Brasília - Presidente Lula terá
até 15 dias úteis para sancionar
medida, mas vamos apelar para a primeira-dama
Marisa Letícia, para que ela convença
ele a vetá-la. Por isso fomos ao Palácio
do Alvorada entregar cestas com produtos à
base de milho e deixar uma mensagem: "D.
Marisa, salve a nossa polenta!"
O Senado repetiu nesta terça-feira
o erro da Câmara dos Deputados e praticamente
escancarou as portas do Brasil para os transgênicos.
Em votação iniciada no final
do dia, os senadores aprovaram a Medida Provisória
327, que reduz a área de contenção
no entorno das Unidades de Conservação
Ambiental e, graças a duas emendas
acrescentadas pelos deputados federais em
dezembro, também legaliza o algodão
transgênico plantado irregularmente
no país e reduz o quorum da Comissão
Técnica Nacional de Biossegurança
(CTNBio) para a aprovação de
pedidos de liberação comercial
de organismos geneticamente modificado.
Para entrar em vigor, a MP terá que
ser sancionada em até 15 dias úteis
pelo presidente Lula. Essa é a hora
de agirmos para que ele respeite a opinião
de mais de 70% dos brasileiros que não
querem transgênicos em seus pratos.
Clique aqui para enviar email ao presidente
Lula pedindo que ele vete as emendas incluídas
na MP 327.
"Os senadores perderam a chance de salvar
a biossegurança nacional. Repetiu o
erro dos deputados federais e agora está
nas mãos do presidente da República
salvar o alimento da população
brasileira", afirmou Gabriela Vuolo,
coordenadora da campanha de engenharia genética
do Greenpeace Brasil, que acompanhou a votação
realizada em Brasília.
A derrota no Senado foi triste mas não
surpreendente. A bancada ruralista na Casa
é ainda mais forte do que na Câmara
e por isso o resultado final já era
de certa forma esperado. Por isso ativistas
do Greenpeace foram no início do dia
ao Palácio do Alvorada, residência
oficial do presidente da República,
pedir para que a primeira-dama Marisa Letícia
intercedesse em favor da biossegurança
do país, solicitando ao seu marido
que vete a MP.
Vestidos de mestres-cucas, eles levaram cestas
com produtos feitos com milho - curau, bolo,
cuscus, sucos e polenta, este o prato preferido
do casal presidencial - para serem entregues
à primeira-dama, com a mensagem: "Dona
Marisa, salve nossa polenta!". Ela não
estava em casa mas uma das cestas foi levada
para o interior do Palácio do Alvorada
para ser entregue mais tarde.
O milho foi escolhido como símbolo
da manifestação por estar prestes
a sofrer invasão de variedades transgênicas,
que podem ser aprovadas na próxima
reunião da CTNBio, marcada para março.
Com a aprovação da MP 327 nesta
terça-feira, a liberação
comercial de milhos transgênicos é
um possibilidade cada vez mais real - e terrível.
O futuro da biossegurança brasileira
está nas mãos do presidente
Lula - e de D. Marisa.
BANCADA LIBERADA
A votação no Senado começou
com Delcídio Amaral (PT-MS), relator
da MP na Casa, defendendo o texto que fora
modificado na Câmara dos Deputados.
Ele deu parecer favóravel à
aprovação, repetindo a atuação
de Paulo Pimenta (PT-RS), que foi relator
da MP na Câmara e também deu
parecer favorável às alterações
ao texto original. A posição
dos dois parlamentares petistas os coloca
em posição difícil no
PT, que votou majoritariamente contra a MP
no Senado.
O primeiro senador a discursar contra a MP
e suas emendas foi Aloizio Mercadante (PT-SP),
que lembrou a seus colegas a intensa produção
da CTNBio no último ano. Ele defendeu
a aprovação do texto original
da MP, sem as emendas acrescentadas na Câmara
(que reduz o quorum da CTNBio e liberar o
algodão transgênico plantado
ilegalmente).
"Acho que as emendas que foram acrescentadas
na Câmara não poderiam constar
desse relatório e considero um erro
o Senado Federal e o Congresso Nacional autorizarem
e legalizarem o plantio de organismos geneticamente
modificados, transgênicos, que é
o algodão, que não teve a autorização
da CTNBio, que já definiu que esse
plantio deveria ser destruído e não
poderia ser permitido", disse Mercadante.
O senador Sibá Machado (PT-AC) lembrou
que é preciso pesquisar muito mais
ainda antes de liberar comercialmente os produtos
geneticamente modificados, e elogiou o trabalho
da CTNBio justamente nessa área, aprovando
inúmeros pedidos de pesquisa com os
transgênicos. Sibá comparou as
votações na CTNBio com as do
Congresso, para exemplificar que assuntos
polêmicos e delicados devem ter votações
diferenciadas e mais rigorosas. Reduzir o
quorum da CTNBio, afirmou Sibá, não
ajuda em nada o país e atropela o princípio
da precaução.
O senador José Nery (PSOL-PA) citou
o escritor Eduardo Galeano para justificar
ampla argumentação contrária
ao lobby de empresas transnacionais pela legalização
dos transgênicos, que teriam pressionado
pela introdução de duas "emendas
danosas" à MP.
Renato Casagrande (PSB-ES), líder
de seu partido no Senado, encaminhou contra
o relatório apresentado pelo relator
Delcídio Amaral, mas a bancada do PT
foi liberada para votar livremente, conforme
informou a senadora Ideli Salvatti (PT-SC).
Ela no entanto manifestou seu voto contrário
às modificações feitas
na MP pela Câmara dos Deputados.
+ Mais
Senado e Primeira-Dama são
as últimas esperanças contra
MP dos transgênicos
Brasília - Greenpeace apela para senadores
e dona Marisa para evitar estragos que a Medida
Provisória 327 pode causar na biodiversidade
brasileira. Parlamentares receberam carta
e documento com argumentos contra a MP; esposa
do presidente Lula ganhou cesta com produtos
típicos nacionais que podem sofrer
com a abertura do país aos transgênicos.
O Congresso Nacional terá nesta terça-feira
mais uma oportunidade de colocar a biossegurança
do país na frente dos interesses financeiros
de grandes empresas de biotecnologia. A Câmara
teve sua chance em dezembro, mas fraquejou,
aprovando a Medida Provisória 327,
que altera as regras brasileiras para o plantio
de transgênicos no entorno das Unidades
de Conservação Ambiental. E
ainda embutiu duas emendas ainda mais desastrosas,
uma que prevê a liberação
do algodão transgênico da Monsanto
plantado ilegalmente no país e outra
que reduz o número de votos necessários
na CTNBio (Comissão Técnica
Nacional de Biossegurança) para aprovações
comerciais de organismos geneticamente modificados
– duas emendas acatadas na Câmara pelo
relator Paulo Pimenta (PT-RS).
O Senado é a penúltima barreira
disponível (a última é
o presidente Lula) para evitarmos que a biossegurança
nacional seja ameaçada por organismos
geneticamente modificados que ainda deixam
muitas dúvidas no ar. Por isso o Greenpeace
enviou por email aos senadores um documento
elaborado por diversas entidades da sociedade
civil que questiona a edição
de sucessivas MPs na área de biossegurança
com o objetivo de legalizar crimes ambientais
cometidos por produtores rurais.
O documento também analisa as emendas
à MP 327 acatadas pelo deputado federal
Paulo Pimenta, mostrando que o Brasil não
tem nada a ganhar legalizando plantações
irregulares de algodão transgênico
e diminuindo o quórum da CTNBio – muito
pelo contrário. No caso do algodão
da Monsanto, é a política do
fato consumado desmoralizando a Lei de Biossegurança
e a capacidade do estado brasileiro de fazer
cumpri-la.
Os senadores receberão também,
hoje, uma carta com argumentos contra a MP
327, assinada por dez entidades da sociedade
civil: Associação de Agricultura
Orgânica (AAO), Assessoria e Serviços
a Projetos em Agricultura Alternativa (AS-PTA),
Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor
(Idec), Fórum Brasileiro de ONGs e
Movimentos Sociais (Fboms), Greenpeace, Movimento
de Mulheres Camponesas (MMC), Movimento de
Pequenos Agricultores (MPA), Movimento de
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Terra
de Direitos e Via Campesina.
Para reforçar o apelo contra a MP
327, ativistas do Greenpeace foram hoje de
manhã ao Palácio do Alvorada
fazer um apelo à primeira-dama para
que ela alerte o presidente Lula sobre a importância
de se garantir a biossegurança do país.
Vestidos de mestre-cucas, os ativistas levaram
à residência oficial da Presidência
da República uma cesta de produtos
típicos derivados de milho para ser
entregue à dona Marisa, que estava
num compromisso externo e não pode
receber os ativistas do Greenpeace. Porém,
seus assessores garantiram que a primeira
dama receberá a cesta. Pratos com polenta
são os preferidos do casal presidencial.
Ciente de que as mulheres são responsáveis
no Brasil por 80% das decisões relativas
às compras numa residência padrão
– segundo pesquisa LatinPanel realizada em
2004 – o Greenpeace tem em dona Marisa sua
última esperança em garantir
a biossegurança do país, livrando
o milho e seus deliciosos pratos da aventura
transgênica. Não engula essa,
dona Marisa!
Ministério Público
pede saída de presidente da CTNBio
Brasília - Indicação
de Walter Colli para o cargo não obedeceu
requisitos básicos previstos na lei
que criou a Comissão. Greenpeace sustenta
que professor da USP deveria ter sido sugerido
em uma lista tríplice, o que não
foi feito.
Por não ter obedecido critérios
previstos na lei que criou a Comissão
Técnica Nacional de Biossegurança
(CTNBio), a indicação de Walter
Colli para a presidência da entidade
pode ser suspensa. O Ministério Público
Federal (MPF) do Distrito Federal entrou com
ação civil pública pedindo
o afastamento de Colli do cargo até
que o caso seja esclarecido.
O nome do professor Colli, da Universidade
de São Paulo (USP), deveria ter feito
parte de uma lista tríplice, formulada
pela sociedade civil, mas isso não
foi feito.
O Greenpeace, a Associação
de Agricultura Orgânica, a Terra de
Direitos e a Assessoria e Serviços
a Projetos em Agricultura Alternativa (AS-PTA)
levaram o caso ao Procurador da República
Peterson de Paula Pereira, que aceitou a argumentação
e entrou com a ação civil pública.
O pedido de afastamento do presidente da
CTNBio aconteceu no mesmo dia da aprovação
no Senado da Medida Provisória 327,
que entre outras coisas reduz a área
de contenção no entorno de Unidades
de Conservação Ambiental, legaliza
as plantações irregulares de
algodão transgênico e diminui
o quórum de votação da
Comissão de maioria absoluta para maioria
simples.
MP NÃO TRAZ MELHORAS
A aprovação dessa MP, que depende
de sanção presidencial para
entrar em vigor, foi criticada pelo professor
Flávio Bertin Gandara, da Escola de
Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq). Segundo
Gandara, a MP não traz melhoras para
a segurança biológica brasileira.
“Quando se faz uma liberação
em termos biológicos, ela é
para sempre. Uma vez que é liberado
o plantio e a entrada de novos organismos
no ecossistema, eles não tem como ser
retirados depois”, explicou.
Nossa resposta às acusações
infundadas de O Estado de S. Paulo
São Paulo - Jornal paulista publicou
editorial acusando o Greenpeace de promover
'caça às bruxas' aos membros
da CTNBio e de agir anti-democraticamente
em suas manifestações. Caso
de polícia, chegam a dizer. Respondemos
com carta à redação,
que foi publicada no dia 28 pelo jornal.
O jornal O Estado de S. Paulo publicou na
segunda-feira, dia 26 de fevereiro, um editorial
no qual uma série de acusações
infundadas contra o Greenpeace, classificando
de "caça às bruxas"
aos membros da CTNBio a série de protestos
e manifestações promovidas por
nós nos últimos meses para tentar
impedir a precipitada liberação
comercial dos transgênicos no Brasil.
O jornal chega a afirmar no final do editorial
que as manifestações do Greenpeace
são "um caso de polícia".
O Greenpeace enviou no mesmo dia uma carta
à redação do jornal paulista
rebatendo as acusações. Segue
abaixo o texto enviado para O Estado de S.
Paulo:
O editorial “Caçadores de Bruxas na
CTNBio” ao citar o Greenpeace comete uma série
de impropriedades:
* O Greenpeace não é contra
a tecnologia da transgenia por si só.
Somos contra sua aplicação em
ambientes abertos e, portanto, sem controle
e sem avaliação própria
de impacto ambiental, como ocorre na agricultura.
O Greenpeace não tem campanha contra
sua pesquisa e aplicação em
ambientes confinados, como na medicina.
* Nossa atividade realizada em Brasília
focando os membros da CTNBio foi feita porque
esses 27 representantes têm um mandato
público, e suas decisões têm
impacto político, social e ambiental.
Eles foram nosso foco, porque queremos dar
maior transparência ao processo e cobrar
a responsabilidade das decisões que
esse grupo toma. Nem todos os membros são
cientistas e portanto o objetivo de nossa
atividade nunca foi atacar a comunidade científica.
Aliás, o Greenpeace tem várias
parcerias de êxito com comunidades acadêmica
e científica.
* Os milhares de emails recebidos pelos membros
da CTNBio foram enviados espontaneamente por
cidadãos brasileiros e traduzem seu
direito e vontade de exigir a biossegurança
no Brasil.
* O Greenpeace é uma organização
adepta da não-violência, filosofia
que é utilizada em todas as suas atividades
públicas. Neste caso em particular,
tomamos todo o cuidado de não fazer
nenhum julgamento de valor, mas simplesmente
convidar a população a se manifestar
sobre a liberação de novos organismos
geneticamente modificados, como o milho transgênico,
que oferece alto risco de contaminação
genética e apresenta um alto teor residual
de agrotóxicos em suas sementes. Nós
encaminhamos à CTNBio vários
relatórios científicos internacionais
subsidiando essa posição.
Não procede a abordagem do Estadão,
mesmo tendo uma opinião organizacional
pró-transgênicos, de transformar
um protesto pacífico exercendo o direito
garantido pela constituição
de proteção ao meio ambiente
(artigo 225) numa verdadeira “Caça
às Bruxas” entre ambientalistas e cientistas
como sugerido no editorial.
O Greenpeace acredita que o desenvolvimento
sustentável do Brasil só será
viável se ambientalistas, cientistas,
acadêmicos e políticos, entre
outros, e a sociedade em geral se unirem em
torno desse compromisso.
Membro da CTNBio confessa ter contrabandeado
bactérias
Brasília - Reportagem do Correio Braziliense
revela confidência feita por Vasco Ariston
Azevedo, professor da UFMG, durante uma reunião
da Comissão em março de 2006.
A reunião foi gravada e a o jornal
teve acesso à transcrição
das fitas.
O Correio Braziliense publicou na segunda-feira
(26/2) reportagem na qual revela que um membro
da Comissão Técnica Nacional
de Biossegurança (CTNBio) confessou
ter importado ilegalmente bactérias
e também sugerido a outros pesquisadores
a fazer o mesmo. A CTNBio tem como uma de
suas principais funções justamente
autorizar a importação de materiais
como os que o professor Vasco Ariston de Carvalho
Azevedo, da Universidade de Minas Gerais (UFMG),
afirmou ter contrabandeado para o Brasil.
Segundo o Correio Braziliense, a confissão
de Vasco Ariston foi feita em reunião
da CTNBio no dia 22 de março de 2006.
Na oportunidade, os membros da Comissão
discutiam outra irregularidade: a importação
sem autorização pelo Instituto
Butantã, de São Paulo, de uma
variedade transgênica do vírus
H5N1, da gripe aviária, para a preparação
de uma vacina. Vasco Ariston defendeu durante
a reunião que o instituto não
poderia ser punido porque a CTNBio não
funcionara em 2005, época em que a
importação teria sido feita.
A confissão do professor Vasco Ariston
foi gravada e transcrita em documentos oficiais,
que são públicos. O jornal Correio
Braziliense teve acesso a esses documentos
e se baseou neles para produzir sua reportagem.
O professor da UFMG também teria incentivado
outros pesquisadores a fazer importações
ilegais. "Eu traria no bolso", disse
ele, segundo a reportagem do jornal brasiliense,
a um professor que fazia uma pesquisa sem
autorização para uma tese de
doutorado. Ao ouvir uma outra integrante da
CTNBio afirmar que se sentia constrangida
por saber o que ele tinha feito, Vasco Ariston
jogou bactérias ao ventilador: "Fiz
e assumo. Agora, muita gente fez no Brasil,
então se quiserem me punir, me punam,
mas eu tenho que assumir a realidade, como
pesquisador.”
O grave é saber que um caso desse
ocorra justamente com um membro de um órgão
responsável por fiscalizar e autorizar
importações, pesquisas e comercialização
de produtos geneticamente modificados. Vasco
Ariston mostrou desprezo pelas regras e foi
negligente com as possíveis implicações
e riscos de sua atitude. Que assuma agora
a responsabilidade pelo que fez.
Foto: Greenpeace