17-01-2007
- São Paulo - Conforme se aproxima
o dia da reunião do Conselho Nacional
de Política Energética (CNPE)
– 30 de janeiro -, aumenta a nossa expectativa
sobre a decisão que o órgão
vai tomar em relação à
retomada das obras da usina nuclear Angra
3.
O Greenpeace considera equivocado
e contraproducente investir mais de R$ 7 bilhões
num projeto que vai na contra-mão do
que o mundo desenvolvido busca para suprir
as necessidades energéticas de suas
população.
Nossos argumentos contra
Angra 3 foram elencados no artigo publicado
nesta quarta-feira (dia 17) no jornal carioca
O Globo, que por sua vez defendeu a construção
da usina em editorial.
Confira a seguir os dois
textos. Primeiro, a nossa opinião:
Equívoco Atômico
As justificativas do governo
Lula para renovar o flerte com o programa
atômico são as de sempre: a necessidade
de capacitar o país em ciência
e tecnologia e a sedução belicosa
de que somente países que têm
armas nucleares contam no jogo das grandes
nações, com o reforço
recente da falácia de que usinas nucleares
minimizam os efeitos do aquecimento global.
Entre as décadas
de 1930 e 1960, a política de ciência
e tecnologia era amarrada à pesquisa
sobre energia nuclear. Capitaneada pelo almirante
Álvaro Alberto, esta fase gerou frutos
duradouros, como o CNPq. Mas hoje respiramos
outros ares. Temos 25 núcleos de excelência
científica em 11 áreas e mais
de 60 mil cientistas e engenheiros de alto
nível. Não construir Angra 3
não impedirá que tenhamos métodos
sofisticados para fazer exames de tireóide,
por exemplo.
A defesa das usinas sempre
serviu de fachada para encobrir a fabricação
e o uso militar de armas atômicas. É
bom lembrar o físico Roberto Oppenheimer:
“Quem disser que existe uma energia atômica
para a paz e outra para a guerra está
mentindo.” Basicamente, o reator que produz
energia é o mesmo que pode produzir
a bomba. Desmontar o argumento de que a energia
nuclear é solução para
o efeito estufa também não é
mistério. Segundo José Goldemberg,
professor da USP, 3 mil reatores nucleares
não bastariam para minimizar os impactos
das mudanças climáticas.
É um desperdício
investir R$ 7 bilhões em Angra 3, que
não eliminará riscos de apagões.
Serão necessários pelo menos
seis anos para a conclusão da obra,
gerando apenas 1.350 MW. Com cerca de 12%
do investimento, o Programa Nacional de Conservação
de Energia Elétrica conseguiu economizar
o equivalente a uma usina nuclear de 5.124
MW. Vale lembrar ainda que a energia nuclear
ao redor do mundo está em declínio.
Em 2006, oito reatores na União Européia
foram desligados e nenhum entrou em operação.
Dada a abundância
de alternativas limpas e renováveis
para o desenvolvimento do país, oxalá
possa o governo Lula iniciar seu segundo mandato
enterrando de vez este dinossauro radioativo.
(assinam o artigo do Greenpeace:
Frank Guggenheim, diretor-executivo do Greenpeace
Brasil, e Rebeca Lerer, coordenadora da campanha
de Energia/Clima)
A opinião do jornal
O Globo:
Em Boa Hora
Ainda este mês, no
dia 30, o Conselho Nacional de Política
Energética deverá se reunir
tendo em pauta a retomada das obras da usina
nuclear Angra 3. Embora os estudos técnicos
indiquem que há economicidade na conclusão
dessa usina, a decisão foi sendo postergada
nos últimos anos seja por motivos políticos
– o receio do governo de desagradar a grupos
de pressões nacionais e no exterior
que fazem campanhas permanentes contra o uso
da energia nuclear, mesmo que para fins exclusivamente
pacíficos – ou por questões
financeiras, pois o setor é monopólio
da União.
No entanto, a partir do
racionamento de 2001/2002, ficou evidente
para todos que o Brasil precisa ampliar seus
parques de usinas térmicas para geração
de eletricidade, a fim de evitar o esvaziamento
de reservatórios de hidrelétricas
nos períodos de pouca chuva. A opção
do uso do gás nas termelétricas
simplesmente não se mostrou viável
por escassez de oferta do combustível.
E a queima de óleo seria desastroso,
tanto pelo custo como pelo impacto ambiental
negativo em um momento que o mundo começa
a se preocupar seriamente com as emissões
de gases poluentes causadores do efeito estufa.
Em face da falta de alternativa
e do avanço da tecnologia nuclear,
especialmente no que se refere à segurança
das usinas, grupos ambientalistas começaram
a rever sua posição crítica
e hoje encaram a geração de
energia de origem termonuclear como uma opção
válida.
No caso do Brasil, trata-se
de uma opção racional. Duas
usinas estão em pleno funcionamento
junto aos principais centros de consumo do
país, sendo que Angra 3 será
uma cópia melhorada da última
delas (Angra 2), que tem batido seguidos recordes
operacionais e é usada como uma das
referências da indústria. Em
decorrência do antigo acordo com a Alemanha,
o Brasil tem equipamentos estocados para conclusão
da usina e ainda domina, em grande parte,
a tecnologia para sua construção.
Não faze-la seria uma sandice.