06/03/2007
- Rafael Imolene - Em seu último
compromisso oficial em Brasília,
o diretor-executivo do Pnuma (Programa
das Nações Unidas para
o Meio Ambiente), Achim Steiner, afirmou
que em breve o meio ambiente será
a principal variável para definir
tanto o crescimento econômico
quanto a sua velocidade. O diretor,
que ocupa a mais alta hierarquia ambiental
na ONU, participou nesta terça-feira
(6), com a ministra do Meio Ambiente,
Marina Silva, de um debate na sede do
Ibama, cujo tema era "Os Desafios
do Desenvolvimento Sustentável
e as Respostas do Sistema Multilateral".
Segundo Steiner, a
ascensão do consumo responsável
terá grande impacto nesse cenário.
"São vários os fatores
que contribuirão para o crescimento
econômico de uma nação,
e a questão ambiental deixará
o plano secundário para assumir
um papel fundamental", afirmou
o alto executivo da ONU. "Os governos
e as empresas precisarão estar
atentas a essa mudança de comportamento
para conseguirem atingir consumidores
no seu mercado interno e também
no exterior", disse.
De acordo com o diretor-executivo
do Pnuma, o Brasil, com suas bem-sucedidas
políticas de redução
do desmatamento e de biocombustíveis,
será um líder natural
dos países em desenvolvimento.
"O Brasil deverá ajudar
outras nações, ainda,
com suas experiências de manejo
de florestas e desenvolvimento sustentável",
afirmou Steiner. "A contribuição
do Brasil certamente beneficiará
muitos países", disse a
ministra Marina Silva. "O mundo
está investindo na criação
de uma marca ética para seus
produtos. Essa é a linha que
estamos seguindo", afirmou a ministra.
Para o secretário
de Biodiversidade e Florestas do MMA,
João Paulo Capobianco, a questão
ambiental ganhou uma importância
estratégica no mundo dos negócios.
"As conseqüências das
mudanças climáticas serão
sentidas primeiro pelos mais pobres,
mas os ricos sabem que serão
atingidos depois. Então todos
vão se mobilizar para reduzir
os efeitos", disse Capobianco.
O pesquisador Paulo
Moutinho, do Instituto de Pesquisa Ambiental
da Amazônia (Ipam), declarou que
os países em desenvolvimento
precisam defender seus interesses nos
acordos internacionais. "É
tão caro para um país
em desenvolvimento optar pela preservação
ambiental quanto para um país
rico mudar sua matriz energética",
afirmou o biólogo. "O Brasil
tem 80% de matriz elétrica limpa.
Isso não vale nada na OMC?",
questionou.
Também participaram
da mesa de debate o presidente do Ibama,
Marcus Barros; o físico Roberto
Kishinami, consultor do MMA; o secretário-executivo
do Fórum Brasileiro de Mudanças
Climáticas, Luiz Pinguelli Rosa;
e o deputado federal Fernando Gabeira.
O diretor-executivo do Pnuma, Achim
Steiner, em sua primeira viagem ao Brasil
desde que assumiu o cargo, em 2006,
encerrou seus compromissos oficiais
em Brasília. Ele cumprirá
agenda em São Paulo e Rio de
Janeiro nos próximos dias
Diretor do Pnuma apóia
Brasil como sede de debate sobre governança
ambiental
05/03/2007 - Rafael Imolene - O diretor-executivo
do Pnuma (Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente), Achim
Steiner, disse, nesta segunda-feira
(5), apoiar a iniciativa do governo
brasileiro de convocar uma reunião
de cúpula entre ministros do
Meio Ambiente e de Relações
Exteriores para debater a governança
ambiental no planeta. A proposta partiu
da ministra do Meio Ambiente, Marina
Silva, durante reunião em Brasília
com o diretor-executivo, em sua primeira
visita oficial ao país desde
que assumiu o cargo. "Vejo com
entusiasmo a postura brasileira. É
esse papel pró-ativo que o Pnuma
espera de um país com o peso
do Brasil na área ambiental",
afirmou Steiner.
A iniciativa do governo
brasileiro foi motivada pela proposta
francesa de criar uma Organização
Mundial de Meio Ambiente, apresentada
em fevereiro na última reunião
de ministros do Meio Ambiente, em Nairóbi,
no Quênia. Segundo Marina Silva,
a proposta da França gerou uma
discussão polarizada entre países
desenvolvidos e os demais. "O Brasil
se propõe a sediar uma reunião
de cúpula de ministros do Meio
Ambiente e de Relações
Exteriores para realizar o debate da
governança ambiental global e
buscar uma mediação entre
as diferentes propostas. Não
significa que certamente haverá
um alinhamento, mas pode surgir, a partir
da reunião no Brasil, um marco
referencial para sairmos do impasse",
afirmou a ministra.
Ainda de acordo com
Marina, o debate não deve se
resumir a uma perspectiva puramente
ambiental. "Para fazer frente aos
graves problemas ambientais é
fundamental inserir o tema na agenda
de desenvolvimento", disse. Os
detalhes da reunião de cúpula
seriam apresentados à delegação
do Pnuma no Ministério das Relações
Exteriores, em evento programado para
a tarde desta segunda-feira. Inicialmente,
a cúpula no Brasil contaria com
a participação de 15 países
representantes de blocos regionais.
No compromisso realizado
pela manhã no Ministério
do Meio Ambiente, a equipe do MMA apresentou
aos representantes do Pnuma os esforços
e resultados obtidos pelo governo brasileiro
desde 2003, como a criação
de 20 milhões de hectares em
áreas de preservação,
a redução de 52% no desmatamento
na Amazônia nos últimos
dois anos e a apreensão de 880
mil metros cúbicos de madeira
explorada ilegalmente, além da
aplicação de R$ 2,8 bilhões
em multas.
O secretário
de Biodiversidade e Florestas, João
Paulo Capobianco, apresentou estatísticas
que mostram a suspensão de 66
mil registros de propriedades rurais
em nove estados da Amazônia Legal,
bem como o crescimento da área
protegida por reservas federais na região,
que era de 6,14% do total da floresta
em 2002, passando para 9,98% em 2006,
excluindo as terras indígenas.
"Em 2007 poderemos chegar a 11,98%,
praticamente o dobro em apenas cinco
anos", afirmou Capobianco.
Mudanças climáticas
- O tema mudanças climáticas
mereceu destaque durante a reunião
entre MMA e Pnuma. Segundo Steiner,
o assunto ocupará um importante
espaço na agenda internacional
deste século. Marina Silva afirmou
que o Brasil concluiu oito projetos
preliminares de pesquisa sobre Mudanças
Climáticas e seus Efeitos sobre
a Biodiversidade Brasileira, divulgados
no dia 27 de fevereiro. Os estudos analisaram
o perfil evolutivo do clima no País
e desenharam cenários do clima
até o ano 2100. "Em relação
às mudanças climáticas,
o MMA tem trabalhado a idéia
de um plano nacional de prevenção
e mitigação, também
buscando a adaptação e
vulnerabilidade envolvendo os diferentes
setores do governo", disse Marina
Silva.
Ao final, Steiner
mostrou interesse em levar a outros
países as experiências
brasileiras. "Queremos um trabalho
muito mais ativo entre o Brasil, o Pnuma
e o sistema das Nações
Unidas, porque teremos uma grande oportunidade
de interagir políticas nacionais,
regionais e globais. Vou precisar do
apoio do Brasil", afirmou o diretor-executivo
do Pnuma. A ministra Marina Silva solicitou
a Steiner que fortaleça o escritório
regional do órgão com
mais infra-estrutura e recursos humanos.
+ Mais
Lula renova compromisso
de desenvolvimento econômico com
sustentabilidade
05/03/2007 - Rubens
Júnior - O presidente Luís
Inácio Lula da Silva afirmou
nesta segunda-feira (05/02) que seu
governo aumentará ainda mais
seus esforços no sentido de integrar
desenvolvimento econômico e sustentabilidade
ambiental, aprofundando uma diretriz
de seu primeiro mandato. Foi o que deixou
claro, em reunião, ao diretor-executivo
do Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma),
Achim Steiner. Steiner, que na visita
esteve acompanhado da ministra do Meio
Ambiente, Marina Silva, veio ao Brasil
encontrar-se com Lula, Marina e representantes
do setor privado dos estados do Rio
de Janeiro e de São Paulo. Pela
manhã, ele manteve reunião
com a ministra e, após o encontro
com Lula, embarca para as duas capitais
do sudeste.
O dirigente da ONU,
que reconhece no Brasil papel de liderança
mundial no desenvolvimento de soluções
energéticas renováveis,
capaz de auxiliar outros países
a mitigarem o aquecimento global, veio
conhecer de perto as ações
do governo brasileiro na redução
de emissões dos gases causadores
do efeito estufa e em outras frentes.
Para Steiner, com as soluções
implementadas no País, como os
programas do Etanol, do Biodiesel, o
combate ao desmatamento ilegal na Amazônia,
entre outras, o Brasil tem muito a contribuir
com outros países numa questão
que é uma causa e diz respeito
a toda a humanidade.
Steiner também
quer que o Brasil seja sede, neste ano
ainda, de uma cúpula de presidentes
e/ou ministros de vários países.
O objetivo do encontro, que ocorreria
15 anos após a Rio 92, é
incorporar em definitivo a questão
ambiental como tema central da "governança
mundial", como reação
ao relatório recente do International
Panel Climate Chance (IPCC), segundo
o qual a continuarem os níveis
atuais de emissões de CO2 - a
vida humana estaria ameaçada
nos próximos 100 anos.
"Poucos países
tiveram o sucesso do Brasil no combate
ao desmatamento e às emissões
de carbono. Os brasileiros reduziram
em 52% o desmatamento na Amazônia,
possuem uma economia biocombustível
invejável, e outros países
o olham como exemplo. Por esse motivo,
gostaria de ver o Brasil não
só como sede da cúpula
mundial, mas como catalizador do processo
de mobilização internacional
para enfrentar as mudanças climáticas
e seus efeitos", afirmou o dirigente
da ONU.
"O mundo, apesar
dos problemas, vive uma fase de expansão
do etanol e do biodiesel. Para tal,
precisamos de uma economia de produção,
de mercado global e de sustentabilidade
da produção, além
da definição de normas
e padrões para aqueles setores,
por causa inclusive dos impactos na
agricultura e na biodiversidade",
afirmou Steiner.
Segundo o diretor-executivo
do Pnuma, ainda vigora uma falta de
confiança mútua dos governos
em reduzir emissões de CO2. Mesmo
assim, acha que o debate cresce nos
Estados Unidos e na União Européia.
"A paralisia dos governos é
inaceitável e irracional. Precisamos
destravar esse processo. Se China, EUA,
União Européia, se algum
deles não se voltar para as soluções
energéticas limpas, outros também
não vão se empenhar. Felizmente,
temos bons exemplos. A Califórnia
se comprometeu a reduzir em 20% as emissões
até 2020. China e União
Européia estão dispostas
a assumir igual compromisso", falou
o diretor.
Segundo Steiner, o
assunto biocombustível começa
a sensibilizar os países desenvolvidos,
a ponto de fazer parte da agenda do
encontro dos presidentes George Bush
e Lula, a partir da próxima sexta-feira.
Para ele, será fundamental que
os países que menos mitigaram
as emissões, como os EUA, estejam
também à frente dos debates,
inclusive para estimular países
em desenvolvimento que ainda não
repetiram o exemplo sustentável
brasileiro.
Para Marina Silva,
a realização da cúpula
no Brasil ou em outro país ocorreria
em momento importante por causa de uma
reforma da ONU, em curso. "Seria
uma oportunidade, talvez, para a criação
de um organismo transnacional para lidar
com os temas ambientais, que dizem respeito
a todos os países, desenvolvidos
ou em desenvolvimento", disse.
"Em que pese nossas dificuldades,
queremos contranger eticamente outros
países. Mas queremos que a reunião
reflita o amadurecimento dos governantes.
Que eles cheguem lá com o dever
de casa feito, prontos a integrar e
aprofundar políticas. E, uma
vez lá, estamos aptos a disseminar
tecnologia e colaboração",
afirmou.
Segundo a ministra,
o governo brasileiro está preocupado
com as mudanças climáticas
desde a posse, em 2003, quando, além
das políticas em andamento, encomendou
oito estudos contendo a análise
do clima no País e fazendo projeções
para os próximos 100 anos, buscando
balizar as políticas públicas
na área. Tais estudos, somados
a outras iniciativas sustentáveis
do governo (Programa do Etanol e Biocombustível
etc.), além da produção
de mapas com retratos da cobertura vegetal
dos biomas brasileiros, credenciam o
País a liderar um plano para
enfrentar o problema do aquecimento
e seus efeitos, a exemplo do plano que
vem sendo desenvolvido com sucesso,
desde 2004, para combater o desmatamento
da Amazônia.
No Brasil, o etanol
compõe 17% da matriz energética
do País, o que permite evitar
a emissão de 90 toneladas de
carbono na atmosfera. Para expandir
a produção do etanol de
14 bilhões de litros para 30
milhões de litros, basta ao País
estender o cultivo da cana-de-açúcar
por apenas mais três milhões
dos 51 milhões de hectares da
"área de repouso".
Ou seja, é possível mais
que dobrar a produção
sem ter de desmatar áreas. Hoje,
45% da matriz energética brasileira
(81%, no caso da energia elétrica)
é limpa.