Iperó
(03/04/07) - Provas científicas de
que em meados do século 16, portugueses,
espanhóis e indígenas já
estavam produzindo ferro no Morro de Araçoiaba,
no local conhecido como sítio arqueológico
de Afonso Sardinha, localizado na Floresta
Nacional de Ipanema, em Iperó, no interior
de São Paulo, tornaram-se públicas
na apresentação da tese “Arqueologia
de uma Fábrica de Ferro: Morro de Araçoiaba
– séculos XVI-XVIII”, pela doutora
em Arqueologia, Anicleide Zequini, sob orientação
da professora Margarida Davina Andreatta,
no Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade
de São Paulo.
A confirmação
cientifica do que é reconhecido como
a primeira tentativa para a produção
de ferro em solo americano foi possível
pela datação absoluta de fragmentos
de cerâmica, realizado através
de termoluminescência pelo Laboratório
de Vidros e Datação da Faculdade
de Tecnologia de São Paulo. Por falta
de provas documentais – não há
registros sobre o empreendimento em acervos
brasileiros - que pudessem confirmar as datações
de artefatos resultantes das escavações
arqueológicas de Margarida Davina Andreatta,
realizadas entre 1983 e 1989, a pesquisadora
Anicleide Zequini buscou as provas científicas
laboratoriais através de datações
absolutas e relativas de fragmentos de cerâmica,
escorias de fundição e telhas.
O resultado permite que
se afirme que, a partir de meados do século
16 (1540) e até o final do século
18, produzia-se ferro no sítio arqueológico
Afonso Sardinha, “que pode ser descrito como
um campo de exploração e produção
de ferro, cujas instalações
possibilitam que se interprete a existência
de um modelo de produção industrial,
com divisão de tarefas em áreas
distintas, uso de energia hidráulica
transformada em força mecânica
para movimentação das ferramentas
e para insuflação do ar para
queima do carvão nos fornos.
As datações
absolutas, e também as relativas, indicam
que naquele local houve uma sobreposição
de distintos empreendimentos, evidenciando-se,
na planta da edificação principal,
arranjos de espaço produtivo de ferro,
típicos de modelos encontrados na Península
Ibéria, notadamente o desenvolvido
na região basca”, segundo a pesquisadora.
O trabalho científico
de Anicleide Zequini, feito sob a ótica
da Arqueologia Histórica, tornou o
sítio arqueológico de Afonso
Sardinha o único sítio paulista
do século 16 com datação.
E permitiu que se comprovasse cientificamente
a produção de ferro do Morro
de Araçoiaba, que muitos julgavam uma
lenda. A descrição da existência
desse campo de produção de ferro
está no livro de Pedro Taques, a única
base de documentação histórica
e foi ratificada pelos naturalistas europeus
que visitaram o Brasil no século 19.
O sítio arqueológico de Afonso
Sardinha ficou desaparecido até 1977,
quando mateiros, por orientação
do professor José Monteiro Salazar,
conseguiram identificar as paredes de pedra
da estrutura.
O contato do professor com
a arqueóloga Margarida Davina Andreatta
possibilitou pesquisas arqueológicas
realizadas entre 1983 e 1989 – uma das mais
longas realizadas em São Paulo. Toda
a coleta arqueológica foi organizada
pelo Ibama, por meio da Floresta Nacional
de Ipanema, podendo ser conhecida no Centro
de Visitantes daquela unidade de conservação.
É o primeiro estudo científico
publicado depois de 30 anos da redescoberta
desse sítio arqueológico.
Muitas áreas protegidas
guardam preciosidades arqueológicas
que não foram devidamente estudadas.
Mesmo sem ser uma atribuição
genuína do Ibama, é a instituição,
como guardiã e gestora dessas áreas,
que trabalha pela conservação
desses sítios nas unidades que administra,
buscando envolver a comunidade científica
para os estudos necessários se realizem.
Janette Gutierre
Flona de Ipanema