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de Maio de 2007 - Ana Luiza Zenker e Irene
Lôbo - Da Agência Brasil - Brasília
- O pesquisador Roberto Schaeffer - um dos
três brasileiros que participaram do
3º grupo de trabalho responsável
pela formulação do relatório
do Painel Intergovernamental de Mudanças
Climáticas (IPCC, sigla em inglês)
da Organização das Nações
Unidas (ONU) - afirma que já existem
tecnologias de baixo custo capazes de conter
a emissão de gases do efeito estufa.
Segundo ele, as medidas
capazes de limitar os efeitos das mudança
climáticas variam da adoção
de práticas de eficiência energética
a mudanças no padrão individual
de consumo. Ele diz que 75% da emissão
mundial de gases têm origem no gasto
de energia, elétrica ou combustível.
A diminuição
das emissões de gás carbônico
poderá custar até 3% do Produto
Interno Bruto (PIB) mundial. Schaeffer pondera
que não se trata de um custo alto em
comparação aos benefícios
trazidos pela proteção do meio
ambiente.
“Não há mais
aquela oposição entre mudança
climática ou meio ambiente e desenvolvimento.
Muito pelo contrário, para um país
se desenvolver precisará incorporar
de forma crescente a variável 'mudanças
climáticas' no seu modelo de crescimento”.
Schaeffer lembra que o mundo
está numa corrida contra o tempo para
limitar o aquecimento global, já que
alguns gases do efeito estufa têm vida
longa na atmosfera e, invariavelmente, vão
causar o aumento da temperatura em cerca de
um ou 1,3 grau Celsius.
“Se formos muito eficientes
no curtíssimo prazo, nos próximos
10 ou 15 anos, talvez a gente consiga limitar
o aumento médio da temperatura do planeta
a cerca de 2 graus Celsius em relação
ao que foi há 100, 150 anos”.
Nesse sentido, acrescenta
o pesquisador, o Brasil está à
frente dos outros países pelo menos
no que se refere ao uso de combustíveis
menos poluentes. Além de usar carros
movidos inteiramente a álcool, o país
adiciona álcool à gasolina desde
1975.
“Isso significa que cada
quilômetro rodado com a gasolina brasileira
está emitindo aproximadamente 22% menos
gás carbônico que um quilômetro
com um carro que rodasse, por exemplo, com
gasolina americana. De fato, a gasolina brasileira
é, do ponto de vista de mudança
climática, mais limpa que a gasolina
média vendida no mundo”.
Schaeffer é pesquisador
do Programa de Planejamento Energético
do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação,
da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
A terceira parte do relatório do IPCC
será lançada hoje (4) em Bangcoc,
na Tailândia.
O documento - cujo tema
é Mitigação das Mudanças
do Clima - faz uma avaliação
das causas e efeitos do aquecimento global
e de que medidas devem ser tomadas para conter
o aumento da temperatura. A terceira etapa
deve apontar a importância da substituição
dos combustíveis fósseis (carvão,
gás natural, petróleo) pelos
biocombustíveis. A expectativa é
de que o relatório completo seja divulgado
até o fim de 2007.
+ Mais
Professor defende uso sustentável
dos recursos florestais para conter aquecimento
global
6 de Maio de 2007 - Lourenço
Canuto - Repórter da Agência
Brasil - Brasília - O Brasil é
o quinto maior emissor de gases causadores
do efeito estufa, por causa do desmatamento
e das queimadas, mas pode atacar isso com
a decisão de manter a floresta em pé
e usar os recursos de modo sustentável.
A opinião é
do professor Alexandre D' Avignon, do Centro
de Estudos Integrados sobre Meio Ambiente
e Mudanças Climáticas da Universidade
Federal do Rio de Janeiro. Em entrevista ao
programa Revista Brasil, da Rádio Nacional
AM, ele comentou o relatório divulgado
na sexta-feira pelo Painel Intergovernamental
de Mudanças Climáticas (IPCC)
da Organização das Nações
Unidas (ONU).
E avaliou que “no momento
está havendo um otimismo excessivo,
de que o homem tem capacidade de mudar o seu
futuro, mas é bom lembrar que enfrentamos
problemas desde a revolução
industrial”. Em cem anos, explicou “a concentração
de gás carbônico na atmosfera
passou de 280 para 380 ppm (partículas
por metro), e a desassimilação
só ocorre também em um período
de cem anos”.
Para D'Avignon, “nós
temos ainda condições de fazer
uma mudança, do ponto de vista de ações
individuais, como conservar energia, usar
menos o carro, tentar fazer menos desmatamento,
usar a terra com racionalidade – a partir
do momento em que vê na floresta não
um pasto, mas a floresta em pé, cujos
recursos podem ser usados de modo sustentável,
muda-se o modelo de desenvolvimento, muda-se
o paradigma tecnológico”.
O Brasil, acrescentou, “vive
uma realidade crítica, pois 75% das
emissões de gases são devidas
ao uso da terra, mas como país em desenvolvimento
está transferindo tecnologia para a
disseminação da produção
de etanol, de biodiesel, de álcool,
que sabidamente são menos poluentes”.
A opinião pública,
segundo o especialista, “é o grande
vetor para mudanças e está pesando
muito nesse momento e nessa questão,
com sua mobilização”. D'Avignon
defendeu ainda o desenvolvimento de carros
elétricos para uso em larga escala
e o uso de energias renováveis como
a eólica (dos ventos).
“A gente tem que convencer
os políticos de que hoje isso é
uma questão de sobrevivência
das gerações futuras e se não
se tomarem medidas agora, no futuro os nosso
filhos não terão água,
não terão um clima sadio, não
terão conforto térmico. A floresta
tem que ser, de fato, uma possibilidade de
emprego e renda, com sustentabilidade. Há
soluções, mas são necessárias
decisões políticas”, concluiu.