7
de Março de 2007 - Bruno Bocchini
- Repórter da Agência Brasil
- São Paulo - Movimentos sociais
e entidades da sociedade civil criticaram
hoje (7) a proposta de parceria entre
os Estados Unidos e o Brasil para a
produção de etanol. Também
apontaram problemas no atual modelo
de produção do álcool
no país. Em entrevista coletiva,
representantes do Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra, Via Campesina, Comissão
Pastoral da Terra (CPT), Central Única
dos Trabalhadores (CUT), Fórum
Brasileiro de Organizações
e Movimentos Sociais para o Desenvolvimento
Sustentável (Fboms), e a Marcha
Mundial das Mulheres, condenaram a monocultura
e defenderam um modelo de produção
de biocombustíveis não
apenas renovável, mas também
sustentável.
“Somos frontalmente
contrários a essa forma de produzir
energia, porque beneficia apenas os
interesses do capital transnacional.
Nós defendemos o uso do agro
combustível de maneira sustentável,
que respeite o meio-ambiente e, sobretudo,
sob o controle das populações
locais”, disse o representante da Via
Campesina e do MST, João Pedro
Stedile.
Segundo dados da Via
Campesina, cada 100 hectares de monocultura
emprega uma pessoa, enquanto que em
plantações de agricultura
familiar, a mesma extensão dá
emprego a 35 pessoas. "Podemos
produzir energia a partir de produtos
agrícolas, desde que produzidos
em pequenas e médias dimensões,
que não desequilibrem o meio
ambiente e que representem uma maior
autonomia dos camponeses no controle
da energia e no abastecimento das cidades”.
Em nota distribuída
à imprensa, o MST condenou “veementemente”
a visita do presidente norte-americano,
George W. Bush, à América
Latina. Segundo o texto, a iniciativa
do governo norte-americano é
"cooptar" e "seduzir"
os governo locais a aumentarem a produção
de álcool destinado aos EUA,
“com o objetivo de manter o padrão
do 'american way of life'”, diz o texto.
Temístocles
Marcelo Neto, representante da Fboms,
considera que o processo de plantação
em monocultura utilizado no país
deixou lições que não
devem ser esquecidas. “Com a implantação
no passado do etanol, há ocorrência
ainda hoje de trabalho infantil, trabalho
forçado, e trabalho escravo,
que são indesejáveis para
uma sociedade que quer desenvolver beneficiando
a maioria da população”,
afirmou.
O conselheiro da Comissão
Pastoral da Terra, Dom Tomás
Balduíno, classificou de sinistra
a situação dos camponeses
diante do avanço da monocultura.
“Para o universo camponês é
uma perspectiva sinistra, de destruição,
de marginalização e de
morte. Porque acaba a terra de viver
e conviver. Que vai sobrar desse cerrado,
agora vai ter que ceder a essa pressão
internacional”, considerou.
Lula e Bush discursam
sobre intenção de aumentar
produção de álcool
9 de Março
de 2007 - Carolina Pimentel - Repórter
da Agência Brasil - Brasília
- Após a visita no terminal da
Transpetro, subsidiária da Petrobras,
em Guarulhos, os presidentes George
W. Bush e Luiz Inácio Lula da
Silva discursaram sobre a intenção
de aumentar a produção
de etanol e biodiesel, como forma de
alterar o panorama mundial das fontes
de energia, muito dependente do petróleo.
A proposta é um dos principais
pontos discutidos pelos chefes de Estado.
O presidente Lula
da Silva levantou a possibilidade de
incentivar os países em geral
a trocar suas principais fontes de produção
de energia. Dirigindo-se a George W.
Bush, sugeriu uma atuação
conjunta com esse fim. “A sua visita
ao Brasil pode significar definitivamente
uma aliança estratégica
que permita um convencimento do mundo
mudar sua matriz energética”,
disse.
O presidente citou
a criação do Fórum
Internacional de Biocombustíveis,
lançado na última sexta-feira
(2) por Brasil, África do Sul,
China, Estados Unidos, Índia
e União Européia na Organização
das Nações Unidas (ONU).
“Somente assim teremos a escala de produção
necessária para potencializar
os benefícios do etanol e o biodiesel”,
comentou.
O presidente dos Estados
Unidos, George W. Bush, disse que planeja
aumentar em mais de seis vezes o consumo
de etanol (álcool combustível)
de seu país até 2017,
passando dos atuais 20 bilhões
de litros anuais para 132 bilhões.
Ao lado de Lula, Bush fez um discurso
que enfatizou as vantagens do etanol,
a necessidade de proteger o meio ambiente
e as vias de cooperação
com o Brasil.
Uma das possibilidades
mencionadas foi na área de pesquisa.
Bush elogiou os acadêmicos dos
dois países e afirmou que eles
podem trabalhar conjuntamente no desenvolvimento
de tecnologia de biocombustível.
Contou também que pediu ao Congresso
a aplicação de US$ 1,6
bilhão a mais nos próximos
dez anos em pesquisas na área.
O presidente mencionou também
a relação com países
pobres, citando especificamente a América
Central. “Quero colaborar com o Lula
para fazer com que a América
Central aumente sua independência
do petróleo e se torne auto-suficiente
em energia”.
A idéia recebe
apoio e crítica. Nos bastidores,
a parceria anda a todo o vapor desde
o fim do ano passado. Segundo o ex-ministro
da Agricultura, Roberto Rodrigues, uma
comissão de âmbito continental
criada em dezembro, a Comissão
Interamericana de Etanol já encomendou
um diagnóstico geral sobre a
América Latina, para saber onde
e como será possível plantar
cana-de-açúcar ou aproveitar
a produção já existente
para fabricar etanol.
Com uma análise
diferente, está o engenheiro
José Bautista Vidal, um dos criadores
do programa público que desenvolveu
o uso do álcool combustível
no Brasil, nos anos 70, o Proálcool,
que acredita que as negociações
do país com os Estados Unidos
em torno do produto podem ter conseqüências
"péssimas" para os
brasileiros. “Em vez de o Brasil tomar
a iniciativa e criar instrumentos, empresas,
criar a Companhia Brasileira de Bioenergia,
os norte-americanos aproveitam e estão
criando uma estrutura de poder a partir
do álcool brasileiro”, disse
hoje (9) em entrevista à TV NBr.
Movimentos sociais também criticam
os prejuízos de incentivar a
monocultura da cana-de-açúcar.
+ Mais
Leia a íntegra
do discurso de Lula durante visita à
Transpetro com George Bush
9 de Março
de 2007 - Agência Brasil - Brasília
- Durante seu discurso na Transpetro,
em Guarulhos (SP), o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva levantou
a possibilidade de incentivar os países
em geral a trocar suas principais fontes
de produção de energia
– hoje muito dependente de combustíveis
não-renováveis, como petróleo,
gás natural e derivados. Dirigindo-se
ao presidente dos Estados Unidos, George
W. Bush, sugeriu uma atuação
conjunta com esse fim. Leia a íntegra
do discurso:
"Excelentíssimo
senhor presidente George Bush, presidente
dos Estados Unidos da América,
Senhores integrantes
das comitivas norte-americana e brasileira,
Senhoras e senhores jornalistas,
Meus amigos,
Minhas amigas,
É um prazer
poder receber o presidente George Bush
em São Paulo, a nossa maior metrópole
brasileira, uma cidade que simboliza
a pujança da nossa economia e
o espírito empreendedor da nossa
gente.
Viemos ao terminal
da Transpetro, aqui em Guarulhos, para
celebrar uma parceria verdadeiramente
estratégica entre Estados Unidos
e Brasil. O Memorando de Entendimento
sobre a Cooperação na
Área de Biocombustíveis
assinado hoje é, sem dúvida,
a nossa resposta ao grande desafio energético
do século XXI.
O mundo está
observando, com muita atenção,
o evento de hoje. Estamos lançando
uma parceria para o futuro, um empreendimento
amplo e renovado que transcende o plano
bilateral e cria oportunidades em escala
mundial. A parceria que vamos inaugurar
é ambiciosa e voltada para todos
os aspectos ligados à incorporação
definitiva do etanol na matriz energética
de nossos países.
Foi com grande satisfação
que soube da determinação
do presidente Bush de valorizar os biocombustíveis
dentro da matriz energética dos
Estados Unidos. Esse acordo torna realidade
uma idéia que nasceu por ocasião
do nosso encontro em Brasília,
em 2005, quando o presidente Bush conheceu
a história de sucesso brasileira
dos biocombustíveis. É
importante lembrar que quando o presidente
Bush foi a Brasília eu tinha
uma obsessão pelos biocombustíveis,
e quase que ele não consegue
almoçar de tanto que eu falei
de biocombustível. Eu penso que
foi importante, porque nem sempre o
mundo está preparado e apto para
mudanças importantes, se não
houver incansáveis debates até
as pessoas se convencerem de que o planeta
Terra precisa ser despoluído.
E está nas nossas mãos,
que o poluímos, despoluirmos.
No campo do etanol,
temos um programa extremamente bem-sucedido,
fruto de mais de 30 anos de muito trabalho
e de inovação tecnológica.
Estamos fazendo igual aposta com o biodiesel:
até 2010, o diesel brasileiro
já será, em 5%, extraído
de plantas nativas e abundantes no País,
como o dendê, o caroço
do algodão, o girassol, a mamona,
a soja e tantas outras oleaginosas.
Por isso mesmo, nosso
programa de biodiesel tem grande impacto
social. É voltado para o pequeno
agricultor, para a agricultura familiar,
ajudará a criar emprego e renda
nos lugares mais pobres deste País,
sobretudo nas regiões do semi-árido
nordestino, onde muitos desses cultivos
são nativos.
Hoje, a sociedade
toda colhe o fruto desse esforço,
e outros países querem compartilhar
a experiência brasileira na produção
de biocombustíveis. O Memorando
é importante passo nessa direção,
mas não é apenas uma parceria
econômica entre Brasil e Estados
Unidos. A estreita associação
e cooperação entre os
dois líderes da produção
de etanol possibilitará a democratização
do acesso à energia.
O uso crescente de
biocombustíveis será uma
contribuição inestimável
para a geração de renda,
inclusão social e redução
da pobreza em muitos países pobres
do mundo. Queremos ver as biomassas
gerarem desenvolvimento sustentável,
sobretudo na América do Sul,
na América Central, no Caribe
e na África.
O Brasil e os Estados
Unidos devem formar alianças
com terceiros países para diversificar
globalmente a produção
de biocombustíveis. Para isso
é preciso criar as bases para
um mercado mundial de biocombustíveis.
Temos uma responsabilidade e um desafio
muito especial.
Mas nossa parceria
estratégica também está
sendo reforçada com a criação
do Fórum Internacional de Biocombustíveis,
com a participação dos
Estados Unidos, Brasil, Índia,
China, África do Sul e União
Européia. Somente assim teremos
a escala de produção necessária
para potencializar os benefícios
do etanol e do biodiesel.
Tenho sido, como todo
mundo sabe – quase de uma forma doentia
– defensor das fontes renováveis
de combustíveis. Vejo, portanto,
com enorme satisfação,
uma crescente consciência na comunidade
internacional de que é preciso
superar a dependência dos combustíveis
fosseis. No momento em que somos chamados
a agir com urgência para enfrentar
o aquecimento global, tudo que fizermos
para reduzir as emissões de gases
poluentes será um ganho.
Os biocombustíveis
oferecem uma alternativa mais limpa
e economicamente viável. A tecnologia
é nossa grande aliada nessa empreitada.
Os ganhos com o emprego dos biocombustíveis
no Brasil já se refletem no desenvolvimento
de novas tecnologias e na criação
de uma matriz energética mais
limpa.
Presidente Bush,
Mais do que triplicamos
a produtividade da cana-de-açúcar,
principal fonte do etanol, e demonstramos
ser possível aumentar a produção
de biocombustíveis sem prejuízos
para a produção de alimentos,
ao mesmo tempo em que estamos reduzindo
o desmatamento na Amazônia.
A maioria dos carros
hoje vendidos no Brasil é flex
fuel, uma tecnologia que desenvolvemos
aqui e que tornou o etanol um combustível
seguro e confiável. E estou convocando
a indústria brasileira a fazer
o mesmo com o biodiesel. Os nossos construtores
de ônibus e de caminhões
que se preparem, porque nós precisamos
avançar na questão do
biodiesel.
Eu estou convencido,
presidente Bush, de que os Estados Unidos,
com sua grande capacidade tecnológica
e empresarial, serão um sócio,
um parceiro extraordinário nesse
empreendimento.
Esta sua vinda ao
Brasil no dia de hoje, esta visita que
fizemos à Petrobras e a conversa
que vamos ter, ainda, na hora do almoço,
podem significar, definitivamente, uma
aliança estratégica que
permita o convencimento ao mundo de
mudar a sua matriz energética.
Afinal de contas, como eu disse agora
há pouco, nós poluímos
tanto o Planeta durante o século
XX, e temos agora que dar a nossa contribuição
para despoluí-lo no século
21. Afinal de contas, somos responsáveis
e queremos que os nossos filhos e que
os nossos netos possam viver num mundo
menos poluído que o mundo em
que estamos vivendo hoje.
Além desse
bem à Humanidade que faremos,
com a introdução dos biocombustíveis,
nós estaremos permitindo que
pela primeira vez a gente possa utilizar
os combustíveis como uma fonte
de distribuição de renda
e geração de empregos
sem precedentes na história da
Humanidade, sobretudo se nós
analisarmos o que fazer com os países
do continente africano, se nós
analisarmos o que fazer com os países
mais pobres da América do Sul,
se nós analisarmos o que fazer
com os países do Caribe e da
América Central, onde os Estados
Unidos mantêm parceria com todos
esses países. Eu penso que essa
parceria entre Estados Unidos e Brasil
pode significar, definitivamente, a
partir do dia de hoje, um novo momento
da indústria automobilística
no mundo, um novo momento dos combustíveis
no mundo e, eu diria, possivelmente
um novo momento para a Humanidade.
Por isso, muito obrigado
pela sua visita."