22/02/2007
- Rafael Imolene - Um relatório do
governo brasileiro sobre desertificação
deverá servir de modelo para outros
países adotarem ações
no combate a esse fenômeno que provoca
miséria e distúrbios climáticos,
como a falta de água e o aquecimento
global. Trate-se do Relatório de Implementação
de Combate à Desertificação,
documento elaborado durante três anos
sob coordenação do Ministério
do Meio Ambiente. Sua apresentação
oficial ocorrerá em Buenos Aires, no
mês de março, durante a 5ª
Sessão do Cric (Comitê de Revisão
da Implementação da Convenção
das Nações Unidas de Combate
à Desertificação).
Segundo o coordenador-técnico
do Programa de Combate à Desertificação
do MMA, José Roberto Lima, o relatório
brasileiro é inovador por reunir estratégias
do governo federal, de estados e da sociedade
civil de uma forma inédita entre os
países signatários da convenção.
"O Brasil está realmente envolvido
com o tema. O relatório não
é meramente técnico, é
um compromisso nacional que une o poder público
e toda a sociedade", diz José
Roberto.
Um dos consultores do relatório,
Silvio Santana, da Fundação
Grupo Esquel Brasil, afirma que a política
social do atual governo coincide com as metas
de combate à desertificação,
como, por exemplo, redução da
pobreza, da fome e da desigualdade social,
além de manter as populações
em seus locais de origem. "O programa
do governo Lula coincide quase literalmente
com o texto da convenção",
diz.
De acordo com Silvio Santana,
os esforços pela elaboração
do relatório reuniu ministérios,
governos estaduais, organizações
não-governamentais, universidades e
empresas. "Não adianta trabalhar
de forma setorizada. Precisa haver uma plataforma
de integração entre o governo
e a sociedade. Somente o Grupo de Trabalho
da Articulação do Semi-árido
possui mais de mil entidades, inclusive igrejas
e sindicatos", afirma. "Nenhum outro
país constituiu um grupo de trabalho
parlamentar de combate à desertificação.
O Brasil está dando um exemplo",
acrescenta Silvio Santana.
No Brasil, as áreas
suscetíveis à desertificação
abrangem 1.488 municípios dos nove
estados do Nordeste. Também foram incluídos
nesta classificação cidades
do norte de Minas Gerais e noroeste do Espírito
Santo. No total, ocupam uma área de
1.338.076 quilômetros quadrados, equivalentes
a 15,7% do território nacional, onde
vivem 32 milhões de pessoas, ou 18,6%
da população brasileira. Metade
desses municípios detêm os piores
índices de desenvolvimento humano do
País.
No mundo, as regiões
áridas, semi-áridas e subúmidas
secas representam quase um terço da
superfície terrestre, abrigam mais
de 1 bilhão de seres humanos e são
responsáveis por 22% da produção
mundial de alimentos. A ampliação
dessas áreas, tanto no Brasil quanto
no resto do planeta, é conseqüência
do aquecimento global e da exploração
inadequada dos recursos naturais, entre outros
motivos. O resultado são eventos climáticos
extremos mais freqüentes, como inundações,
ondas de calor, menor volume de chuva em regiões
secas e incidência de furacões,
tufões e ciclones.