(15/04/2007) - Economistas,
agrônomos e outros pesquisadores começam
avaliar viabilidade econômica, social
e ambiental de culturas que produzem óleos
Estudar a viabilidade sócio-econômica
e ambiental das cadeias produtivas da soja,
da mamona, do dendê, do girassol e da
canola para a produção de biodiesel.
É esse o desafio colocado para um grupo
multidisciplinar de pesquisadores da Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(Embrapa) e que começa a ser encarado
em caráter de urgência em unidades
de pesquisa espalhadas por todas as regiões
brasileiras.
Segundo Suzana Maria Valle
Lima, PhD em Sociologia das Organizações,
a pesquisa em rede pretende medir o desempenho
das cadeias produtivas das culturas mais importantes
para o desenvolvimento do Programa Nacional
do Biodiesel. Ela esteve em Campina Grande
(PB) no final de março, para discutir
com pesquisadores da Embrapa Algodão
envolvidos na análise da cadeia produtiva
da mamona.
O projeto teve início
em 2006 e tem previsão de conclusão
para 2008. O produto desse trabalho deve ser
um livro com os resultados das avaliações
e a comparação de competitividade
entre as cadeias. “Estamos elaborando um estudo
de prospecção, isto é,
um estudo da situação atual
e um estudo de futuro para cada cadeia, porque
é preciso considerar o gap temporal
da pesquisa, porque o produto das pesquisas
vai estar disponível só em cinco
seis anos. Pode ser até que os cenários
se alterem nesse intervalo”, diz Lima.
A base da pesquisa é
verificar os indicadores de desempenho de
cada cadeia produtiva a partir da avaliação
dos potenciais de eficiência, qualidade,
competitividade, equidade e sustentabilidade.
O item equidade merece destaque porque é
através dele que os pesquisadores vão
observar se a tecnologia gerada possibilitou
a geração de renda equilibrada
entre os diversos segmentos que participam
das cadeias.
Na avaliação
da eficiência, por exemplo, os pesquisadores
querem saber se as tecnologias disponíveis
para o processamento de óleo garantem
a rentabilidade necessária para sustentar
a cadeia produtiva. A qualidade dos óleos
produzidos tem um peso importante no estudo.
Sabe-se, nesse sentido, que o óleo
da soja possui um percentual elevado de iodo,
aquilo que os técnicos chamam de “rancidez”.
Esse é um fator desfavorável
ao biodiesel originário da soja, dizem
os especialistas.
Outro aspecto importante
é o balanço energético
das culturas (quanto cada cultura consome
de energia para produzir bioenergia). Nesse
aspecto a soja também leva desvantagem
já que essa relação fica
em torno de 1.42, ou seja, ela, praticamente,
não consegue sequer dobrar a quantia
de energia que consome para realizar a transformação
dos grãos em óleo.
Uma outra preocupação
dos pesquisadores se relaciona com a dicotomia
entre o aproveitamento de algumas culturas
para alimentação ou para a geração
de bioenergia, a exemplo da soja, canola,
girassol e do dendê.
Um dado importante no mercado
nacional de óleo é que o país
só consegue produzir pouco mais de
oito milhões de metros cúbicos
de óleos vegetais e gorduras de origem
animal, enquanto que a demanda brasileira,
entre 2004 e 2005, foi de quase 40 milhões
de metros cúbicos desses produtos.
Comparando as cadeias produtivas
fontes de biodiesel, nota-se que o dendê
ganha disparado de culturas como a mamona
e a soja, quando o quesito é rendimento
de óleo por cada tonelada do produto
bruto por hectare. Enquanto o dendê
pode alcançar até seis toneladas
de óleo por hectare plantado, a mamona
chega no máximo a uma tonelada, e a
soja a 0,6. Em compensação,
a mamona tem um rendimento bruto de óleo
de até 48%, enquanto o dendê
só consegue alcançar 26%. É
esse tipo de comparação que
os pesquisadores devem detalhar nos próximos
meses, para indicar as culturas mais viáveis
ao longo prazo.
Mercado - O Brasil consome
anualmente cerca de 42 bilhões de litros
de diesel. Grande parte desse volume vai para
os transportes, algo em torno de 33,73 bilhões
litros/ano (80,3%); 6,84 bilhões litros/ano
(16,3%) é consumido pela agricultura.
O setor industrial precisa de 0,92 bilhão
litros/ano (2,2%); A produção
de óleo de dendê é tão
incipiente que o país precisa importar
o produto da Malásia, maior produtor
mundial. O mercado interno ainda carece de
uma Importação de diesel de
6% a 8% do consumo. Para a produção
do diesel dos tipos B2 ou B5 são necessários
de 840 milhões a 2,1 bilhões
de litros por ano de biodiesel.
Dalmo Oliveira
+ Mais
Comunidades irão
testar equipamento para produção
de biodiesel
(16/04/2007) - O craqueador
de óleo vegetal para produção
de biodiesel, desenvolvido por pesquisadores
da Universidade de Brasília (UnB) e
da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(Embrapa), vinculada ao Ministério
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento,
está pronto para ser validado pelos
agricultores familiares. Em reunião
técnica realizada na Sede da Embrapa,
em Brasília/DF, a equipe responsável
pelo protótipo começou a discutir
as próximas etapas do processo.
“O aprimoramento técnico
do aparelho foi alcançado e já
é possível partir, com segurança,
para a etapa de validação junto
às comunidades”, assegura o gerente-geral
da Embrapa Transferência de Tecnologia
(Brasília/DF), José Roberto
Rodrigues Peres, que coordenou a reunião
técnica. Segundo Peres, a Embrapa já
deu início à busca por parceiros,
no Entorno do Distrito Federal, para a fase
de validação pelos agricultores
familiares e assentados da reforma agrária.
Inclusão - O equipamento
tem atraído a atenção
de diretores e técnicos de empresas
de assistência técnica e extensão
rural, dentro e fora do Brasil, por viabilizar
a inclusão social de pequenos agricultores
e de comunidades isoladas.
A máquina pode produzir
até 800 litros de biodiesel a partir
de plantas como o dendê, soja e mamona,
transformando a matéria-prima dentro
da propriedade para movimentar tratores, equipamentos
de irrigação e motores de barco,
geradores de energia, por exemplo.
As estratégias de
inserção do craqueador no mercado
estão sendo estudadas e somente após
a adaptação do protótipo
pela indústria será possível
estimar o custo do equipamento, informou o
gerente Peres. A reunião técnica
realizada na Embrapa Transferência de
Tecnologia no dia 20 de março último
contou com as presenças dos pesquisadores
da UnB, Paulo Suarez, e da Embrapa, Décio
Gazzoni e Elias Freitas Júnior.
Valéria Costa