26
de Março de 2007 - Alana Gandra - Repórter
da Agência Brasil - Rio de Janeiro -
O presidente da Conservation International
do Brasil (CI-Brasil), Gustavo Fonseca, afirmou
hoje (26) que a expansão da fronteira
agrícola para a produção
de biocombustíveis no país pode
ir contra ou a favor dos preceitos de preservação
do meio ambiente.
“A questão agora
é como essa expansão se dá:
se de uma maneira responsável, de uma
maneira sustentável, ou como ocorreu
no passado, que deixou um passivo ambiental
e social enorme”, alertou.
Fonseca participou da abertura
do seminário A Expansão da Agro-Energia
e os Impactos sobre os Ecossistemas Brasileiros,
promovido pela organização não-governamental
em parceria com a Fundação Brasileira
pelo Desenvolvimento Sustentável (FBDS),
na sede do Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES).
E afirmou que existe oportunidade
de se realizar essa expansão de modo
responsável, agora que o mundo vê
a importância da bio-energia no controle
das mudanças climáticas e na
geração de renda e de benefícios
sociais. Segundo ele, não basta simplesmente
falar que a expansão da agricultura
destinada à produção
de biocombustíveis será feita
em áreas degradadas, sem discutir a
fundo a questão.
A ampliação
da cultura da cana-de-açúcar,
acrescentou, pode ocorrer em função
da existência de pastagens e de áreas
degradadas. Na prática, entretanto,
os resultados podem ser diferentes. Na avaliação
de Fonseca, "a dinâmica da cadeia
produtiva costuma ser mais forte e mais difícil
de se prever do que a intenção
original de se direcionar o cultivo para o
espaço geográfico pré-selecionado".
É necessário,
frisou, o estabelecimento de padrões
de qualidade ambiental para o processo produtivo,
com critérios de uso da terra que inibam
a abertura de novas frentes de desmatamento
em áreas consideradas prioritárias
para a conservação da natureza.
Esses critérios, segundo ele, poderiam
servir de embrião para a certificação
dos biocombustíveis, partindo de experiências
de outras commodities agrícolas que
já estão no mercado.
A utilização
da agricultura familiar para a produção
de biocombustíveis, evitando a degradação
do meio ambiente com o desenvolvimento dos
chamados municípios-modelo, é
um dos caminhos que podem ser adotados, admitiu
Gustavo Fonseca. A idéia é defendida
pelo presidente da FBDS, Israel Klabin.
Fonseca destacou que os
biocombustiveis podem representar uma vantagem
comparativa para o Brasil, que domina a tecnologia
de escala. Ele lembrou, por outro lado, que
o crescimento da produção do
etanol vai ultrapassar as fronteiras brasileiras.
Usando a tecnologia do Brasil, com capital
estrangeiro e áreas de outros países,
como os da África, ele disse ver possibilidade
de ampliar a produção de biocombustíveis.
"O Brasil foi trazido
para o palco de discussão em função
dos avanços alcançados na área
do etanol nos últimos 30 anos e, mais
recentemente, na de biodiesel", lembrou.
Sobre a possibilidade de substituição
dos combustíveis fósseis em
automóveis, destacou que o cenário
menos danoso para a sociedade nos próximos
50 anos significaria reduzir a taxa de emissão
atual, de 14 bilhões de toneladas de
gás carbônico na atmosfera, para
7 bilhões de toneladas.
Um dos cenários propostos
para auxiliar nessa meta seria eliminar 1
bilhão de toneladas de carbono por
ano com uso do etanol por uma frota de 2 bilhões
de carros: para isso, segundo Fonseca, seriam
necessários 250 milhões de hectares,
ou o equivalente a 1/6 de toda a área
cultivada no mundo. Esse número representa
50 vezes a produção de etanol
do Brasil. Por isso, advertiu, compatibilizar
a expansão da produção
de biomassa com a proteção dos
ecossistemas não será tarefa
fácil.
A Conservation International
é uma organização ambientalista
privada criada em 1987, dedicada à
conservação e utilização
sustentada da biodiversidade. Atualmente,
trabalha para preservar ecossistemas ameaçados
de extinção em mais de 30 países,
em quatro continentes.
+ Mais
Fundação alerta
para efeitos da expansão da agroenergia
nos ecossistemas brasileiros
25 de Março de 2007
- Alana Gandra - Repórter da Agência
Brasil - Rio de Janeiro - A legislação
brasileira não é suficiente
para garantir a preservação
dos ecossistemas, diante da expansão
das plantações destinadas à
produção de agroenergia. A afirmação
é do presidente da Fundação
Brasileira pelo Desenvolvimento Sustentável,
Israel Klabin, para quem também falta
um monitoramento adequado sobre áreas
frágeis.
Ele citou o sul do estado
de Mato Grosso, "que foi devastado pela
soja, além de perigos que ocorrem com
a pressão da agricultura sobre a Amazônia
e, eventualmente, sobre o Pantanal".
A partir de amanhã
(26), a Fundação e a instituição
ambientalista Conservation International realizam
no Rio seminário para avaliar o tema.
O encontro será na sede do Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES), onde cerca de 160 especialistas discutirão
a necessidade de regulamentação
e a elaboração de estudo detalhado
sobre "os impactos ambientais dessa nova
fronteira de crescimento", segundo Klabin.
Entre esses impactos, ele
enumerou os que incidirão sobre os
ecossistemas frágeis, como a Amazônia
e o Pantanal, ou sobre os lençóis
freáticos (água subterrânea)
e aqüíferos (unidades geológicas
saturadas que fornecem água a poços
e nascentes) no Sul, no Oeste e no cerrado.
Klabin prevê também impacto com
relação às matas ciliares
(porções de matas próximas
a rios), que tenderão a desaparecer.
“Enfim, nós temos
várias preocupações que
gostaríamos de expor durante esse seminário
para que, eventualmente, elas se transformem
em políticas públicas”, disse.
Além dos impactos
ambientais, ele alertou para a possibilidade
de impactos sociais, "o risco de o Brasil
transferir para o campo os problemas e os
conflitos urbanos". Nesse contexto, sugeriu,
"a agricultura familiar poderia desempenhar
um importante papel".
Klabin disse que a entidade
pretende aprofundar estudos no chamado arco
de desflorestamento da Amazônia: "Nós
temos nessa fronteira uma área já
devastada equivalente à da França,
mais a Bélgica, mais a Holanda. Essa
área poderia ser recuperada por meio
de unidades agroflorestais, onde entrassem
palmáceas, agricultura de subsistência
e um sistema cooperativado. Se for adequadamente
gerida, pode render um excelente resultado
para o país".
O entrave tecnológico
que ainda impede o aproveitamento da palha
da cana-de-açúcar para a produção
de álcool, previu o presidente da Fundação,
será resolvido nos próximos
anos, com o desenvolvimento da técnica
de hidrólise enzimática celulósica
(produção de etanol a partir
da celulose). "A vantagem, em termos
ambientais, pode ser a eliminação
das queimadas", argumentou.
BNDES dobra ano a ano financiamento
para biocombustíveis
26 de Março de 2007
- Alana Gandra - Repórter da Agência
Brasil - Rio de Janeiro - O Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES) tem dobrado, ano a ano, seus empréstimos
para investimento em produção
de biocombustíveis, segundo o chefe
do Departamento de Meio Ambiente do banco,
Eduardo Bandeira de Mello. Em 2004, o banco
começou a financiar o setor com pouco
mais de R$ 500 milhões, segundo ele.
Passou para R$ 1 bilhão em 2005 e,
no ano passado, os desembolsos superaram os
R$ 2 bilhões.
São 62 projetos para
produção de biodiesel na carteira
do BNDES com um valor total de R$ 7,2 bilhões
em empréstimos. Somente para produção
de etanol, os recursos do banco poderão
alcançar R$ 6,5 bilhões.
Bandeira de Mello revelou
que o consumo de diesel no Brasil foi de 39
bilhões de litros em 2005. Mas a projeção
é que alcance 50 bilhões de
litros em 2013. O mercado potencial atual
para o biodiesel é de 840 milhões
de litros com a mistura diesel-biodiesel (B2)
que será obrigatória a partir
de 2008, chegando a cerca de 2,5 bilhões
de litros em 2013, com a mistura B5, ou seja,
com um adicional obrigatório de 5%
de biodiesel ao diesel. No final de 2006,
a carteira de projetos de biodiesel no BNDES
somava 1 bilhão de litros.
Números cedidos pelo
chefe do departamento de Meio Ambiente do
BNDES mostram que a produção
de cana-de-açúcar e álcool
entre 2005 e 2006 era de 386 milhões
de toneladas. Esse número deverá
elevar-se para 685 milhões de toneladas
entre 2012/13. Do mesmo modo as 330 usinas
hoje existentes atingirão um número
superior a 400 até 2013.
A área cultivada
que era de 5,6 milhões de hectares
até o final do ano passado, deverá
chegar a 8 milhões de hectares. A produção
de álcool de 16 bilhões de litros
deverá subir para 25 bilhões
de litros em sete anos, com as exportações
elevando-se de 2,6 bilhões de litros
para 4 bilhões de litros no período.
O consumo interno também deverá
mostrar expansão, passando de 13,4
bilhões de litros para 21 bilhões
de litros, informou Bandeira de Mello.
Projetos financiados pelo
BNDES garantiriam mistura de biodiesel no
país
26 de Março de 2007
- Alana Gandra - Repórter da Agência
Brasil - Rio de Janeiro - O Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES) está financiando projetos que,
quando ficarem prontos, vão permitir
a produção de 1,079 bilhão
de litros de biocombustíveis. A informação
foi passada pelo diretor da Área Social
e de Crédito do BNDES, Élvio
Gaspar, ao participar da oficina “Expansão
da Agro-Energia e Seus Impactos sobre os Ecossistemas
Brasileiros”, organizado pela Fundação
Brasileira pelo Desenvolvimento Sustentável.
Os projetos financiados
pelo BNDES têm capacidade de produzir
840 milhões de litros de biodiesel.
O volume seria necessário para atender
a mistura de 2% no diesel que será
obrigatória a partir de janeiro de
2008, de acordo com determinação
governamental. Atualmente, o consumo de diesel
no Brasil é de 42 bilhões de
litros, segundo Gaspar.
Do total em carteira, o
banco já tem aprovados pedidos para
produção de 500 milhões
de litros. A expectativa é que as empresas
já comecem a produzir este ano. Élvio
Gaspar informou que cerca de 50% dos pedidos
de financiamento baseiam a produção
de biodiesel a partir da soja. Não
há limitação de recursos
no banco para apoio à produção
de biocombustíveis, destacou Gaspar.
No ano passado, os desembolsos
do BNDES para a área de biocombustíveis
atingiram R$ 2,1 bilhões, dobrando
as liberações de 2005 que já
foram o dobro das registradas no ano anterior.
“Nós estamos dobrando ano a ano desde
2004”. Os principais produtos são biodiesel
e etanol, este concentrando o maior volume.
O diretor do BNDES avaliou
que embora o mundo esteja olhando com mais
atenção para os riscos da atividade
humana ao meio ambiente, “a ficha já
caiu para o BNDES há muito tempo”.
Em 2004, o banco constituiu um departamento
de Meio Ambiente que cuida de dar aos projetos,
“na partida”, ou seja, quando entram na instituição,
uma classificação inicial ou
pré-análise, visando garantir
que eles tenham sustentabilidade ambiental,
disse Gaspar.
No início do ano
passado, o BNDES criou um programa especial
para recuperação de áreas
degradadas. Em relação ao trabalho
escravo, Élvio Gaspar afirmou que em
geral isso acontece depois do desembolso dos
recursos do banco.
Para inibir essa prática,
o BNDES promoveu no ano passado uma alteração
em seus modelos contratuais, de modo que ao
assinar o contrato o empresário sabe
que se o nome dele ou de sua empresa aparecer
no site do Ministério do Trabalho como
autuado por trabalho análogo ao escravo,
ele vai ter seu contrato rescindido e vencido
antecipadamente. Isso significa que ele terá
que devolver imediatamente todos os recursos
emprestados, sem prazo, frisou Gaspar. Até
o momento, porém, não há
registro de nenhuma rescisão por trabalho
escravo de tomador de recursos junto ao banco,
salientou.
União Européia
vai sediar Conferência Internacional
sobre Biocombustíveis
21 de Março de 2007
- Mylena Fiori - Repórter da Agência
Brasil - Brasília - O presidente Luiz
Inácio Lula da Silva deve ser um dos
principais palestrantes da Conferência
Internacional de Biocombustíveis, que
acontecerá em Bruxelas em julho. De
acordo com o diretor-geral de Relações
Exteriores da Comissão Européia,
Eneko Landaburu, a idéia é conscientizar
a população mundial sobre o
uso de combustíveis alternativos a
partir da experiência brasileira na
área.
“Pensamos que é o
momento adequado de dar a palavra a grandes
personagens que sabem do tema para que estas
idéias penetrem na opinião pública”,
disse Landaburo ao final da 10ª Reunião
da Comissão Mista Brasil-União
Européia, nesta quarta-feira, em Brasília.
Segundo Landaburo, nos últimos meses
a população européia
despertou para a questão energética
devido à suspensão de exportações
de gás da Rússia para a Ucrânia,
o que afetou vários países europeus,
e também por influência do documentário
“Uma verdade Inconveniente”, do ex-vice presidente
norte-americano Al Gore, sobre os efeitos
das mudanças climáticas.
“Houve uma tomada de consciência
enorme, da opinião pública,
sobre segurança energética,
sobre temas de compatibilidade ecológica
com fontes energéticas, sobre a necessidade
de se iniciar a produção de
energia renovável”, relatou
A Conferência de Bruxelas
discutirá questões políticas
e econômicas relacionadas ao desenvolvimento
da produção de biocombustíveis
a partir de quatro temas chaves: que tipo
de mercado internacional se quer criar, quais
as consequências para os países
em desenvolvimento, quais os desafios ambientais
e quais os esforços tecnológicos
necessários.
Além de tratar da
Conferência sobre biocombustíveis,
a 10ª Reunião Mista Bilateral
abordou os principais temas da agenda bilateral
Brasil-União Européia, nas áreas
de comércio, finanças, cooperação
técnica, meio ambiente, energia, desenvolvimento
social, integração regional,
educação e cultura, ciência
e tecnologia, e sociedade de informação.
U dos temas em pauta foi a cooperação
entre Brasil e União Européia
em questões sanitárias e fitossanitárias.
Segundo Landanuro, a União Européia
está disposta a mandar técnicos
europeus para treinamento de profissionais
no Brasil, de forma a facilitar as exportações
brasileiras para a União Européia.
“Não podemos aceitar,
na União Européia, a entrada
de produtos que não refletem os requisitos
fixados em uma legislação válida
para os 17 países. Tivemos uma experiência
negativa com a entrada de carne que não
atendia a estes requisitos”, afirmou o diretor
da Comissão Européia. “Não
se trata de condenar, mas de encontrar soluções
para que os produtos que saiam do Brasil para
a Europa possam cumprir com os requisitos”,
explicou. Na reunião de hoje, a Comissão
Mista decidiu criar um comitê bilateral
para aprimorar o controle sanitário
e fitossanitário brasileiro com suporte
europeu.
Com relação
às negociações comerciais,
Landaburo reafirmou o compromisso europeu
com o sucesso da Rodada Doha da organização
Mundial do Comércio e disse que avanços,
hoje, dependem dos Estados Unidos. “A prioridade
é a solução no marco
de Doha, sabemos onde estamos de acordo e
em desacordo. Pensamos claramente que hoje
tem que haver um esforço maior e importante
por parte dos Estados Unidos para aportar
certos elementos de mudança que nos
permitiriam encontrar um compromisso geral.
As negociações
entre Mercosul e União Européia,
segundo ele, só devem ser retomadas
após a conclusão da Rodada Doha.
“O acordo com o Mercosul está condicionado
ao que teremos ou não como resultados
dessa negociação geral. Veremos,
em função do que se decida na
Rodada Doha, que complemento pode haver em
um acordo de associação bilateral
de regiões”, afirmou. “Não fechamos
as portas e as janelas. Dissemos: esperemos
um momento”.