O
Brasil é uma das nações
que mais contribuem no mundo para a preservação
ambiental, disse o ministro da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento, Luís
Carlos Guedes Pinto, ao participar da abertura
do seminário Mudanças Climáticas
Globais e seus Efeitos na Agricultura, Recursos
Hídricos e Saúde Pública,
na sede do Instituto Nacional de Meteorologia
(Inmet). “A nossa matriz energética
é extremamente conservacionista”, afirmou,
ao destacar o forte emprego de fontes limpas
no País, como a hidreletricidade e
o álcool. “Portanto, não podemos
aceitar que queiram nos responsabilizar pelo
aumento da emissão de gases no planeta.”
Guedes ressaltou que o mundo
está sentindo hoje os efeitos de um
processo cumulativo da emissão de gases
provocado pelo uso em larga escala de energia
fóssil, como o petróleo e o
carvão. “Os grandes responsáveis
pela questão climática são
os países desenvolvidos, que agora
devem contribuir com os custos das ações
de preservação ambiental.” Essas
economias, acrescentou, precisam se comprometer
efetivamente em reduzir a poluição
global. “O Brasil, por exemplo, é signatário
do Protocolo de Kyoto - tratado internacional
que prevê a redução das
emissões de gases causadores do efeito
estufa -, mas nem todos quiseram assinar o
documento.”
O ministro reafirmou também
que o governo brasileiro tem consciência
da importância de tomar medidas da preservação
ambiental. Segundo ele, os ministérios
da Agricultura, Meio Ambiente, Desenvolvimento
Agrário e Saúde, entre outros,
estão empenhados em implementar políticas
públicas que busquem a sustentabilidade
dos recursos, contribuindo para reduzir a
degradação do planeta. “Por
isso, apoiamos a realização
de encontros como este, que servem para incentivar
o diálogo e a cooperação,
a fim de que possamos oferecer informações
qualificadas à sociedade.”
Ao reforçar a necessidade
de qualificar o debate, Guedes lembrou que
o Brasil é um dos países que
mais preservam as suas florestas originais.
“Temos 69,4% de nossas florestas originais
preservadas. Enquanto isso, a Europa só
tem 0,3%, a Ásia, 6%, a África,
8%, a América Central, 10% e a América
do Norte, 32%.” Os dados fazem parte de estudo
encomendado pelo ministro à Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(Embrapa), que tomou como referência
para o levantamento um período de oito
mil anos.
“É óbvio que
entendemos a preocupação com
o desmatamento na Amazônia, que teve
uma redução nos últimos
dez anos graças às ações
do governo brasileiro. No entanto, não
podemos aceitar que queiram nos responsabilizar
pela devastação das florestas”,
comentou Guedes. De acordo com ele, a agricultura
nacional também não pode ser
apontada como vilã na questão
ambiental. “Nos últimos 15 anos, nossa
produção mais do que duplicou,
enquanto a área plantada cresceu cerca
de 25%. Esse aumento resultou dos ganhos de
produtividade, e não da expansão
da área cultivada. Hoje, podemos duplicar
a nossa safra agrícola sem derrubar
uma árvore sequer.”
Ele enfatizou ainda que
o uso de álcool combustível
ajuda a reduzir os danos ambientais. Atualmente,
mais de 40% da frota brasileira de veículos
leves usa etanol. “Isso dá uma extraordinária
contribuição à redução
da emissão de gases.” Assinalou também
que o País produz e utiliza biocombustíveis.
Nos próximos anos, deve aumentar a
utilização de biocombustíveis
no Brasil, o que ajudará ainda mais
na preservação do planeta.
O seminário foi promovido
pelo Inmet em parceria com o Instituto de
Pesquisas Espaciais (Inpe/CPTEC), Sociedade
Brasileira de Meteorologia (SBMet), Agência
Nacional das Águas (ANA) e a Universidade
de São Paulo (USP).
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CONSÓRCIO GLOBAL
IRÁ MAPEAR SOLOS EM TODO O PLANETA
E LANÇARÁ DADOS EM INTERNET
A Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada
ao Ministério da Agricultura, Pecuária
e Abastecimento (MAPA), participará
de um consórcio global de instituições
de pesquisa e universidades que visa mapear
as propriedades dos solos em todo o planeta.
Risco de erosão, estoque de carbono
orgânico (que combate o efeito estufa),
disponibilidade de nutrientes e água,
entre outras, são algumas das propriedades
que serão identificadas.
O projeto, cuja primeira
etapa vai durar cinco anos, pretende mapear
algumas dessas propriedades para 80% do mundo,
numa resolução espacial de 90m
x 90m e poderá ter entre seus patrocinadores
a fundação do presidente da
Microsoft, Bill Gates.
Ao final desse período,
será lançado um banco de dados
georeferenciado de solos na internet, acessível
a qualquer usuário, que facilitará
a tomada de decisões em nível
local, regional e global.
A demanda surgiu durante
o “2nd Global Workshop on Digital Soil Mapping”,
realizado pela Embrapa Solos (Rio de Janeiro/RJ)
no ano passado. Na ocasião, 80 cientistas
de 17 países se reuniram para apresentar
e discutir as inovações tecnológicas
do Mapeamento Digital de Solos. No entanto,
a iniciativa de se montar um consórcio
só tomou corpo meses depois, durante
uma reunião de cientistas de vários
países na Columbia University, Nova
York, em dezembro passado.
Na ocasião, foram
discutidas a metodologia a ser adotada, a
composição e o estabelecimento
do consórcio global, além da
preparação das bases para a
elaboração de uma primeira proposta
para arrecadar fundos para a realização
desse ambicioso projeto. “Representantes da
fundação Bill e Mellinda Gates
participaram desta reunião e demonstraram
grande interesse pelo projeto. Estamos otimistas
de que conseguiremos apoio financeiro deles”,
aposta a pesquisadora da Embrapa Solos, Maria
de Lourdes Mendonça, coordenadora do
2nd Global Workshop on Digital Soil Mapping
e representante da Embrapa nas discussões
sobre o futuro Consórcio.
O consórcio será
formado por um Comitê Gestor contratado
(Overall Manager) e cinco grupos, sendo um
em cada parte do globo: América do
Norte, América do Sul (sob a responsabilidade
do International Center of Tropical Agriculture
- CIAT - e Embrapa), Ásia/ Oceania,
Europa e África.
Foram escolhidos na reunião
de NY diferentes ecossistemas do mundo como
unidades-piloto para esse mapeamento:
* Propriedades do solo relacionadas
à erosão e degradação
ambiental dos Cerrados no Brasil;
* As propriedades dos solos
relacionadas à sustentação
da produtividade no cinturão de produção
de milho, nos Estados Unidos;
* Propriedades dos solos
relacionados à poluição
ambiental na Escandinávia e talvez
na região do Mediterrâneo, na
Europa;
* Propriedades relacionadas
à hidrologia dos solos na Bacia de
Murray Darling, na Austrália;
* Propriedades de solos
para a segurança alimentar na bacia
do Lago Vitória, na África.
“A nossa participação
teve, desde o primeiro momento, o apoio da
Diretoria Executiva da Embrapa e traz como
êxito para a Empresa sua inclusão
no consórcio global como co-responsável,
juntamente com o CIAT, pela recuperação
e organização dos dados para
o mapeamento das propriedades e funções
dos solos da América Latina, assim
como a inclusão do bioma Cerrados na
primeira parte do Projeto”, afirma a pesquisadora
Maria de Lourdes.
No momento, a proposta inicial
está sendo escrita pelos participantes
do consórcio e outras deverão
ser apresentadas às instituições
de financiamento da pesquisa científica
nos países participantes do consórcio.
Elisângela Santos