22/03/2007
- A queda de quase 50% no número de
queimadas registradas na Amazônia Legal
no ano de 2006, em relação ao
ano anterior, pode ter outra razão
além da eficiência de programas
governamentais: uma tendência de que
ocorram mudanças no clima da região.
Mas, para se ter certeza, é necessário
monitorar o comportamento regional e as relações
entre diferentes variáveis. Esse é
um trabalho que o pesquisador Williams Ferreira,
da Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas-MG),
começou no início de 2007, avaliando
a importância da variação
sazonal do clima na dinâmica espacial
e temporal das queimadas e dos desmatamentos
em 2006 na região e comparando a evolução
do número de queimadas nos dois últimos
anos.
O pesquisador trabalhou
com dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais) e do Sipam (Sistema de Proteção
da Amazônia). De acordo com o resultado,
foram identificados no ano passado 118.965
focos de queimadas em todo o país.
Desses, 85.219 ocorreram na Amazônia
Legal, que envolve os sete estados do Norte
brasileiro (Acre, Amapá, Amazonas,
Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins),
o Mato Grosso e o Oeste do Maranhão.
Apesar do alto índice em relação
ao restante do Brasil, o número de
queimadas na região foi 47,2% menor
quando se comparam os anos de 2006 e de 2005.
As queimadas registradas no ano passado voltaram
a atingir números próximos aos
de 1999.
Segundo Williams, a abordagem
feita na Embrapa Milho e Sorgo levou em consideração
as relações das queimadas e
dos desmatamentos com o clima da Amazônia
Legal. As previsões feitas para 2006
relativas ao número de queimadas não
se concretizaram, em grande parte, por causa
da atuação de sistemas de grande
escala e de variações no clima.
“A umidade transportada pelos ventos alíseos,
a ação de sistemas frontais
provenientes de outras regiões e alterações
na circulação geral da atmosfera
influenciadas pelo aquecimento no Oceano Atlântico
Norte agiram diretamente no clima da região
amazônica e indiretamente na ocorrência
das queimadas e dos desmatamentos”, explica.
ESTATÍSTICAS: De
acordo com os dados analisados pelo pesquisador,
o Pará foi o estado onde mais aconteceram
queimadas no ano passado. Já em 2005,
o campeão foi Mato Grosso. Houve uma
troca nas duas primeiras posições
entre os dois estados de um ano para outro.
Em todos os nove estados que compõem
a Amazônia Legal, houve redução
na quantidade de queimadas quando se comparam
os dois anos, o que ajuda a explicar a queda
de quase 50% no total de queimadas na região.
Entre os municípios,
o que mais aumentou o número de queimadas
no ano passado foi Breu Branco, no Pará,
com 187 focos de incêndio a mais no
ano passado do que em 2005. Na cidade de Placas,
no mesmo estado e segunda colocada, aconteceram
112 queimadas a mais quando se compara os
dois anos. Já o desmatamento foi maior
em São Félix do Xingu, novamente
no Pará, com 969,1 km2, e em Marcelândia,
no Mato Grosso, que registrou 787,8 km2 de
desmatamento no ano passado. Ao mesmo tempo,
São Félix do Xingu mostrou a
maior redução (3.098) no número
de queimadas em 2006 comparando-se ao ano
anterior, seguido por Santana do Araguaia,
também no Pará, que teve 1.931
focos a menos de queimadas em 2006 em relação
a 2005.
Clenio Araujo
SEMINÁRIO PROMOVIDO
PELO INMET AVALIA OS IMPACTOS DO AQUECIMENTO
GLOBAL
22/03/2007 - O Instituto
Nacional de Meteorologia (Inmet) promove o
Dia Meteorológico Mundial, o seminário
Meteorologia Polar – Entendendo os Impactos
Globais. O secretário-executivo do
Ministério da Agricultura, Pecuária
e Abastecimento (Mapa), Luiz Gomes de Souza,
fará o discurso de abertura do evento,
que será realizado no auditório
da biblioteca do órgão, a partir
das 9h. Representantes dos ministérios
da Ciência e Tecnologia, da Integração
Nacional e do Meio Ambiente, além de
especialistas em clima e tempo, deverão
participar do encontro.
O evento terá três
palestras. Às 10h20, o subalmirante
José Eduardo Borges de Sousa falará
sobre o Ano Polar Internacional – Programa
Antártico Brasileiro. Às 10h55,
o meteorologista do Inmet e organizador do
seminário Francisco de Assis Diniz
abordará A Influência dos Sistemas
Meteorológicos Polares nas Latitudes
Médias e Mudanças Polares. Às
11h30, Alberto Setzer, do Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais – Centro de Previsão
de Tempo e Estudos Climáticos (Inpe/Cptec),
discorrerá sobre A Relevância
de Meteorologia Antártica para o Brasil.
“O aquecimento global, responsável
pela redução dos gelos polares
e glaciais, representa um risco muito grande
para o planeta”, diz Francisco Diniz. “Por
isso, é importante realizarmos seminários
como o do Dia Meteorológico Mundial
para que possamos debater e dimensionar as
conseqüências da elevação
da temperatura da terra.” Segundo ele, esse
fenômeno é uma ameaça
ao biota (conjunto de todos os seres vivos
de uma região) dos pólos.
“Além do aumento
médio do nível dos mares, o
fenômeno também pode provocar
a extinção de animais polares”,
assinala Francisco Diniz. De 1992 para cá,
acrescenta, houve uma elevação
média anual de 0,08 milímetros
do nível do mar na Antártica.
“Nos últimos 50 anos, a espessura do
gelo da região diminui em 40% durante
a primavera e o verão.”
De acordo com o meteorologista
do Inmet, pesquisa feita pela Universidade
do Colorado (EUA) no ano passado constatou
que o degelo da Antártica é
da ordem de 15x1019 metros cúbicos
por ano. “Isso equivale a dez vezes a quantidade
de água do Lago de Itaipu.”
A elevação
da temperatura global também terá
reflexos na atividade agrícola, prevê
Francisco Diniz. “Algumas áreas do
planeta terão, por exemplo, que mudar
o tipo de culturas que plantam atualmente.
No Brasil, isso deve ocorrer nas regiões
Sul e Sudeste, cujas temperaturas estão
aumentando.