20
Mar 2007 - As maiores fontes de abastecimento
de água do mundo - rios em todos os
continentes - estão secando ou severamente
ameaçados. Má gestão
e proteção inadequada indicam
que já não há como presumir
que estes rios correrão para sempre,
segundo a rede WWF.
No relatório "Os
dez rios mais ameaçados do mundo",
divulgado em antecipação ao
Dia Mundial da Água (22 de março),
a rede WWF enumera os rios que mais rapidamente
estão secando como resultado das mudanças
climáticas, poluição
e barragens.
“Todos os rios do relatório
simbolizam uma crise dos recursos hídricos,
que vem sendo sinalizada há anos, alarme
ao qual se tem feito ouvidos de mercador”,
disse Jamie Pittock, Diretor do Programa Global
de Água Doce da rede WWF. “Da mesma
forma como as mudanças climáticas
têm, agora, a atenção
dos governos e da iniciativa privada, queremos
que os governantes e lideranças percebam
a emergência enfrentada pela água
agora, não mais tarde”.
Cinco dos dez rios mencionados
no relatório estão na Ásia:
Yangtze, Mekong, Salween, Ganges e Indus.
O Danúbio, na Europa, os rios Prata
e Grande/Bravo - nas Américas -, a
bacia africana Nilo-Lago Vitória e
a australiana Murray-Darling também
compõem a lista.
Barragens ao longo do Rio
Danúbio - um dos maiores da Europa
- já destruíram 80% das áreas
inundáveis e áreas úmidas
da bacia. Mesmo sem o aquecimento que ameaça
degelar o Himalaia, o Rio Indus enfrenta escassez
devida à superexploração
de suas águas para a agricultura. As
populações de peixes, maior
fonte de proteínas e mais importante
fonte de vida para centenas de milhares de
famílias em todo o planeta, também
se encontram ameaçadas.
O Brasil, a Lei e o PAC
A bacia do Prata é
a segunda maior bacia da América do
Sul. É formada pelos rios Paraguai,
Paraná e Uruguai que juntos drenam
uma área correspondente a 10,5% do
território brasileiro, com 3,2 milhões
de km². Ela permeia passa pelos as fronteiras
do Brasil, Argentina, Bolívia, Paraguai
e Uruguai e já possui 27 grandes barragens.
O Prata é um dos rios mais ameaçados
do mundo pelo grau de fragmentação
que sofreu. Segundo Denise Hamú, secretária
geral do WWF-Brasil, a conseqüência
é a rompimento do equilíbrio
ecológico dos rios e o impacto social
em função do deslocamento de
milhares de pessoas. “Além disso, os
Governos não vêm aplicando as
recomendações da Comissão
Mundial das Barragens para os projetos de
represas”.
Os demais rios brasileiros
não estão livres de ameaças,
segundo Samuel Barrêto, coordenador
do Programa Água para a Vida de Gestão
e Conservação de Recursos Hídricos,
da ONG ambiental brasileira WWF-Brasil, que
compõe a rede mundial. “A Lei das Águas
está completando dez anos e há
avanços importantes como a criação
da Agência nacional de Águas
- ANA e a aprovação do Plano
Nacional de Recursos Hídricos (PNRH),
mas ainda existem lacunas e vulnerabilidades”,
afirma Barrêto.
O especialista também
inclui o componente climático como
um dos fatores de risco sobre a quantidade
e qualidade da água, comprometendo
a segurança hídrica de milhões
de brasileiros. “É também preciso
considerar o aspecto econômico”, avalia
Samuel, pois, segundo ele, o Plano de Aceleração
do Crescimento (PAC), da forma como foi apresentado,
não deixa claro como as diretrizes
ambientais e o capital natural irão
permear o projeto, deixando uma brecha para
o crescimento a qualquer custo, com degradação
dos recursos naturais, ameaçando o
nosso capital essencial, para a manutenção
dos negócios a médio e longo
prazos.
O relatório da rede
mundial conclama os governos a protegerem
melhor os recursos hídricos para garantir
os ecossistemas e a vida das pessoas.
“A conservação
de rios e áreas úmidas deve
ser vista como parte e parcela da segurança
nacional, saúde e sucesso econômico”,
acrescentou Pittock. “Devem-se incentivar
formas eficientes de utilização
dos recursos hídricos para a agricultura
e outros fins.”
A rede WWF acrescentou que
acordos de cooperação para a
gestão de recursos coletivos preconizados
pela Convenção dos Cursos D’água
das Nações Unidas devem ser
ratificados e financiados.
“A crise hídrica
é maior do que apenas os dez rios mencionados
neste relatório, mas ele reflete como
o crescimento descontrolado reduz a capacidade
de natureza de atender às nossas próprias
crescentes demandas”, concluiu Pittock. “Devemos
mudar nosso comportamento agora ou pagar o
preço em um futuro não muito
distante.”
+ Mais
Escola de etnia Guató
adota Cadernos de Educação Ambiental
26 Mar 2007 - Eles são
índios ou descendentes de índios
da etnia Guató e reúnem-se diariamente
na Escola Toghopanãa, localizada na
ilha Ínsua no rio Paraguai, a cerca
de 340 km de Corumbá (MS). A turma
de 33 alunos, com faixa etária variando
entre 15 e 60 anos, tem uma preocupação
comum: como vamos crescer, desenvolver, sem
destruir o lugar onde vivemos? As respostas
serão buscadas, este ano, também
nos Cadernos de Educação Ambiental
do WWF-Brasil. A doação de 50
exemplares para a escola foi feita pelo escritório
regional da ONG, em Corumbá, à
professora Giani Ramona da Silva.
A professora comenta que
os temas da destruição e da
necessidade de conservação ambiental
são fortes e constantes em toda a comunidade.
“Na ilha, o meio ambiente ainda está
muito bem preservado, mas é importante
aprender a cuidar mais. Por exemplo, a questão
do lixo é muito séria. Os Cadernos
de Educação Ambiental são
excelentes e vão nos ajudar a refletir
sobre nosso papel, as diversas situações
que encontramos e como buscar soluções”,
afirma.
Na reserva indígena
Guató vivem cerca de 200 pessoas que
plantam feijão, milho, abóbora,
mandioca e banana e também pescam.
As trocas comerciais ocorrem muito pouco por
causa da distância e da dificuldade
de transporte. A energia disponível
é a solar e o telefone mais próximo
está a mais de 15 km. O ensino formal
ocorre por meio do Projeto Saberes da Terra,
uma iniciativa do Ministério da Educação
voltada para o ensino no campo.
O foco do projeto Saberes
da Terra é a agricultura familiar e
auto-sustentabilidade. As aulas são
voltadas para a aplicação prática.
No período de dois anos, os alunos
devem estar formados no nível fundamental
de ensino, independente da escolaridade inicial
e da idade do aluno. O ritmo das aulas é
intenso. Elas ocorrem de segunda-feira a sábado,
num total de 36 horas semanais, 16 a mais
que no ensino tradicional urbano. Na aldeia
Guató estão estudando 18 homens
e 15 mulheres, atendidos por três professores.
As disciplinas oferecidas
são matemática, língua
portuguesa, língua espanhola, língua
étnica gautó e outra, chamada
arco ocupacional, que engloba agricultura,
a lida com os animais, saúde, meio
ambiente e também ética, associativismo
e cooperativismo. Giani conta que a escola
é muito carente em material didático.
Com a doação do WWF-Brasil,
cada aluno terá seu próprio
livro de educação ambiental.
“Esse material vai ajudar muito, pois já
foi concebido buscando a integração
das diversas disciplinas com a educação
ambiental. Os conteúdos poderão
ser aplicados no trabalho diário da
escola. Para nós, é uma ajuda
fantástica”, comemora Giani.
Os Cadernos de Educação
Ambiental foram produzidos em 2002 pelo WWF-Brasil
e o Instituto Ecoar para a Cidadania. São
compostos de livro-texto e guia de atividades,
ambos focados no meio ambiente do Pantanal.
A proposta é que somente conhecendo
o espaço em que se vive é que
se pode pensar nas atuações
locais. Na mensagem de estímulo aos
educadores é lembrado que cada ação
local em benefício do meio ambiente,
por menor que seja, pode se estender para
um espaço maior, cada vez maior, até
que atinja todo o planeta. Basta compromisso.
E isso os professores e alunos da Escola Toghopanãa
têm.
Parlamentares britânicos
visitam Congresso e ministérios
23 Mar 2007 - Os parlamentares
britânicos Lorely Burt (Partido Liberal-Democrata),
Rosie Cooper (Partido Trabalhista) e Mark
Simmonds (Partido Conservador) tiveram na
quarta-feira, dia 21/03, uma série
de debates e reuniões em Brasília.
Acompanhados da diretora do WWF-Brasil, Regina
Cavini, e da diretora de políticas
públicas do WWF-Reino Unido, Alison
Doig, o grupo visitou o Congresso, o Ministério
das Relações Exteriores e o
Ministério do Meio Ambiente.
Na Câmara, os membros
do parlamento britânico se reuniram
com representantes da Frente Parlamentar Ambientalista,
coordenada pelo deputado federal Sarney Filho.
Em cerca de 90 minutos de debate, foram discutidos
temas como mudanças climáticas,
reduções compensadas e eficiência
energética.
A parlamentar Rosie Cooper
ressaltou que é possível fazer
a economia crescer e ainda assim reduzir as
emissões de carbono. “Fizemos assim
no Reino Unido durante os últimos anos,
por isso estamos em condições
de liderar a luta contra as mudanças
climáticas no mundo”, destacou.
O deputado federal Antonio
Carlos Mendes Thame solicitou aos britânicos
que o Reino Unido apóie a inclusão
dos biocombustíveis na categoria de
bens ambientais na Rodada de Doha, o que faria
com que o etanol (álcool combustível)
brasileiro não sofra tarifação
ao ser exportado.
Lembrando que no Reino Unido
existe uma frente parlamentar multi-partidária
para lidar com as mudanças climáticas,
o deputado do Partido Conservador Mark Simmonds
defendeu que o Congresso brasileiro consiga
reunir os diferentes partidos em torno dos
desafios ambientais.
Representante do WWF-Brasil
na mesa, a diretora Regina Cavini elogiou
as discussões que aconteceram durante
o encontro entre os parlamentares brasileiros
e britânicos. “É muito importante
que o Poder Legislativo se torne um fórum
para debater as questões ambientais
e discutir soluções”, afirmou.
Os parlamentares britânicos,
os representantes do WWF-Brasil e do Reino
Unido tiveram reuniões também
no Ministério das Relações
Exteriores (MRE) e no Ministério do
Meio Ambiente. No MRE, o grupo foi recebido
pelo diretor do Departamento de Meio Ambiente
e Temas Especias, Luiz Alberto Figueiredo
Machado. Ele explicou a proposta brasileira
voltada para recompensar financeiramente países
em desenvolvimento que conseguirem reduzir
emissões de gases do efeito estufa.
No MMA, o grupo conversou
com Ruy de Góes, secretário
interino de Qualidade Ambiental e Fernando
Lírio, chefe da Assessoria para Assuntos
Internacionais. Os biocombustíveis
e a necessidade de se estabelecerem parâmetros
ambientais na cadeia produtiva do etanol ocuparam
posição de destaque na pauta
da reunião.
Brasília recebe o
Balão Panda no dia mundial da água
22 Mar 2007 - Uma manifestação
liderada pela SOS Mata Atlântica e apoiada
pelo WWF-Brasil mudou, nesta manhã,
o cenário da Esplanada dos Ministérios,
em Brasília. O evento, realizado no
dia mundial da água, comemorou, em
frente ao Congresso Nacional, os dez anos
da Lei das Águas, que regula a gestão
dos recursos hídricos do Brasil.
Para Cláudio Maretti,
superintendente de conservação
do WWF-Brasil, a lei brasileira é uma
das mais avançadas do mundo, mas é
necessário que se garanta a implementação
desses dispositivos legais. “A lei estabelece
que os Comitês de Bacia são as
unidades de planejamento da gestão
das águas no país. O Distrito
Federal, que deveria liderar o processo de
implementação da lei, não
tem, entretanto, nenhum Comitê de Bacia
em funcionamento”, conclui Maretti.
Durante a manifestação,
o Balão Panda, embaixador da Campanha
Água para Vida, Água para Todos,
do WWF-Brasil, realizou vários vôos
cativos (o balão permanece amarrado
ao solo) com crianças e adultos presentes.
As crianças também estenderam
no local uma imensa bandeira do Brasil.
Agora a tarde, a comemoração
segue para o Jardim Zoológico de Braília,
onde será realizado um ato ecumênico,
enquanto crianças despejam, nos manaciais
do local, 200 garrafas de água, que
representam os rios de todo o Brasil. Mário
Montalvani, diretor da SOS Mata Atlântica,
afirma que o ato ecumênico deve-se justamente
ao simbolismo que a água tem em várias
religiões: “Essa é uma maneira
de sacralizar esse bem tão necessário
à vida”, destaca Montalvani.
No Jardim Zoológico,
o Balão panda do WWF-Brasil, também
fará vôos cativos com a criançada.