24
de Março de 2007 - Érica Santana
- Repórter da Agência Brasil
- Brasília - Pesquisa preliminar divulgada
em janeiro pela Embrapa Cerrados, unidade
da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária,
aponta que o cerrado conserva 61% de sua vegetação
original. Para o coordenador do Núcleo
de Cerrado do Ministério do Meio Ambiente,
Mauro Pires, esse resultado “demonstra que
é necessário investir na conservação
do cerrado, porque grande parte já
foi perdida”.
Ele destacou que apesar
de o relatório da Embrapa revelar um
grande impacto negativo nas áreas do
cerrado, é possível reorientar
o uso dos recursos desse bioma. “Se a gente
fizer uma ocupação mais ordenada
do território e investir em outras
alternativas, seja ecoturismo ou o aproveitamento
dos frutos do cerrado, até mesmo atividades
de lavoura, mas em bases mais organizadas
e menos impactantes, respeitando a legislação
ambiental, já uma boa medida que nós
temos para conservar o cerrado”, explicou
Pires, em entrevista à Agência
Brasil.
Atualmente, segundo o coordenador,
a área protegida do cerrado se restringe
a 3,18% do território brasileiro, sob
a forma de unidades de conservação
federal, estadual e municipal. Ele lembrou
que a meta mundial é que cada bioma
tenha pelo menos 10% da sua área sob
proteção. No âmbito da
implementação da Convenção
sobre Diversidade Biológica, lembrou,
o Brasil se comprometeu a cumprir essa meta
até 2012.
“No Ministério do
Meio Ambiente estamos montado um projeto para
ajudar a chegar, em 2010, a essa meta de 4,6
milhões de hectares criados sob o modelo
de unidades de conservação”,
disse. A meta, acrescentou, é ambiciosa,
mas necessária: "Acredito que
será possível cumprí-la,
porque na medida em que se avança no
conhecimento e que a sociedade vê a
importância do cerrado, abrem-se portas
para criarmos essas unidades de conservação,
que podem ser de uso sustentável, por
exemplo”.
Pires disse temer que o
aumento da produção de etanol
venha a prejudicar a manutenção
dos corredores de biodiversidade no cerrado,
que segundo ele são as próprias
matas ciliares. Ele lembrou o que determina
a legislação: que no cerrado
pelo menos 20% da propriedade devem estar
em forma de reserva legal e que toda área
de proteção permanente deve
estar excluída da processo produtivo.
“Os corredores de biodiversidade
são necessários, porque a fauna
do cerrado se utiliza muito deles para se
locomover, e por meio dessa própria
fauna também vêm os demais recursos”,
explicou.
Mauro Pires destacou a necessidade
de aumentar as ações de fiscalização
e propôs que a sociedade auxilie os
órgãos competentes nesse trabalho.
Segundo o coordenador, o mercado internacional
já está impondo barreiras não-tarifárias
a produtores que não respeitam a legislação
ambiental.
“Muitas redes de comércio
de alimentação já não
querem comprar soja que porventura tenha origem
na Amazônia. Se o produtor não
respeitar a legislação, pode
fazer com que o país sofra os efeitos
dessas barreiras e seu produto deixe, portanto,
de ser comercializado no exterior".
Parceria de ministérios
cria rede de pesquisa para conservação
e uso sustentável do cerrado
24 de Março de 2007
- Érica Santana - Repórter da
Agência Brasil - Brasília - Com
o objetivo de formar uma rede de pesquisa,
ciência e tecnologia para conservação
e uso sustentável do cerrado, os ministérios
do Meio Ambiente e da Ciência e Tecnologia
criaram a ComCerrado, resultado de dois dias
de debates durante oficina realizada nessa
semana em Brasília, com representantes
dos dez estados brasileiros onde há
presença do cerrado.
O coordenador do Núcleo
de Cerrado do Ministério do Meio Ambiente,
Mauro Pires, explicou que a expectativa é
a de debater a importância do cerrado
e demonstrar que é preciso avançar
em termos de conhecimento científico
para a conservação desse bioma.
“O cerrado até hoje,
em grande parte, foi visto pela própria
ciência como uma área pura e
simplesmente de ocupação agrícola.
O que nós queremos aqui é reverter
esse processo”, disse Mauro Pires. “O que
a gente quer é avançar na conservação
propriamente dita e também no uso sustentável”,
acrescentou.
Segundo informações
do Ministério do Meio Ambiente, um
comitê gestor e outro científico
foram criados para estruturar a rede nos próximos
meses. O primeiro é formado por representantes
dos ministérios da Ciência e
Tecnologia e do Meio Ambiente, das secretarias
estaduais de Ciência e Tecnologia e
do Fórum de Pró-Reitores das
Universidades Federais. Já o comitê
científico é integrado por pesquisadores.
O modelo de rede a ser adotado
ainda aguarda definição, segundo
o coordenador: “Muito provavelmente será
uma rede que deverá começar
virtual – convidando as pessoas, chamando
as instituições para participarem
de um grupo de debates”. Até o final
do ano, Mauro Pires disse esperar que a rede
esteja consolidada, com a criação
de um edital especifico para fomentar um determinado
tema ou oferecendo algum apoio de bolsas para
os pesquisadores.
Para a coordenadora-geral
de Gestão de Ecossistemas do Ministério
da Ciência e Tecnologia, Maria Luiza
Alves, a rede vai integrar competências
científicas já existentes sobre
cerrado em diversas universidades. "A
idéia é reunir essas competências
e buscar recursos junto ao Plano Plurianual,
para de fato concretizar essa rede”, disse.
As três rede de pesquisa
no pantanal, lembrou Maria Luiza Alves, foram
estruturadas em três, quatro e oito
anos, respectivamente. “A rede do cerrado
pode ser mais prática e rápida,
porque hoje nós já temos muito
mais experiência nessa área",
estimou.