariam agindo nos municípios da região
sul de Mato Grosso do Sul, a mando de fazendeiros,
para intimidar e expulsar índios Guarani-Kaiowá
de terras reivindicadas por eles. A denúncia
é do Conselho Indigenista Missionário
(Cimi) e do Ministério Público Federal
de Dourados (MS).
Nos últimos anos, os pistoleiros
teriam assassinado vários índios Guarani-Kaiowá.
Os matadores também seriam responsáveis
pelo assassinato da índia Kurutê Lopes,
de 70 anos, com um tiro no peito, na Fazenda Madama,
na noite da última segunda-feira (8).
Segundo o coordenador regional
do Cimi em Mato Grosso do Sul, Egon Heck, as milícias
se identificam como seguranças a serviço
dos fazendeiros. “Os pistoleiros têm agido
com violência e assassinatos, inclusive mataram
o índio Dorvalino, em dezembro de 2005. Eles
são o braço armado dos fazendeiros",
diz ele.
"É importante que
o Ministério da Justiça e a Polícia
Federal averigúem a fundo essa realidade,
para que atos como a morte de Kurutê não
continuem se repetindo”, afirma o indigenista.
O procurador do MPF de Dourados
Charles Pessoa confirma as suspeitas. “Existe. sim,
uma desconfiança de que possa haver grupos
que prestam esse tipo de serviço, e eu acredito
firmemente nessa possibilidade”, diz o procurador.
Ele explica que essa suspeita
se deve aos assassinatos freqüentes de indígenas
na região. “O MPF abriu inquéritos,
mas ainda não deu para amarrar os vários
casos, que comprovariam a ação de
milícias armadas. Mas, estamos aprofundando
as diligências”, completa ele.
O delegado da Polícia Civil
Marcelo Batistela Damasceno, da região entre
Amambai e Coronel Sapucaia, onde foi morta Kurutê,
disse não ter informação a
respeito da suposta atuação de milícias.
“Nunca ouvi dizer”, resumiu.
A Recovê, entidade não
governamental formada por grandes produtores rurais
da região, foi procurada para falar sobre
a denúncia, mas não foi possível
um contato telefônico. Também foram
procurados pela reportagem o Sindicato dos Proprietários
Rurais de Amambai, cujo presidente está em
viagem a São Paulo, e a Federação
da Agricultura e Pecuária do MS, onde a assessoria
alegou que, devido a recesso coletivo na entidade,
não é possível fazer contato
com a diretoria.