26/03/2007 - Rafael Imolene - O Brasil começa
a coordenar a partir desta semana a elaboração
de planos de combate à desertificação
e degradação de solo em nações
que integram a Comunidade dos Países
de Língua Portuguesa (CPLP). Serão
realizados trabalhos conjuntos entre os oito
países para que os primeiros resultados
sejam apresentados na Conferência das
Partes (COP), com realização
prevista para o mês de setembro, em
Madri, na Espanha.
Além do Brasil, compõem a CPLP
Angola, Portugal, Timor-Leste, Moçambique,
Cabo Verde, São Tomé e Príncipe
e Guiné-Bissau. Para comandar as equipes
foi indicado também um brasileiro,
o coordenador-técnico do Programa de
Combate à Desertificação
do Ministério do Meio Ambiente, José
Roberto Lima. "Os planos de combate à
desertificação e degradação
do solo em toda a comunidade terão
como modelo o relatório brasileiro,
que contempla não só a implementação
de programas, mas também a captação
de recursos", diz Lima.
A escolha do Brasil como coordenador ocorreu
durante a 5ª Sessão do Cric (Comitê
de Revisão da Implementação
da Convenção das Nações
Unidas para o Combate à Desertificação
- UNCCD), realizada de 12 a 21 de abril em
Buenos Aires. Dois dos países que compõem
a CPLP, Angola e Moçambique, possuem
extensos territórios na África,
continente assolado por problemas decorrentes
de aridez e degradação do solo,
fator que evidencia a responsabilidade brasileira
na construção de planos para
mitigar seus efeitos. O trabalho será
formulado em conjunto com a GTZ, a agência
de cooperação técnica
alemã, umas das principais parceiras
do Brasil em programas ambientais.
Também na capital argentina ficou
definida a coordenação do Brasil
para auxiliar a elaboração do
mesmo plano para os países da América
Latina e Caribe, inclusive a reprodução,
na América Central, do Programa Um
Milhão de Cisternas, que foi constituído
com participação do MMA. O projeto
Um Milhão de Cisternas é baseado
na mobilização social para possibilitar
a convivência com o semi-árido.
Para auxiliar o Paraguai, que sofre com degradação
de solo, o Brasil intermediará diálogos
com agências internacionais de doadores.
O objetivo é que essas agências
adotem no vizinho as mesmas políticas
aplicadas em programas brasileiros. O grupo
de trabalho de combate à desertificação
do Mercosul apresentará seus resultados
antes da próxima reunião dos
ministros do Meio Ambiente da região,
prevista para o segundo semestre. As indicações
do Brasil para coordenar trabalhos em diferentes
blocos é conseqüência do
reconhecimento conferido ao Programa de Ação
Nacional de Combate à Desertificação
(PAN), do governo brasileiro, apresentado
durante a sessão do Cric em Buenos
Aires.
ONU lança esforço para
popularizar tema da desertificação
na América Latina
21/03/2007 - Rafael Imolene - A Convenção
das Nações Unidas para o Combate
à Desertificação (UNCCD,
na sigla em inglês), amparada por organizações
não-governamentais, iniciou um trabalho
de comunicação para massificar
o tema da desertificação na
América Latina. Depois da África,
o continente é o que mais sofre com
os efeitos do fenômeno, sempre associado
à pobreza e ao subdesenvolvimento.
Mais do que miséria, a desertificação
provoca imigração em massa,
degradação do solo, perda de
biodiversidade e, conseqüentemente, redução
das riquezas do país, desigualdade
social e aquecimento global.
Para alcançar a opinião pública
da América Latina, a ONG argentina
Fundacion del Sur, integrante da Rede Internacional
de ONGs sobre Desertificação
(RIOD), reuniu esta semana em Buenos Aires
jornalistas de países da região
para participar de workshops. As apresentações
e debates fizeram parte da 5ª Sessão
do Cric (Comitê de Revisão da
Implementação da Convenção),
realizada desde o dia 12 de março em
um centro de convenções montado
nas dependências da Sociedade Rural
Argentina (La Rural). Estiveram presentes
profissionais do Chile, Honduras, Peru, Argentina
e Brasil.
De acordo com o coordenador-técnico
do Programa de Combate à Desertificação
do Ministério do Meio Ambiente, José
Roberto Lima, a popularização
do tema proporcionará beneficios não
só à América Latina,
mas a todo o mundo. "Dentro de 60 anos,
estima-se que 50% da população
mundial estará convivendo diretamente
com a desertificação. Para que
não existam os chamados 'exilados ambientais',
que provocariam gravíssimos problemas
populacionais e de recursos naturais nas áreas
úmidas, a desertificação
precisa ser combatida em todo o mundo imediatamente",
diz. "E a melhor forma é conscientizar
toda a opinião pública desde
já", afirma o coordenador.
No Brasil o tema obteve destaque na mídia
nos anos 1980, quando o sertão nordestino
foi assolado por uma seca de cinco anos. Após
investimentos que minimizaram seus efeitos,
o assunto nunca mais retornou à mídia
com a devida importância, mesmo que
hoje vivam 31 milhões de brasileiros
em regiões áridas, semi-áridas
e subúmidas secas. Em outros países
da América Latina, onde o problema
é mais grave, jornalistas estrangeiros
disseram que existe uma certa "acomodação"
em relação ao tema.
Para Juan Luis Merega, da Fundacion del Sur,
o assunto precisa ganhar importância.
Entre outros motivos, porque a utilização
sustentável do solo e recursos naturais
dessas áreas poderá representar
um impactante crescimento econômico
nos países da região, gerando
aquecimento do mercado consumidor e maior
vigor comercial no bloco. No Peru, por exemplo,
cerca de 80% da população vive
em áreas desertificadas ou suscetíveis
à desertificação. A inclusão
social desses 22 milhões de habitantes
terá como conseqüência um
aumento significativo no mercado consumidor,
avaliam estudos.
Segundo o diretor-executivo da organização
peruana Proterra, Carlos Andaluz Westreicher,
na América Latina poucos países
executam medidas satisfatórias de combate
ao problema, sendo que alguns sequer possuem
projetos de mitigação. "O
desmatamento desenfreado, a contaminação
do solo e a agricultura predatória
agravam ainda mais o processo de desertificação.
É urgente articular programas nesse
setor articulados com outras convenções
da ONU, como a de Mudanças Climáticas
e a da Biodiversidade", diz Westreicher.
Das convenções da ONU, a UNCCD
é a que conta com o maior suporte de
ONGs do mundo todo. A RIOD, Rede Internacional
de ONGs sobre Desertificação,
no Brasil tem apoio da Articulação
no Semi-Árido, que sozinha reúne
cerca de mil organizações e
entidades. Essa malha de organizações
tem dado condições para a UNCCD
atuar em todos os continentes e, a partir
de agora, trabalhar para mobilizar os meios
de comunicação e sensibilizar
a opinião pública.
Economia latino-americana terá
crescimento com combate à desertificação
20/03/2007 - Rafael Imolene - Especialistas
latino-americanos de meio ambiente afirmaram
em Buenos Aires, nesta terça-feira
(20), que o combate à desertificação
e seus efeitos é uma das condições
para determinar o índice de crescimento
econômico dos países da região
nas próximas décadas. Em evento
da 5ª Sessão do Cric (Comitê
de Revisão da Implementação
da Convenção das Nações
Unidas de Combate à Desertificação),
os participantes apresentaram estatísticas
que revelam a degradação nas
nações latino-americanas e como
investimentos no combate ao fenômeno
podem significar uma mudança na economia
regional.
O Brasil vive uma situação
considerada confortável se comparado
a seus vizinhos. Aqui, 31 milhões de
habitantes povoam as áreas suscetíveis
à desertificação. No
Peru, por exemplo, são mais de 20 milhões
de pessoas nessas condições.
Embora o número absoluto no Brasil
seja maior, proporcionalmente a situação
no Peru é muito mais grave. Enquanto
no Brasil os 31 milhões representam
17% da população, no Peru cerca
de 80% povoam as áreas consideradas
secas.
Em maior ou menor grau, as preocupações
são as mesmas. "Se as medidas
necessárias para combater a pobreza
nessas áreas não forem adotadas
rapidamente, corre-se o risco de haver uma
migração em massa", afirma
o coordenador-técnico do Programa de
Combate à Desertificação
do Ministério do Meio Ambiente, José
Roberto Lima, que acompanha os trabalhos em
Buenos Aires desde o dia 12. "Isso provocaria
impactos que nem o Brasil, tampouco outros
países da região, tem condições
de enfrentar. Haveria um desequilíbrio
ambiental como nunca aconteceu antes",
diz. Para efeito de comparação,
os 31 milhões de brasileiros que habitam
áreas secas representam mais que a
soma das populações dos estados
de Rio de Janeiro, Santa Catarina, Para e
Mato Grosso. Ou mais que toda a população
peruana, de 28 milhões.
Manter as populações nos lugares
de origem é uma das premissas dos programas
de desertificação. Nesse ponto,
o Brasil já está adiantado,
pelo fato de os programas sociais do governo
brasileiro coincidirem com o que propõe
a convenção. O Bolsa Família
e o Seguro Safra são dois exemplos
de programas que contemplam as populações
atingidas pela seca. Para o engenheiro agrônomo
José Luis Panigatti, do Instituto Nacional
de Tecnologia Agropecuária da Argentina,
combater a degradação do solo
agora é muito mais vantajoso do que
sofrer suas conseqüências no futuro.
"Os resultados são obtidos a longo
prazo. Não devemos esperar mais para
iniciar investimentos nessa área, pois
os custos para reparar a degradação
depois serão muito maiores. E as conseqüências,
imprevisíveis", diz.
Cerca de três quartos da Argentina
são assolados por regiões secas,
onde vivem 30% da população.
Segundo um estudo apresentado por Panigatti,
uma área de La Rioja, no noroeste argentino,
produzia 5 kg de carne por hectare há
poucos anos. Depois da aplicação
de tecnologias de combate à degradação
do solo, a produtividade triplicou, passando
para 15 kg por hectare. "É uma
amostra do potencial de crescimento econômico
nessas áreas", afirmou. No mundo,
22% dos alimentos sao produzidos em regiões
secas. O mesmo percentual poderia ser alcançado
pelo Nordeste brasileiro, de acordo com avaliação
do MMA e de ONGs presentes ao evento em Buenos
Aires. Assim, não só a migração
seria contida, como também haveria
maior crescimento econômico do Nordeste
e melhor distribuição de renda
no país.
Autoridades discutem desertificação
na Embaixada brasileira, em Buenos Aires
19/03/2007 - Rafael Imolene - Embaixada brasileira
em Buenos Aires sediou na noite da última
sexta-feira (16) uma reunião do IIWG
(Grupo de Trabalho Internacional) da Convenção
das Nações Unidas para o Combate
à Desertificação (UNCCD,
na sigla em inglês). O grupo está
elaborando o planejamento para conduzir as
ações da convenção
pelos próximos 10 anos. Como a 5ª
Sessão do Comitê de Revisão
e Implementação da Convenção
(Cric) está sendo realizada na capital
argentina, a embaixada do Brasil cedeu um
espaço para autoridades de inúmeros
países se reunirem e adiantarem o planejamento
que será apresentado na próxima
Conferência das Partes (COP), programada
para o segundo semestre deste ano.
O Brasil esteve representado pelo coordenador-técnico
do Programa de Combate à Desertificação
do Ministério do Meio Ambiente, José
Roberto Lima. Com outros dois representantes
da América Latina, Lima compõe
o bloco que executa o planejamento em nome
de toda a região. Também estiveram
reunidos representantes da Europa, Ásia,
África e Oceania.
A reunião na Embaixada brasileira
revela a crescente aproximação
do país com o tema da desertificação,
considerado um dos principais problemas ambientais
a ser combatido neste século, por estar
associado à pobreza e a eventos climáticos
extremos, como ondas de calor, redução
de chuvas, tufões e ciclones. Além
disso, a desertificação é
causa e conseqüência do aquecimento
global, a maior preocupação
ambiental da humanidade para este século.
Com esta aproximação, o governo
brasileiro ganha forca para apoiar um candidato
do país para a direção-executiva
da UNCCD. E também reúne condições
de ganhar suporte de outros países
da América do Sul e do resto do mundo.
O nome brasileiro para o cargo, já
apoiado pela ministra do Meio Ambiente, Marina
Silva, é o do economista Antonio Rocha
Magalhães.
As eleições para o cargo estão
previstas para o mês de setembro, e
Magalhães deverá ter sua candidatura
formalizada pelo Ministério das Relações
Exteriores nas próximas semanas. Cearense,
Magalhães exerceu atividades nos governos
federal e de seu estado. Foi consultor de
organizações nacionais e internacionais,
como o Pnud, Pnuma, Banco Mundial, BID, IICA
e Cepal. Realizou a Conferência Internacional
sobre Desenvolvimento Sustentável e
Impactos Climáticos, entre outros trabalhos
de consultoria.
Países mostram interesse por
relatório brasileiro de combate à
desertificação
19/03/2007 - Rafael Imolene - O relatório
do governo brasileiro contendo estratégias
de combate à desertificação,
apresentado no dia 16 de março em Buenos
Aires, foi recebido com muito interesse por
representantes dos 70 países que acompanharam
o evento. A apresentação integrou
a programação da 5ª Sessão
do Cric (Comitê de Revisão da
Implementação da Convenção
das Nações Unidas de Combate
à Desertificação), realizada
desde o dia 12 em um centro de convenções
montado nas dependências da Sociedade
Rural Argentina.
A delegação angolana se manifestou
favoravelmente. Segundo seus representantes,
Angola havia realizado uma pesquisa extensa
em programas de combate à desertificação
de países do mundo todo, com a finalidade
de adotar um que atendesse suas necessidades.
É na África, onde se localiza
Angola, que a desertificação
provoca mais pobreza e riscos de mortalidade
em massa no futuro, em decorrência da
falta de alimentos e água.
No entanto, o relatório do programa
brasileiro foi o que mais contemplou os anseios
dos representantes angolanos. Eles afirmaram
que vão se basear na experiência
brasileira para montar sua própria
estratégia de combate ao fenômeno.
Estarão, assim, respaldados por um
documento elaborado durante três anos
sob coordenação do Ministério
do Meio Ambiente do Brasil. O Uruguai também
elogiou o trabalho, considerando que o Brasil
ocupa uma função estratégica
no combate à desertificação
no âmbito do Mercosul.
A apresentação brasileira foi
coordenada pelo consultor responsável
pelo relatório, Silvio Santana, da
Fundação Grupo Esquel Brasil.
A mesa esteve composta, ainda, pelo embaixador
do Brasil na Argentina, Mauro Vieira; do secretário
de Recursos Hídricos do MMA, João
Bosco Senra; deputados federais Edson Duarte
e José Francisco Paes Landim, além
do chefe da delegação alemã,
Ralf Wirwinski, e de Gertjan Beekman, do Instituto
Interamericano de Cooperação
para a Agricultura (IICA).
O relatório, oficialmente chamado
de Programa de Ação Nacional
de Combate à Desertificação
(PAN), foi elaborado por diferentes ministérios,
governos estaduais, organizações
não-governamentais, universidades e
empresas. "Nos últimos quatro
anos tivemos uma grande atenção
das autoridades brasileiras", afirma
o consultor Silvio Santana. "A política
social do atual governo coincide com as metas
de combate à desertificação,
como, por exemplo, redução da
pobreza, da fome e da desigualdade social,
além de manter as populações
em seus locais de origem", diz.
De acordo com Santana, outros países
se impressionaram ao perceber que os esforços
pela elaboração do relatório
no Brasil reuniu diferentes segmentos do governo
e da sociedade. Ele defende a integração
como fator fundamental, lembrando que somente
o Grupo de Trabalho da Articulação
do Semi-Árido possui mais de mil entidades,
inclusive igrejas e sindicatos. "Nenhum
outro país constituiu um grupo de trabalho
parlamentar de combate à desertificação.
O Brasil está dando um exemplo",
afirma Silvio Santana. Os trabalhos do Brasil
e de países de todos os continenetes
no Cric continuam na capital argentina até
quarta-feira (21).