4
de Fevereiro de 2007 - Marcela Rebelo - Repórter
da Agência Brasil - Brasília
- A catadora de papel Daiane da Silva, de
19 anos, em entrevista à Agência
Brasil sobre o aquecimento global.
Brasília - Daiane da Silva tem 19 anos.
É catadora de papel. Na base da pirâmide
da exclusão social brasileira, ela
contribui diariamente para minimizar o impacto
do consumo inconseqüente sobre o meio
ambiente. Mas não sabe disso. Nem se
preocupa. Para ela, a notícia de que
a terra pode vir a ficar, em média,
até 4 graus mais quente daqui ao ano
de 2100 significa pouco ou quase nada.
O que incomoda Daiane é
perder o acesso aos restos que garantem o
alimento dela e dos filhos. "É
muito importante", diz, sobre a reciclagem
de papel e alumínio. "Porque se
não tiver lixo para a gente reciclar,
como vamos dar comida aos filhos? A gente
morre de fome".
Daiane mora em um barraco,
numa invasão, em frente ao prédio
da Procuradoria Geral da República
(PGR), a cerca de um quilômetro do Palácio
do Planalto e da entrada da Esplanada dos
Ministérios.
Com a divulgação
do relatório do Painel Intergovernamental
de Mudanças Climáticas, das
Nações Unidas, a discussão
sobre o aquecimento global ganhou as manchetes
de todos os veículos de comunicação
do planeta. E o debate sobre o que fazer para
preservar o meio ambiente trouxe de volta
os argumentos em defesa da ação
individual.
Em entrevistas na sexta-feira
(4), no entanto, a ministra do Meio Ambiente,
Marina Silva, e o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva cobraram alterações
na concepção de desenvolvimento.
Seria isso, segundo eles, o que impediria
o avanço da barbárie ambiental
que pode resultar em catástrofes naturais,
como aumento de tempestades e chuvas fortes.
De acordo com o pesquisador
Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas
Especiais (Inpe), o aquecimento global é
um problema para a atual geração.
Mesmo assim, na opinião do pesquisador,
o nível de consciência ambiental
da população ainda está
em construção.
"O que me preocupa
é o nosso sofrimento aqui. Porque,
quente ou não, o que importa é
a gente ter um lugar para morar, trabalhar,
ter uma vida digna", afirma Daiane. "A
chuva só é ruim mesmo porque
a gente mora em um barraco e quando chove
a enxurrada vem e molha tudo. Mas sol é
bom", completou.
Jonas do Nascimento, 32
anos, pai de 8 filhos, é catador de
latas. É um dos inúmeros anônimos
que diariamente contribuem para que o Brasil
seja uma potência mundial na reciclagem
de alumínio. No que se refere à
ação individual, faz a sua parte,
sem jamais ter ouvido falar em aquecimento
global ou efeito estufa.
As latas, ele cata para
poder comprar arroz e feijão. Recebe
R$ 2 pelo quilo do alumínio. Confrontado
com a informação de que o aquecimento
global é uma realidade, Nascimento
demonstra preocupação. "Vai
ser pior. Já não está
prestando. E aparece um negócio desse
aí, acaba tudo".
Participação
social pode ajudar a reduzir desperdício
de energia, diz diretor da Eletrobrás
3 de Fevereiro de 2007 -
Alana Gandra - Repórter da Agência
Brasil - Rio de Janeiro - O chefe da Divisão
de Planejamento e Conservação
de Energia da Eletrobrás, Hamilton
Pollis, acredita que o apagão energético
de 2001 tornou os brasileiros mais conscientes
do uso responsável da energia. Em sua
avaliação, o que falta ao consumidor
são "elementos para melhorar essa
performance".
Para garantir esse salto,
Pollis sugere que os consumidores procurem
produtos com o selo do Programa Nacional de
Conservação de Energia (Procel).
“Procurar usar equipamentos eficientes, procurar
os equipamentos que tenham o Selo do Procel,
procurar adotar também hábitos
eficientes. Não basta dizer que vou
apagar minha luz por cinco minutos”.
Pollis defende que "se
todos derem uma pequenina contribuição,
o resultado é muito grande". Na
avaliação dele, cobra-se muito
dos governos, mas as pessoas, individualmente,
não realizam o que podem. "Então,
acho que existem muitas coisas que hoje qualquer
cidadão que quiser contribuir para
a causa do meio ambiente pode fazer, sem precisar
do governo para tomar qualquer iniciativa”,
argumentou.
Nesse sentido, Hamilton
Pollis lembrou que eletrodomésticos
eficientes, como geladeiras, aparelhos de
ar condicionado, lâmpadas e até
fogões, na área do gás,
que tenham o Selo do Procel, do governo federal,
gerido pela Eletrobrás, devem ser buscados
pelos consumidores.