16 de fevereiro - Durante sobrevôo
de fiscalização da região
amazônica na fronteira com o Peru, no
norte do estado do Acre, em operação
conjunta entre Funai, Ibama e Polícia
Federal, na quinta-feira (15), foram vistas
algumas aldeias, roças e acampamentos
de caça de grupos indígenas
autônomos. Possivelmente pertencente
ao grupo lingüístico pano, em
razão dos itens plantados em sua agricultura,
os pontos geográficos são mantidos
em sigilo para impedir ameaças aos
índios. “Tratando-se de índios
isolados, nunca podemos afirmar quem eles
são. Temos alguns indicativos. Mas
o importante não é saber quem
são eles, a qual grupo pertencem, e
sim protegê-los, garantir o seu território
e deixar que vivam do jeito que quiserem,
como nações autônomas”,
disse o sertanista José Carlos dos
Reis Meirelles Júnior, chefe da Frente
de Proteção Etnoambiental Envira,
da Funai.
A área possui mata intacta, e não
foi ocupada durante o período da seringa
na região. Como é uma área
de difícil acesso, foi possível
que os índios sobrevivessem às
“correrias”, como eram chamadas as caçadas
aos índios que ocorreram até
os anos 1970. No entanto, com a recente exploração
madeireira no lado peruano, tem tido início
um deslocamento forçado de grupos indígenas
autônomos pela região, o que
pode gerar conflitos com grupos indígenas
contatados que vivem no Brasil, assim como
entre os próprios índios autônomos.
“Temos notado um aumento da concentração
de índios isolados nas cabeceiras do
Envira. Tem alguns grupos nômades que
sempre passavam por aqui, a cada dois, três
anos, mas a gente tem percebido que eles estão
voltando cada vez mais rápido, e indo
cada vez mais longe no território de
outros grupos indígenas”, afirma Meirelles.
A aldeia que foi sobrevoada pode ser pano,
da família Jaminawa. De acordo com
Meirelles, há menos de dez anos foi
contatado um grupo Jaminawa, no lado peruano,
por missionários americanos. Os Jaminawa
foi um dos últimos grupos a ser contatado
no Acre, a ter sido caçado e encurralado
nas “correrias”. Ao lado da cidade de Feijó,
às margens do rio Envira, há
uma aldeia Shanenawa. Nela, vive uma senhora
chamada Maria, capturada nos anos 1950, numa
expedição de caça chefiada
por um conhecido caçador de índios
da região, Pedro Biló. A ela
foi arrumado um marido na aldeia, Antonio
Alves, e mesmo algum tempo depois, ela continuava
a encontrar seus parentes, ainda autônomos,
nas matas da região. Falava a língua
da família pano, e pelo corte de cabelo
e hábitos, pode pertencer a uma comunidade
do grupo Jaminawa. “Já avistamos índios
pelados, com o cabelo raspado dos lados, bem
ao estilo Jaminawa. Eu não me surpreenderia
se um dos grupos isolados da região
fosse Jaminawa. Mas não podemos afirmar
nada, insisto, com certeza, em se tratando
de índios isolados”, pondera Meirelles.
Segundo o sertanista, há pelo menos
três grupos indígenas diferentes
na área. O temor das autoridades, nesse
caso, é que o aumento da concentração
de índios isolados causado pelo avanço
dos madeireiros peruanos pode dar início
a um conflito entre eles. “Esses índios
usam de um território grande para viver,
com longos deslocamentos, mudanças
de aldeias e locais de caça. Se forem
obrigados a viverem muito próximos
um dos outros, há uma ameaça.
Nosso trabalho é proteger a terra deles
de invasão, e deixar para que eles
se entendam da forma que sempre se entenderam,
sem a interferência externa”, conclui.
Foto: Funai