11 de
Janeiro de 2007 - Spensy Pimentel - Repórter
da Agência Brasil - Brasília - A Polícia
Federal de Ponta Porã instaurou inquérito
policial nesta quarta-feira (10) para investigar
o assassinato da índia guarani-kaiowá
Zulita Lopes, também conhecida como Kurutê.
Ela foi morta na última segunda-feira, entre
Amambai e Coronel Sapucaia (MS), durante confronto
pela desocupação da fazenda Madama,
denominada pelos índios como tekoha (terra
tradicional) Kurusu Amba.
Durante a desocupação,
pistoleiros também teriam ferido com três
tiros nas pernas o índio Valdeci Gimenez,
28 anos. Não havia mandato de reintegração
de posse. A suspeita do Ministério Público
Federal, segundo informou ontem o procurador Charles
Pessoa, é a de que o grupo armado que atacou
os índios estaria a serviço dos fazendeiros
da região e teria relação com
outras duas mortes recentes de indígenas.
Segundo nota divulgada hoje pela
manhã pela Polícia Federal, "as
primeiras análises indicam que os disparos
ocorreram durante confronto entre índios
e funcionários da fazenda Madama para desocupação
desta". "Uma das vias de acesso à
fazenda estava interditada, mesmo assim foram realizadas
perícias no local, sendo encontrado alguns
rojões usados, cápsulas de munições
deflagradas, arcos, flechas e um galpão incendiado
."
A assessoria da PF informa que
já foram ouvidos funcionários da empresa
de segurança, que declararam ter ouvido o
barulho gerado pelo conflito, sem ter participado
de nada. Segundo o procurador Charles Pessoa, foi
comprovada a participação de funcionários
da mesma empresa em outros dois crimes recentes.
A PF diz já ter ouvido
também representantes dos índios que
ocupavam a fazenda. Segundo o Conselho Indigenista
Missionário, 50 famílias guarani-kaiowá
ocupavam a Madama desde o sábado (8). Outras
11 pessoas ainda devem ser ouvidas pela PF nos próximos
sete dias.
Os índios que ocuparam
a Madama, segundo a PF, procediam da área
indígena Taquaperi, no município de
Amambai. A Taquaperi é uma das oito áreas
indígenas criadas pelo antigo Serviço
de Proteção ao Índio, entre
os anos 20 e 30, próximas às nascentes
cidades do sul de Mato Grosso do Sul. Com a expansão
do agronegócio, nos anos 60 e 70, milhares
de índios Guarani-Kaiowá foram expulsos
das áreas que ocupavam à beira de
córregos da região, nos "fundos
de fazendas", sendo levados para essas áreas,
que ficaram superlotadas.
Desde os anos 80, os Guarani-Kaiowá
tentam retomar as áreas de ocupação
tradicional na região. Com a falta de terras,
pobreza e violência dominaram as comunidades
indígenas. Hoje, os cerca de 35 mil a 40
mil Guarani-Kaiowá de MS, vivendo em cerca
de 50 mil hectares de terra, sofrem com um índice
de assassinatos que é praticamente o dobro
da média brasileira e taxas de suicídios,
principalmente entre os jovens, que estão
entre as mais altas do mundo.
Empregados de empresa de segurança
são suspeitos de matar índia, afirma
procurador
10 de Janeiro de 2007 - José
Carlos Mattedi - Repórter da Agência
Brasil - Brasília - Para o procurador do
Ministério Público Federal (MPF) em
Dourados (MS) Charles Pessoa, existe “forte suspeita”
de que o assassinato da índia guarani-kaiowá
Kurutê Lopes, 70 anos, na noite de segunda-feira
(8), tenha sido cometido por funcionários
de uma empresa de segurança que trabalha
para os proprietários da Fazenda Madama,
onde ocorreu o crime.
“É forte a suspeita. Na
noite do crime, havia cinco funcionários
da empresa no local, que cuida da segurança
da fazenda. É o terceiro caso de assassinato
envolvendo essa empresa com conflitos indígenas",
diz ele. "Nos dois primeiros, foi comprovada
a participação dos seguranças.
É possível, então, que tenham
participado do crime, pois tomavam conta da sede
da fazenda nesse dia.”
Os seguranças da empresa
são acusados também das mortes dos
índios Dorvalino Rocha, ocorrida em Nhanderu
Marangatu, em dezembro de 2005, e de Dorival Benitez,
em junho de 2006.
A Polícia Federal de Ponta
Porã (MS) intimou três empregados dessa
empresa a prestar depoimento na próxima sexta-feira
(12). O delegado Alexandre Fresneda de Almeida foi
designado para acompanhar o caso. O inquérito
foi aberto para apurar a morte e as lesões
corporais nos indígenas que foram expulsos
da fazenda “por jagunços e seguranças”.
Não havia mandado judicial de reintegração
de posse.
No último sábado
(6), 50 famílias guarani-kaiowá invadiram
a fazenda na tentativa de retomar a área,
que consideram de ocupação tradicional,
chamando-a de Kurusu Amba. Dois dias depois, pistoleiros
atacaram a tiros o grupo. Foi quando ocorreu a morte
de Kurutê e o ferimento do índio Valdeci
Gimenez, com três tiros nas pernas. Na ocasião
também foram presos quatro indígenas
pela Polícia Civil, sob a alegação
de roubo de uma carreta.
Segundo o coordenador regional
do Conselho Indigenista Missionário (Cimi),
Egon Heck, há um clima de tensão e
indignação por parte dos índios
desde a “brutalidade” da última segunda-feira.
“Eles temem pela violência que os fazendeiros
e seus braços armados impõem à
região. As milícias têm agido
contra os índios, que estão buscando
um direito pela posse de sua terra tradicional.”
Para Heck, três questões
são fundamentais hoje para o povo indígena
da região: a apuração rigorosa
e a punição dos responsáveis
pelo assassinato; que seja garantido aos índios
o direito de sepultarem Kurutê em Kurusu Amba,
onde ocorreu o assassinato; que o governo cumpra
sua “obrigação constitucional” e busque
agilizar o processo de reconhecimento e demarcação
da terra indígena. “Só mediante essas
ações começaremos a restabelecer
a justiça e a tranqüilidade nessa área”,
diz Heck.
Guarani-Kaiowá protestam
em rodovia do Mato Grosso do Sul por enterro de
índia assassinada
11 de Janeiro de 2007 - Grazielle
Machado - Da Agência Brasil - Brasília
- Índios guarani-kaiowá da comunidade
Taquaperi fizeram um protesto hoje na rodovia MS-389,
que liga os municípios de Amambaí
e Coronel Sapucaia, no sudoeste do Mato Grosso do
Sul. Eles reivindicam o direito de enterrar a índia
Zulita Lopes, de 70 anos, na terra onde ela foi
morta, no interior da fazenda Madama.
O assassinato de Zulita, também
conhecida como Kurutê, ocorreu na última
segunda-feira (8). Um grupo armado obrigou os índios
a desocupar a fazenda, onde 50 famílias haviam
entrado no sábado (6). Um outro índio
foi ferido com três tiros na perna. A terra
da fazenda Madama é denominada pelos índios
de tekoha (terra tradicional) Kurusu Amba.
A kaiowá Valdelice Veron,
uma das organizadoras do protesto e integrante da
Comissão de Direitos Indígenas do
Mato Grosso do Sul, disse, por telefone, à
Agência Brasil, que, mesmo com medo de que
haja mais um confronto armado durante o enterro,
os índios não abrem mão do
ritual. “Nós vamos fazer o enterro na fazenda,
com ou sem autorização da Justiça.
Estamos esperando pela Justiça, mas vamos
fazer o enterro”, disse.
Valdelice é filha de um
outro kaiowá morto, o líder Marcos
Verón, assassinado em 2003 por seguranças
de uma fazenda em Juti (MS). Ela afirma que mais
de 2.600 índios já estão no
local do protesto e responsabiliza os fazendeiros
da região pelo assassinato. “Os mandantes
foram os administradores da fazenda. Porque eles
queriam expulsar os índios.”
Para realizar o enterro, os índios
ainda aguardam pela autorização da
Justiça, solicitada pelo Ministério
Público Federal (MPF) de Dourados.
Comunidade guarani-kaiowá
quer sepultar índia assassinada em terra
reivindicada
10 de Janeiro de 2007 - José
Carlos Mattedi - Repórter da Agência
Brasil - Brasília - O sepultamento da índia
guarani-kaiowá Kurutê Lopes, 70 anos,
assassinada na noite de segunda-feira (8) por pistoleiros,
pode ocorrer hoje (10) à tarde ou amanhã
cedo no próprio local onde ocorreu o crime,
na Fazenda Madama, localizada entre os municípios
de Amambai e Coronel Sapucaia, no sudoeste do Mato
Grosso do Sul.
A decisão foi tomada pela
comunidade indígena da região, que,
para realizar o velório, aguarda a confirmação
do Ministério Público Federal (MPF)
da cidade de Dourados de que não haverá
conflitos com os fazendeiros.
O local escolhido para o sepultamento
é considerado um tekoha (terra de ocupação
tradicional dos Kaiowá), chamada pelos índios
de Kurusu Amba. No último sábado (6),
50 famílias guarani-kaiowá ocuparam
a fazenda. Dois dias depois, pistoleiros atacaram
a tiros o grupo, e ocorreu a morte de Kurutê.
O índio Valdeci Gimenez, 28 anos, também
foi ferido com três tiros nas pernas (não
corre risco de morte). Quatro indígenas também
foram presos pela Polícia Civil, sob a alegação
de roubo de uma carreta - entre eles, Francisco
Fernandes, 38 anos, líder dos Kaiowá.
As informações são
do coordenador regional do Conselho Indigenista
Missionário (Cimi), o missionário
Egon Heck. Segundo ele, a comunidade indígena
solicitou a ajuda do MPF, por meio do procurador
da República Charles Pessoa. O objetivo é
evitar “uma reação de fazendeiros
e das milícias que atuam na região
a mando dos latifundiários”, garantindo tranqüilidade
ao velório.
Segundo o delegado da Polícia
Civil da região de Coronel Sapucaia e Amambai
Marcelo Batistela Damasceno, não houve mais
presos além dos quatro indígenas.
“Os índios foram presos após roubarem
uma carreta, e estão à disposição
da Justiça. Quanto à morte da índia,
o caso está com a Polícia Federal,
pois é competência dela”, resume o
delegado.
Heck alega que os índios
utilizaram o caminhão para pedir ajuda a
seus “irmãos de aldeias vizinhas”, não
se tratando de um furto. “Era uma busca desesperada,
frente a uma agressão sofrida”, disse ele.
A atuação da Polícia Civil
no caso, de acordo com o missionário, é
"sempre a mesma", com os matadores ficando
livres e os índios indo parar atrás
das grades. “É mais uma ação
política do que uma ação legal”,
diz ele.
Segundo o escritório regional
do Cimi, já existe um estudo preliminar sobre
a terra reivindicada pelos Guarani-Kaiowá,
feito por antropólogos da Fundação
Nacional do Índio (Funai), que indicariam
ser a área em litígio pertencer à
comunidade indígena. Os conflitos pela terra
na região remontam aos anos 80.
Cerca de 35 mil a 40 mil Guarani-Kaiowá
vivem em Mato Grosso do Sul. Eles habitam cerca
de 30 áreas indígenas, que têm
ao todo cerca de 50 mil hectares. A maior parte
dessa população vive em áreas
superlotadas, demarcadas pelo antigo Serviço
de Proteção ao Índio (SPI)
nos anos 20. Ao lado das cidades de Dourados e Amambai
ficam as áreas indígenas mais populosas
e problemáticas.
Durante os anos 60 e 70, com a
expansão do agronegócio na região
sul de MS, milhares de índios foram expulsos
de suas terras originais, à beira de córregos
da região, e levados para essas áreas
já demarcadas. Depois dessas transferências
forçadas, aumentaram os índices de
violência e pobreza entre os índios,
e surgiu o movimento pela retomada das terras. Os
conflitos com fazendeiros levaram à morte
de líderes como Marçal de Souza (1983)
e Marcos Verón (2003).
Sepultamento de índia assassinada
em terra reivindicada só deve acontecer amanhã,
diz procurador
10 de Janeiro de 2007 - José
Carlos Mattedi - Repórter da Agência
Brasil - Brasília - O sepultamento da índia
guarani-kaiowá Kurutê Lopes, 70 anos,
assassinada na noite de segunda-feira (8) por pistoleiros
na Fazenda Madama, localizada entre os municípios
de Amambaí e Coronel Sapucaia, no sudoeste
do Mato Grosso do Sul, só deve ocorrer no
final da tarde de amanhã (11).
A comunidade indígena da
região quer realizar o sepultamento no próprio
local onde ocorreu o crime, considerado um tekoha
(terra de ocupação tradicional dos
Kaiowá) e chamada pelos índios de
Kurusu Amba.
Para realizar o velório,
a comunidade entrou na manhã de hoje (10)
com um pedido no Ministério Público
Federal (MPF) de Dourados, para evitar conflitos
com fazendeiros. O procurador Charles Pessoa informou,
agora à tarde, que está preparando
um pedido de tutela antecipada à Justiça
Federal para que o sepultamento ocorra na Fazenda
Madama. A petição será entregue
amanhã cedo na cidade de Ponta Porá
(MS).
Ele acredita que a Justiça
deve atender à solicitação,
pois há um precedente ocorrido em 2003, quando
do assassinato do líder kaiowá Marcos
Verón, sepultado no tekoha Takuara, na fazenda
onde ele foi executado. “Há semelhança
na situação. Por isso acho possível
conseguir uma tutela antecipada”, assinalou Pessoa.
O corpo de Kurutê está
numa aldeia próxima à Madama, aguardando
a decisão da Justiça.
No último sábado (6), 50 famílias
guarani-kaiowá ocuparam a Fazenda Madama.
Dois dias depois, pistoleiros atacaram a tiros o
grupo, e ocorreu a morte de Kurutê. Na ocasião,
saiu ainda ferido o índio Valdeci Gimenez,
28 anos, com três tiros nas pernas. Quatro
indígenas também foram presos pela
Polícia Civil, sob a alegação
de roubo de uma carreta - entre eles, o líder
Francisco Fernandes, 38 anos.
Índios protestam contra
proibição judicial para sepultamento
em terra reivindicada
12 de Janeiro de 2007 - José
Carlos Mattedi - Repórter da Agência
Brasil - Brasília - No final da manhã
de hoje (12), indígenas, estudantes e militantes
dos direitos humanos reuniram-se em frente ao prédio
do Ministério Público Federal (MPF),
na cidade de Dourados (MS).
Eles fizeram um protesto contra
a decisão da Justiça Federal de Ponta
Porã (MS) de indeferir, na noite de ontem,
o pedido de liminar para a realização
do sepultamento da índia Kurutê Lopes,
70 anos, na Fazenda Madama, terra cuja titularidade
está sendo reivindicada pelos Guarani-Kaiowá.
De acordo com a assessoria do
Ministério Público Federal, o procurador
da República Charles Pessoa conversou com
os manifestantes em Dourados.
Pessoa deve entrar ainda hoje
com um recurso junto ao Tribunal Regional Federal
(TRF) da 3ª Região, em São Paulo,
para reverter a decisão da Justiça
Federal de Ponta Porã. O TRF deve se pronunciar
nas próximas horas ou até mesmo na
manhã de sábado.
Na noite da última segunda-feira,
Kurutê foi assassinada por pistoleiros que
tentavam expulsavar famílias indígenas
da propriedade. Os Guarani-Kaiowá realizam
o velório às margens da estrada que
liga as cidades de Amambaí e Coronel Sapucaia,
na localidade de Taquaperi.
“O corpo está em processo
de decomposição e sendo velado pela
comunidade. A Justiça não pode negar
esse direito ao povo indígena”, disse o coordenador
regional do Conselho Indigenista Missionário
(Cimi) do Mato Grosso do Sul, missionário
Egon Heck. “Apesar das mortes constantes de indígenas
na região, eles não vão esmorecer
na luta.”
O local escolhido para o sepultamento
é considerado um tekoha (terra de ocupação
tradicional dos Kaiowá), chamado pelos índios
de Kurusu Amba. No último sábado (6),
50 famílias guarani-kaiowá ocuparam
a Fazenda Madama. Dois dias depois, pistoleiros
atacaram a tiros o grupo, quando ocorreu a morte
de Kurutê.
O índio Valdeci Gimenez,
28 anos, também foi ferido com três
tiros nas pernas. Quatro índios também
foram presos pela Polícia Civil, sob a alegação
de roubo de uma carreta - entre eles, Francisco
Fernandes, 38 anos, líder dos Kaiowá.
Kurutê, segundo o Cimi,
era “rezadeira”. Ela teria nascido na área
onde hoje é a Fazenda Madama. No local, também
foram enterrados seus antepassados.
A Polícia Federal abriu
inquérito para investigar o assassinato e
descobrir os autores da expulsão dos indígenas
da terra ocupada. Três pessoas foram intimadas
a depor nesta sexta-feira. Há fortes suspeitas
de que os criminosos faziam a segurança da
sede da fazenda.