02/02/2007 - Rubens Júnior - A ministra
do Meio Ambiente, Marina Silva, disse hoje
que o Brasil e o mundo estão "no
começo" da batalha contra o aquecimento
global, uma luta que deve unir esforços
de governos, de empresas, de instituições
científicas, de ongs, de cada cidadão
com a máxima urgência, em busca
de alternativas de produção
de combustíveis limpos e de procedimentos
conscientes. "Todos podemos fazer algo.
No Brasil, temos dado curso a várias
alternativas de substituição
de combustíveis fósseis, como,
por exemplo, o etanol. Mas precisamos aprofundar
essa busca por soluções",
disse a ministra. No Brasil, além da
mistura de 23% de etanol na gasolina, os veículos
flex-fuel (gasolina-álcool), cujas
vendas ultrapassaram 2 milhões de unidades,
aumentaram ainda mais a substituição
de combustíveis fósseis por
renováveis.
"Contribuiu também fortemente
para a redução de emissões,
entre outras medidas e ações,
a queda de 52% na taxa do desmatamento na
Amazônia nos últimos dois anos,
impedindo a emissão de 430 milhões
de toneladas de CO2", acrescentou Marina
Silva. A ministra fez o comentário
em reação à divulgação
nesta sexta-feira, em Paris, de relatório
parcial do Painel Intergovernamental sobre
Mudança Climática (IPCC) sobre
o aquecimento global.
Segundo o relatório, a emissão
de gás carbônico (CO2) na atmosfera,
principal responsável pelo efeito estufa,
saltou de 23,3 bilhões de toneladas
em 11000 para emissões anuais de 26,4
bilhões de 2002 a 2005. O documento
pede providências urgentes dos governos
para impedir o avanço do problema,
que, em cem anos, pode ser fatal para a humanidade.
"O aquecimento traz conseqüências
nocivas para a agricultura, os ecossistemas,
sobretudo num país cuja matriz energética
depende fortemente de hidrelétricas,
que dependem de água. O Brasil, que
tem geração elétrica
majoritariamente baseada em fonte hídrica,
pode ter problemas também nas florestas,
nas zonas costeiras, nos assentamentos humanos,
nos sistemas energéticos e industriais,
com reflexos na saúde humana. São
questões de ordem econômica,
social, ambiental, que afetam principalmente
as populações mais pobres",
disse a ministra.
O relatório reafirma a gravidade do
problema, considerado-o a maior ameaça
à sobrevivência do planeta, e
pede ações governamentais mais
incisivas do que aquelas que vêm sendo
discutidas na Convenção sobre
Mudança do Clima. O estudo prevê
um cenário de catástrofe se
medidas urgentes não forem adotadas.
Criado em 1988, o IPCC é assessorado
por cerca de 2 mil cientistas. Foram eles
quem fundamentaram o estudo divulgado hoje
na capital francesa.
Problemas - As principais conclusões
do relatório dão conta de que:
1) a atmosfera do planeta continua aquecendo
(projeções indicam aumento entre
1,9ºC e 4,6 ºC neste século);
2) as emissões de gás carbônico
(CO2), pela queima de combustíveis
fósseis, continua aumentando no globo
(eram de 23,5 bilhões de toneladas/ano
em 11000, mas subiram para 26.4 bilhões
de toneladas/ano durante o período
2000 a 2005 - ou seja, mais de 100 bilhões
de toneladas do gás ao longo do quadriênio;
3) eventos extremos, como secas e ondas de
calor, podem ser intensificados; 4) o nível
do mar poderá se elevar entre 28 e
43 centímetros, neste século.
O governo brasileiro acredita que as soluções
energéticas que produz, como a extraída
da cana-de-açúcar, pode ter
papel importante na mudança da matriz
energética mundial em direção
às alternativas aos combustíveis
fósseis (carvão mineral, petróleo
e gás natural). Embora não tenha
obrigações quantificadas de
redução de emissões de
gases de efeito estufa, o Brasil tem executado
várias ações para a efetiva
redução dessas emissões.
O País possui 45% de sua matriz energética
renovável, ou seja, não-poluente.
Por exemplo, 80% da principal fonte energética
consumida no País (a energia elétrica)
é gerada a partir de hidrelétricas.
Além dessa matriz tradicional, porém
limpa, o Brasil vem dedicando-se a produção
de energia a partir de fontes alternativas
renováveis. "Os países
desenvolvidos destruíram suas florestas
é aumentaram a poluição,
provando a importância de combinar desenvolvimento
com proteção ambienta, como
temos procurado fazer no Brasil", disse
a ministra. "Os países não
podem empurrar responsabilidades uns aos outros.
É hora de solidariedade, de vencer
o desafio do desenvolvimento sustentável",
disse Marina Silva.
O Programa Nacional de Biodiesel vem reduzindo
as emissões do CO2, contribuindo para
minimizar o aquecimento no mundo, pela exportação
de etanol e biodiesel, inclusive para os países
desenvolvidos (maiores poluidores históricos)
como substitutos de combustíveis fósseis.
Como benefício extra, o Programa de
Biodiesel possibilita ao País aproveitar
o bagaço da cana para aumentar sua
participação em projetos de
Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) -
muitas usinas brasileiras de açúcar
e de álcool já produzem eletricidade
com baixas emissões a partir do bagaço
da cana.
Dos 205 projetos brasileiros de MDL em validação
e aprovação pela Comissão
Interministerial de Mudança Global
do Clima, 67 referem-se a projetos de co-geração
a partir da biomassa. Só com os projetos
de MDL o Brasil evitou a emissão de
cerca de 25 milhões de toneladas de
dióxido de carbono nos últimos
sete anos. O índice brasileiro de redução
de emissões de CO2 é maior do
que na média dos países. O País
ocupa a terceira posição mundial
no desenvolvimento de projetos daquele tipo.
Contribuíram ainda para a redução
de emissões o Programa de Incentivo
às Fontes Alternativas de Energia Elétrica
(Proinfa), que estabelece a contratação
de 3.300 MW de energia produzidos por três
fontes renováveis (eólica, biomassa
e pequenas centrais hidrelétricas).
O potencial de redução anual
das emissões associado ao Programa
gira em torno de 2,9 milhões de toneladas
de CO2. Colaborou ainda com a queda nas emissões
a redução em mais de 50% do
desmatamento, verificada na Amazônia,
nos dois últimos anos, evitando a emissão
de aproximadamente 430 milhões de toneladas
de gás carbônico.
O relatório divulgado em Paris mostra
que a população mundial precisa
mudar seu modo de vida e adotar, individual
e coletivamente, atitudes "limpas",
aprendendo formas de combinar crescimento
econômico com preservação
ambiental. Até agora, segundo o estudo,
os governos não se mostraram à
altura desse desafio. O Brasil reafirma seu
compromisso de atuar, junto à Convenção
sobre Mudança do Clima, para que sejam
adotadas medidas com toda a urgência
que o problema requer. "A opinião
pública internacional está se
mobilizando. Vários estados dos EUA,
por exemplo, assumiram recentemente o compromisso
de reduzir as emissões", disse
a ministra.
Além dos esforços que já
desenvolve, o governo brasileiro tem buscado
propagar soluções nas negociações
internacionais da Convenção
sobre Mudanças Climáticas. Na
última Conferência das Partes,
em 2006, em Nairobi, o Brasil, a partir de
sua experiência, apresentou proposta
de incentivo aos países em desenvolvimento
para auxiliá-los a reduzir ainda mais
suas emissões de gases de efeito estufa
por meio da redução do desmatamento.
Foto: MMA