4
de Março de 2007 - Irene Lôbo
- Repórter da Agência Brasil
- Brasília - Comparado aos países
desenvolvidos do hemisfério norte,
o Brasil contribui pouco para a emissão
global dos gases do efeito estufa, embora
as queimadas na Amazônia sejam
o grande “pecado” brasileiro quando
o assunto é a emissão
dos gases que acabam provocando o aquecimento
global.
De acordo com o pesquisador
do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais,
José Marengo, "nós
temos uma contribuição
relativamente importante na forma de
queimadas associadas ao desmatamento”.
O país é
ecologicamente correto na geração
de energia, já que 80% da principal
fonte energética do país
(a energia elétrica) é
gerada a partir de hidrelétricas,
segundo o Ministério do Meio
Ambiente (MMA). O Brasil também
ganha pontos por possuir um programa
de substituição de combustíveis
fósseis por renováveis,
o Programa Nacional do Biodiesel. No
momento, o etanol (nome científico
do álcool da cana-de-açúcar)
alcança 45% da matriz energética
brasileira, segundo o MMA.
As queimadas da Amazônia,
de acordo com a organização
não-governamental Iniciativa
Verde, respondem por aproximadamente
70% das emissões brasileiras
de gases do efeito estufa. “O mais urgente,
em questão de mudança
climática, é estancar
as queimadas na Amazônia a qualquer
custo. É inadmissível
que o país tenha essa postura
indolente em relação a
um crime ambiental dessa monta”, reivindica
o diretor da Iniciativa Verde, Osvaldo
Martins.
“O nosso principal
vilão das emissões brasileiras
são os desmatamentos na Amazônia.
Se não fossem os desmatamentos
na Amazônia o Brasil seria um
país que emitiria muito pouco,
porque os desmatamentos aumentam muito
essas emissões”, concorda o climatologista
Carlos Nobre, pesquisador do Centro
de Previsão do Tempo e Estudos
Climáticos do Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais (Cptec-Inpe).
O governo brasileiro
conseguiu reduzir em 52% o desmatamento
da Amazônia nos últimos
dois anos. De acordo com o MMA, a redução
do desmatamento evitou a emissão
de cerca de 430 milhões de toneladas
de gás carbônico na atmosfera.
Outra atitude tomada para evitar as
queimadas foi a criação
de novas unidades de conservação
federal, que atualmente já superam
50 milhões de hectares.
O consumidor, por
sua vez, também pode contribuir
para a diminuição das
queimadas na Amazônia. Nobre lembra
que o cidadão é quem consome
a madeira que muitas vezes é
extraída ilegalmente, com desmatamentos
ilegais. Ou então consome a carne
da pecuária que invadiu a floresta
com queimadas ilegais para plantar pasto.
“O consumidor consciente,
o consumidor responsável, [verifica]
a origem dos produtos. Ele vai olhar
os produtos que vêm da Amazônia
e vai olhar a origem. Se não
for legal, ele não consome. Como
isso o consumidor estará dando
uma enorme contribuição
à redução dos desmatamentos
na Amazônia que, como eu falei,
é a principal fonte de emissões
de gases do efeito estufa”.
+ Mais
Secretário
do Acre e secretária do WWF apontam
dificuldades de integração
na Amazônia
4 de Março
de 2007 - Gilberto Costa - Repórter
da Rádio Nacional da Amazônia
- Brasília - A natureza aproxima,
mas as questões institucionais
e políticas podem afastar. Essa
é a opinião do secretário
de Planejamento do Acre, Gilberto Siqueira,
especialista em projetos de cooperação,
sobre a necessidade da integração
e aproximação entre os
países amazônicos. Ele
comentou a declaração
da secretária-geral da Organização
do Tratado de Cooperação
Amazônica (OTCA), Rosália
Arteaga Serrano, de que as questões
ambientais não têm fronteiras
e, portanto, a integração
dos países da região é
“um imperativo geográfico”.
“O Brasil sempre
andou de costas para os vizinhos sul-americanos,
principalmente para os da Amazônia”,
opina Siqueira. “A região sempre
foi periferia. Nunca cuidamos do potencial
de contribuição econômica,
social e científica.”
“A Amazônia
nunca foi nossa prioridade”, concorda
a secretária-geral da organização
não-governamental (ONG) WWF no
Brasil, Denise Hamu. A entidade também
tem escritórios próprios
na Bolívia, Colômbia e
Peru. Um escritório divide as
atribuições na Guiana
e no Suriname. Na Venezuela e no Equador
a representação é
feita com outra entidade associada.
Para Hamu, todos os
países da Amazônia Continental
padecem com problemas de desmatamento,
extração ilegal de madeiras,
mineração, ocupação
desordenada e má-gestão
dos recursos hídricos.
Gilberto Siqueira
aponta para “problemas parecidos” entre
os países, mas vê “diferenças
na resolução e na capacidade
de controlá-los”. Segundo ele,
há diferenças na maturidade
institucional e na legislação,
em alguns países (caso do Brasil)
mais rígida.
A questão da
“maturidade institucional” é
reconhecida por Rosália Arteaga
Serrano, da OTCA, que ressalta a dificuldades
para os países produzirem dados
agregados sobre a região e para
fazer monitoramento de seus territórios.
O Brasil é o único que
conta com sistemas de satélite
que acompanham a evolução
do desmatamento.
Para o secretário
de planejamento do Acre, ainda há
dissonâncias e conflitos, como
acontece na fronteira do estado com
o Peru por causa das diferenças
nas políticas de concessão
de terra e para extração
de madeira. “Mas temos isso aqui dentro
do Brasil, entre os estados, como acontece
entre o Acre e Rondônia”, pondera.
Denise Hamu lembra
que as obras de infra-estrutura como
a pavimentação de estradas,
ligações de gasoduto e
a construção de hidrelétricas
– a exemplo dos projetos de duas usinas
no Rio Madeira (em fase de licenciamento
ambiental) –, também são
foco de divergência. Recentemente,
a Bolívia solicitou que a construção
das hidrelétricas no Rio Madeira
venha a ser intermediada pela OTCA,
diz sua secretária-geral, Rosália
Arteaga Serrano.
Além da possibilidade
de resolver conflitos e de ser “um instrumento
poderoso de integração”,
a OTCA é reconhecida pela “boa
vontade de ouvir a sociedade civil e
permitir que ela participem das suas
políticas”, elogia Denise Hamu,
do WWF.