06
Mar 2007 - Por Bruno Taitson - Trabalhar
com conservação na Amazônia
brasileira sempre foi uma missão
difícil. As graves questões
sociais e econômicas do país
consomem a maior parte dos orçamentos
públicos e uma conseqüência
desse quadro é a crônica
falta de recursos para políticas
ambientais.
No Acre esse problema
também existe. O Estado tem um
Produto Interno Bruto (PIB) de aproximadamente
R$ 3,2 bilhões, o segundo mais
baixo entre as 27 unidades federativas
do país.
A falta de dinheiro
acaba afetando as ações
voltadas para a conservação
do meio ambiente. O Pelotão Florestal
da Polícia Militar do Acre, criado
há oito anos, tem um efetivo
de apenas 20 homens, responsáveis
por patrulhar um território de
mais de 150 mil quilômetros quadrados,
dos quais quase 90% são cobertos
por florestas.
O soldado Sidnei Lucas
Santos pertence ao Pelotão Florestal
e afirma que o número de policiais
que integram o grupo está muito
aquém do necessário. “É
simplesmente impossível atender
a todas as demandas ambientais que aparecem”,
declara.
Além de ter
um efetivo reduzido, o Pelotão
Florestal executa tarefas diversificadas.
O grupo combate queimadas, retirada
ilegal de madeira, pesca e caça
ilegais, mas também auxilia famílias
vítimas de inundações
e deslizamentos e até mesmo responde
a denúncias de violações
da Lei do Silêncio em áreas
urbanas.
Sidnei acrescenta
que, além de ter um imenso território
florestal, o Acre é um estado
que faz fronteira com a Bolívia
e o Peru, fator que dificulta ainda
mais o trabalho do Pelotão Florestal.
“Fronteiras internacionais sempre demandam
uma maior atenção por
parte dos agentes da lei”, salienta.
Os policiais ambientais
acreanos também enfrentam dificuldades
de acesso a muitas áreas. Durante
a estação seca, é
possível chegar a muitos locais
com veículos 4x4. Quando o período
chuvoso começa, os barcos passam
a ser o único meio de transporte
para a maioria das unidades de conservação.
Além de enfrentarem
as dificuldades naturais da profissão,
os agentes que fiscalizam o cumprimento
da legislação ambiental
na Amazônia também correm
outros riscos. O Pelotão Florestal
da Polícia Militar do Acre, por
exemplo, freqüentemente confronta
interesses de grupos econômicos
poderosos, especialmente madeireiros
ilegais e criadores de gado, que às
vezes desmatam florestas para aumentar
os lucros.
“Por isso, em todo
o Brasil e especialmente na Amazônia,
aqueles que fazem cumprir a legislação
ambiental precisam ter poder de polícia
e portar armas”, opina Sidnei.
A qualidade de vida
de um policial florestal na Amazônia
também é comprometida.
Sidnei ressalta que, durante as missões
na selva, chega a passar duas semanas
sem ver a esposa e os filhos. “Mas isso
é parte do nosso trabalho. Para
lidar com conservação
na Amazônia é preciso ser
apaixonado pela causa”, conclui o militar.
+ Mais
Música clássica
para defender a Amazônia
06 Mar 2007 - A idéia
de utilizar música clássica
para defender a conservação
da Amazônia foi um sucesso em
Nova Iorque. Quem a colocou em prática
foi o músico brasileiro João
Carlos Martins e sua Orquestra Bachiana
de Câmara, com o concerto de Amazônia
para Sempre. O espetáculo, ocorrido
em 6 de janeiro, foi a primeira apresentação
no Carnegie Hall a custar apenas um
dólar por ingresso. O objetivo
foi sensibilizar os novaiorquinos para
a conservação da floresta
amazônica e o papel crucial do
ARPA - Programa Áreas Protegidas
da Amazônia neste processo.
Após o concerto,
o WWF-EUA organizou um coquetel para
doadores e convidados especiais com
um vídeo sobre o ARPA e comentários
do maestro João Carlos Martins;
Dr. Thomas Lovejoy, presidente do Heinz
Center; Ronaldo Weigand, da coordenação
do ARPA; Marina Silva, Ministra do Meio
Ambiente do Brasil e Matthew Perl, Diretor
do Programa Amazônia Áreas
Protegidas do WWF-EUA. Cerca de 200
pessoas estiveram no coquetel, inclusive
vários visitantes brasileiros
como representantes da AIG, CitiGroup
e Banco Mundial, além de membros
do consulado.
João
Carlos Martins é considerado
um dos melhores intérpretes da
música de Johann Sebastian Bach
no mundo. Ele tornou-se maestro após
décadas de luta contra problemas
motores que o levaram a não poder
mais tocar piano. Em sua recuperação
como maestro, Martins resolveu utilizar
o poder da música para chamar
atenção para algo que
realmente o preocupa: a causa amazônica.