16 de fevereiro - Foi realizado nessa quinta-feira
(15) uma ação de monitoramento
da fronteira entre o Brasil e o Peru, na região
norte do estado do Acre, ao longo do Paralelo
10, reunindo representantes da Funai, Ibama
(Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos
Naturais Renováveis) e Polícia
Federal. O objetivo da missão era fiscalizar
a possível entrada de madeireiros peruanos
em território nacional, que além
de ameaçar as riquezas naturais da
região, tais como o mogno, que tem
causado a migração forçada
de grupos indígenas autônomos
que vivem nessa parte da Amazônia e
que podem dar início a conflitos com
os povos indígenas contatados e moradores
ribeirinhos ao longo dos rios Envira, Gregório,
Tarauacá e afluentes.
O sobrevôo em helicóptero do
Ibama por cerca de cinco horas partiu de Feijó,
foi para Cruzeiro do Sul, acompanhou toda
a linha de fronteira seca marcada pelo Paralelo
10, até o posto de fiscalização
da Funai Xinane, localizado às margens
do rio Envira, retornando sobre o rio Envira
até a cidade de Feijó. A região
é de difícil acesso, bastante
sinuosa, com morros que anunciam o início
da cordilheira dos Andes. No início
do ano passado havia sido denunciado por José
Carlos dos Reis Meirelles Júnior, chefe
da Frente de Proteção Etnoambiental
Envira, a ação de madeireiros
peruanos nas nascentes do rio. No período
das cheias, desciam pelas águas troncos
e pranchas cortadas de mogno, assim como caixas
de óleo para moto-serra e outros materiais
peruanos, o que indica a ação
de madeireiros nos formadores do rio. Após
algumas expedições feitas pela
equipe do posto de vigilância em terra,
o sobrevôo visava confirmar se a ação
estava se dando em território nacional
ou além da fronteira. “Temos escutado
tiros e barulhos de moto-serra cada vez mais
perto, e essa é uma região isolada,
o que não deveria acontecer”, afirmou
o sertanista Meirelles. “Felizmente, ao menos
aparentemente, os madeireiros ainda não
chegaram ao Brasil. Mas o que eles estão
fazendo do outro lado de lá da fronteira
vai ter impacto aqui, tanto ambiental como
socio-etnológico, colocando em conflito
os grupos indígenas autônomos
que habitam essa área.”
De acordo com o superintendente do Ibama
no Acre, Aselmo Alfredo Forneck, não
há como controlar a ganância
dos que estão do lado de lá,
mas é preciso proteger a riqueza natural
e etnológica brasileira, garantindo
a autonomia e a liberdade dos índios.
“É uma ação continuada.
Ao longo do ano passado monitoramos a fronteira
norte do Acre, e será dada continuidade
a esse trabalho por esse ano e no próximo,
com sobrevôos contínuos para
verificar a degradação e as
invasões na área.”
“O sobrevôo é uma ferramenta
importante, mas não a única
de trabalho, pois não se sabe do alto
o que está acontecendo por baixo das
árvores, dentro da floresta”, disse
o chefe da Coordenação Geral
de Índios Isolados da Funai, Marcelo
dos Santos. “Mas os dados empíricos
que temos é que a concentração
de índios está aumentando do
lado brasileiro, o que pode significar que
eles estejam sofrendo ameaças do outro
lado da fronteira”, afirma Santos.
No local, Meirelles, juntamente com Antonio
Clefson da Silveira Lima, chefe do posto do
Ibama em Feijó – que conduziram e acompanharam
a fiscalização –, estão
construindo bases de apoio e abastecimento
ao longo dos rios Envira e Tarauacá.
A logística em abastecimento permitirá
o apoio constante dos helicópteros
do Ibama sempre que estiverem na região.
“Essa ação já vem sendo
feita há algum tempo. Com as aeronaves
e bases poderemos intensificar ainda mais
o monitoramento aéreo da área,
bem como avaliar as degradações
que sejam feitas ao longo dos rios Envira,
Tarauacá e seus afluentes”, disse Lima.
“Alem disso, o simples barulho, constante,
do helicóptero já serve para
anunciar aos invasores que, a cada um mês,
dois meses, a área é fiscalizada,
e que eles estão correndo risco se
continuarem insistindo.”
A Polícia Federal, responsável
pelo patrulhamento e fiscalização
das fronteiras nacionais, tem acompanhado
não apenas as invasões de madeireiros
peruanos em solo brasileiro, mas também
possíveis rotas de tráfico de
drogas, de acordo com o agente Ricardo Gazola.
“É uma área de difícil
acesso, mas sujeita ao carregamento por ‘mulas’,
que podem trazer pasta básica de drogas
junto ao corpo e depois carregá-las
em barcos. Temos especial atenção
e estamos investigando a ação
de traficantes nas cidades fronteiriças”,
afirmou. Segundo o agente, pequenas invasões
podem significar um descuido das autoridades,
e abrir portas para um tráfico de grande
porte. “Por isso estamos atentos, e trabalhando
em conjunto com os outros órgãos”,
disse Gazola.
Durante o sobrevôo na área,
foram vistas aldeias e vestígios, como
roças de grupos indígenas autônomos.
“É possível que viva aqui três
grupos diferentes. Alguns agricultores, que
podem ser do grupo lingüístico
pano, por causa de seus hábitos alimentares
e suas lavouras, além de pelo menos
um outro grupo nômade, que ocupa a região
que vai do alto Envira às suas cabeceiras
no Peru. Esse talvez seja o mais ameaçado
pelos madeireiros peruanos”, relatou Meirelles.
Há dois anos, em 2004, Meirelles foi
flechado no rosto após sofrer um ataque
de índios nômades da região,
no posto do Xinane. O grupo, que parecia ser
bastante agressivo, poderia ser da etnia Masku,
que tem sofrido ataques no Peru tanto por
índios contatados, como os Ashaninka
e Jaminawa, quanto dos madeireiros.
Foto: Funai
Funcionários da Funai sofrem
ameaças de invasores
12 de fevereiro - Na região oeste
do estado do Amazonas, próximo às
cidades de Tabatinga e Atalaia do Norte, funcionários
da Funai que trabalham na fiscalização
da Terra Indígena Vale do Javari, na
Frente de Proteção Etnoambiental
do Vale do Javari, vêm sofrendo ameaças
por invasores e pescadores da região.
A ousadia chega a bater na porta do posto
de fiscalização, quando ameaçam
os funcionários na frente dos índios,
ou quando eles são obrigados a se deslocar
para as cidades, como nas situações
em que precisam de atendimento médico,
e lá são novamente ameaçados.
O caso mais recente aconteceu no dia 07 de
fevereiro, quando uma funcionária que
estava com suspeita de malária recebeu
um “recado” no hospital em que foi fazer um
exame. Segundo um relatório da funcionária,
um homem dizia para que ela “tomasse cuidado,
pois várias pessoas proferiam ameaças
à chefe de posto”. “Falou que estavam
armando algo contra a minha pessoa, porque
eu estava fazendo muita ‘besteira’ lá
no posto do Quixito, prendendo muita coisa.
Disse que são pessoas perigosas que
já tinham feito coisas contra o pessoal
da Frente. Outras pessoas que se encontravam
no local reiteraram o que o senhor dizia,
reforçando a minha necessidade de ficar
‘de olhos abertos’, pois já haviam
acontecido algumas ações contra
o pessoal da Frente”, descreve o relatório.
As ameaças começaram após
a apreensão de barcos e materiais de
caça e pesca dos invasores que tentavam
entrar ilegalmente na área indígena.
A ação vem sendo feita em parceria
com o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente
e Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
Com as apreensões, a Frente de Proteção
Etnoambiental do Vale do Javari teme que haja
algum tipo de represália ao trabalho
que vem sendo realizado na região.