01/03/2007
- Quando você deseja saber se está
com alguns quilinhos a mais ou a menos, basta
pesar-se em uma balança. O processo
pode até ser simples para você,
mas imagine fazer o mesmo para determinar
o peso de centenas de árvores (biomassa)
- algumas com mais de cem - de toda a floresta
amazônica. Não será nada
fácil. Para isso seria necessário
cortar e pesar todas as árvores, o
que não é bem o que se deseja,
ainda mais em tempos de aquecimento global.
A esse processo de pesagem,
chama-se medida direta. Como não é
possível fazer o mesmo com as árvores,
existem modelos matemáticas (alométricos),
fórmulas, que permitem calcular a biomassa
a partir do diâmetro da árvore
para, então, determinar se as árvores
estão "ganhando peso" ao
longo do tempo.
Com as informações
do peso das árvores é possível
estimar a quantidade de carbono estocado na
vegetação, que corresponde a
48% do peso seco. Segundo a pesquisadora responsável
pelo trabalho, Carolina Volkmer de Castilho,
doutora em Ecologia pelo Instituto Nacional
de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCT),
os dados são importantes para se determinar
o papel da floresta no ciclo do carbono e
sua importância para o clima global.
"A floresta tem a capacidade
de absorver e emitir carbono. É um
ciclo contínuo. Com as medidas da biomassa
arbórea é possível determinar
quanto de carbono está estocado na
vegetação. Dessa forma, poderemos
calcular quanto, ao longo de um determinado
período, ela está perdendo ou
ganhando "peso". Assim, saberemos
o que está sendo absorvido e/ou emitido
para a atmosfera", explica.
Durante o projeto, "Variação
espacial e temporal da biomassa arbórea
na Amazônia: subsídios para o
entendimento do ciclo global do carbono em
florestas tropicais", financiado pela
Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), aprovado
no âmbito do Programa Primeiros Projetos
(PPP) em parceria com o Conselho Nacional
de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq/MCT), será avaliado o efeito
do solo e da topografia na taxa de mudança
da biomassa arbórea em uma escala intermediária
(64 km²). Ou seja, saber como a biomassa
varia no espaço e no tempo.
O projeto é uma continuação
do trabalho de doutorado de Castilho, concluído
em 2004. Na época foram estudadas 72
parcelas permanentes de floresta da Reserva
Adolpho Ducke, uma área com mais de
50 km², localizada na zona Leste da cidade
de Manaus (AM). Foram também analisadas,
na época, a composição
das espécies de árvores, verificado
a quantidade, distribuição diamétrica,
entre outros. Com as informações
foi possível determinar a taxa de crescimento,
mortalidade, além de poder calcular
a taxa de mudança da biomassa, um dos
principais objetivos do trabalho.
Segundo Castilho, com o
financiamento da Fapeam a pesquisa poderá
fazer uma nova medição de todas
as árvores após um intervalo
de seis anos. "O ideal é refazer
as medidas, anualmente, para os resultados
serem relacionados com os eventos climáticos.
O objetivo é relacionar um certo evento
com a taxa de mudança de biomassa arbórea
da floresta. Mas, como são muitas árvores,
mais de 60 mil, o esforço é
muito grande, tanto de recurso quanto de pessoal
para fazer a medição",
afirmou.
Durante o projeto de doutorado
foi visto que existe uma relação
entre a biomassa, o solo e a topografia. A
partir dessa relação será
possível propor um modelo para estimar
a biomassa de árvores para áreas
maiores por meio dos dados de solo e topografia.
Concluiu-se também que a variação
temporal tem um componente espacial. No caso,
as árvores em solos argilosos apresentam
tendência de aumento de biomassa. O
inverso foi observado em solos arenosos. Pode-se
incluir no modelo esses componentes para uma
área maior e estimar como a biomassa
mudará com o tempo.
De acordo com Castilho,
o projeto subsidiará outras pesquisas
que trabalham com imagens de satélite
ou modelos digitais de elevação
do terreno. Ela diz que existem outros trabalhos
que medem a quantidade de carbono que é
liberado pela floresta para a atmosfera, por
exemplo, o Programa de Larga Escala da Biosfera
Atmosfera da Amazônia (LBA/Inpa). Contudo,
a medição é feita de
forma direta, por meio de aparelhos que medem
as emissões de gases, por exemplo,
CO2, em determinados locais da mata. Para
isso, eles utilizam algumas torres distribuídas
em reservas experimentais.
A pesquisa também
concluiu que a floresta teve um aumento da
taxa de biomassa, confirmado por meio de outros
estudos com florestas tropicais. Todavia,
Castilho explica que apesar da notícia
ser ótima, deve-se analisar com cautela.
Isso porque o estudo foi feito no período
de 2000 a 2002 e, depois, em 2004, após
o el niño de 1998. "A elevação
da biomassa pode ter sido uma recuperação
do "peso perdido", já que
o fenômeno causa mortalidade entre as
árvores. Uma resposta é certa:
a longo prazo, ainda não se sabe se
a taxa continuará aumentando ou se
é apenas um ciclo. Por isso, é
fundamental a continuação do
trabalho", informa.
De acordo com os dados do
projeto, parte da variação espacial
da biomassa também é influenciada
pelo solo e pela topografia da região.
No caso do solo, foi estudado a textura, ou
seja, a quantidade de areia, argila e nutrientes.
Na oportunidade, verificou-se que quanto mais
argiloso o solo maior será a biomassa
encontrada ao contrário do solo arenoso.
Em relação
à topografia, os dados utilizados foram
o de altitude e inclinação do
terreno. "Na região de Manaus,
as características do solo estão
muito relacionadas à topografia. Ou
seja, quando se caminha das áreas baixas
(baixios), próximas aos igarapés,
para as mais altas e planas (platô)
aumenta a quantidade de argila no solo. Nas
áreas de platô, a floresta tem
mais biomassa do que no baixio", explica.
Ciclo do carbono em florestas
tropicais
Ele fica sob a forma de CO2 na atmosfera e
é absorvido pelas plantas por meio
da fotossíntese. Uma parte é
armazenado e outra é liberada por meio
da respiração. Também
existem outras formas de liberação
de carbono, por exemplo, quando uma árvore
morre, após passar pelo processo de
decomposição.
Ele fica sob a forma de
CO2 na atmosfera e é absorvido pelas
plantas por meio da fotossíntese. Uma
parte é armazenado e outra é
liberada por meio da respiração.
Também existem outras formas de liberação
de carbono, por exemplo, quando uma árvore
morre, após passar pelo processo de
decomposição.
Luís Mansuêto - Assessoria de
Comunicação do INPA