Cademartori,
ex-ministro do Chile, abre o Encontro Terra
e Cidadania
15/05/2007 - O ministro
da Economia do Chile durante o governo Salvador
Allende, José Cademartori, vai fazer
nesta terça-feira (15) às 19h
no Memorial de Curitiba a palestra de abertura
do Encontro Terra e Cidadania, promovido pelo
Instituto de Terras, Cartografia e Geociências
(ITCG), autarquia da Secretaria do Meio Ambiente
e Recursos Hídricos. “Considero fundamental
a proposição de debates que
busquem soluções concretas para
os problemas reais. Este seminário
abordará aspectos com impacto para
a vida e tudo que possa ser feito para melhorar
esta relação é positivo”,
afirma Cademartori.
Cademartori é economista,
escritor e integra a direção
do Partido Comunista do Chile. Ele participa
de seminários e faz palestras em todo
o mundo, falando sobre temas como “Tratado
de Livre Comércio entre Chile e EUA
e seus Impactos”, “A Globalização
no Chile” e “Impacto da Revolução
na Venezuela”. Atualmente, Cademartori está
escrevendo um livro sobre “Economia e política
na China”. Ele elogia a preocupação
do governo do Paraná em abordar a questão
fundiária, aliada à preservação
ambiental.
Segundo Cademartori, compatibilizar
desenvolvimento econômico e preservação
ambiental é um problema difícil
e complexo. “Mas penso que não é
uma contradição real, o que
é real é o estilo de desenvolvimento
econômico e o estilo de crescimento
que o mundo busca. Se mudarmos os modos de
produção e consumo, então
conseguiremos manter a natureza em harmonia
com os seres humanos”, afirma.
Estabelecer um contraponto
entre desenvolvimento e preservação
não é problema técnico
e sim puramente político, segundo Cadermatori.
“Os países devem considerar democraticamente
toda a população e não
buscar soluções favoráveis
a poucos e que geram prejuízos a muitos”,
propõe. Ele cita como exemplo o Chile
que, segundo ele, vive uma profunda contradição
entre o estilo de crescimento econômico,
prejudicial ao meio ambiente, e os interesses
da população, que depende dos
recursos naturais.
“A expansão da agricultura
de exportação causou grandes
perdas de recursos naturais. Estamos acabando
com as nossas florestas, reservas marinhas
e espécies nativas. Isso tudo é
fruto do estilo de desenvolvimento escolhido”,
afirma Cademartori. Ele completa dizendo que
Santiago, capital do Chile, tem um dos piores
índices de poluição do
ar, o que prejudica a saúde das pessoas.
“Então temos que pensar: de que adianta
termos uma evolução na economia,
se a saúde de nosso povo está
cada vez pior, em decorrência da poluição,
e o governo não tem recursos para investir
em médicos e hospitais?”
Cademartori faz uma auto-crítica
como economista, pelo fato de não ter
relacionado economia com a questão
ambiental, durante o período em que
foi ministro. “Era uma ignorância mundial.
Para se ter uma idéia o primeiro Informe
de Roma sobre meio ambiente foi em 1976. Não
tínhamos idéia de como melhorar
a vida das pessoas, pensávamos muito
na industrialização, em energia
elétrica e em grandes obras. Não
havia discussão da relação
do homem com a natureza, por isso acredito
que todos os partidos políticos e governos
devem reajustar suas metas e inserir entre
elas cuidar do planeta”, sugere.
História – Há
34 anos, no dia 11 de setembro de 1973, começava
uma das ditaduras mais longas da história
do Chile. O general Augusto Pinochet liderou
o golpe militar que derrubou o presidente
socialista Salvador Allende - eleito três
anos antes - e do qual José Cademartori
era ministro de economia.
Depois de golpe, Cademartori
passou três anos em um campo de concentração,
ao lado de outros ministros. Em seguida foi
expulso do Chile, de onde ficou afastado durante
12 anos. Apenas em 1988, com a derrota de
Augusto Pinochet, o economista pôde
voltar. “Fui proibido de voltar ao país.
Durante este período trabalhei intensamente
em campanhas contra a ditadura na Venezuela
e Alemanha. Retornei após a eleição
que derrotou Pinochet, em 1988. Um momento
de grande alegria”, relatou.
+ Mais
Ex-ministro chileno elogia
discussões do “Encontro Terra e Cidadania”
17/05/2007 - O secretário
do Meio Ambiente e Recursos Hídricos,
Rasca Rodrigues, e o presidente do Instituto
de Terras, Cartografia e Geociência
(ITCG), José Antônio Peres Gediel,
abriram nesta terça-feira (15), no
Memorial de Curitiba, o “Encontro Terra e
Cidadania”, que discutirá até
sexta-feira (18) a complexidade da questão
agrária brasileira no setor jurídico,
sócio-ambiental, antropológico,
político e econômico. A palestra
de abertura do evento contou com a presença
do ex-ministro da Economia do Chile (durante
o governo Salvador Allende), José Cardemartori,
que elogiou a iniciativa.
“Um evento denominado ‘Terra
e Cidadania’ significa unir o povo da cidade
e do campo em um assunto comum. É uma
iniciativa admirável”, disse o ex-ministro
chileno aos participantes do encontro, que
superou a expectativa de público. Tanto
que o ITCG, autarquia vinculada à secretaria
do Meio Ambiente e Recursos Hídricos,
teve que ampliar de 300 para 400 o número
de vagas, por causa da demanda por inscrições.
O “Encontro Terra e Cidadania”
conta com a participação de
integrantes do Ministério de Desenvolvimento
Agrário (MDA), Itaipu Binacional, Associação
Brasileira de Reforma Agrária(Abra)
e Movimento Sem Terra (MST), além de
representantes de movimentos sociais, sociedade
civil e especialistas internacionais.
Recriação
do instituto - O secretário Rasca Rodrigues
destacou a recriação, em 2006,
do ITCG, como uma medida que mostra que o
governo do Estado tem um conceito mais amplo
de regularização fundiária.
“O Paraná tem hoje uma visão
muito mais abrangente sobre a regularização
fundiária, que já não
é apenas um instrumento para legitimar
a posse da terra”, declarou. “Estamos ampliando
as possibilidades de discutir a cidadania
e a questão fundiária, e com
este encontro queremos proporcionar o debate
e extrair propostas que nortearão as
ações do ITCG para os próximos
anos”, ressaltou Rasca, lembrando que o ITCG
tem como meta regularizar 318 mil hectares
de terras até o final de 2007.
De acordo com o presidente
do ITCG, José Antônio Peres Gediel,
a pauta do encontro foi elaborada a fim de
discutir questões clássicas
como reforma agrária, a relação
entre terra e o meio ambiente e também
as perspectivas da agricultura familiar no
contexto da economia globalizada e seus efeitos
sociais.
“A discussão sobre
a terra está ganhando novos contornos.
Existem agricultores que não têm
terra e querem ter acesso a ela para desenvolver
a agricultura. Por outro lado temos aqueles
que têm terra, mas desenvolvem agricultura
vinculada a uma economia globalizada que não
permite a sua sustentabilidade”, relatou Gediel.
Para ele, a questão
da terra foi o inicio das desigualdades no
Brasil e, desde então, o país
vem tentando promover políticas publicas
como a reforma agrária para reduzir
tais desigualdades. “Mas ao mesmo tempo, elas
merecem uma reflexão e a retomada de
discussão pela sociedade, para superar
este impasse criado desde a nossa colonização
e retomado a todo instante pela nossa história”,
recordou o presidente do ITCG.
MST - O líder do
Movimento dos Sem-Terra (MST) no Paraná,
Roberto Baggio, destacou a importância
do ITCG para tratar de problemas que afligem
a sociedade brasileira hoje, como a concentração
da propriedade da terra e o desequilíbrio
ambiental.
“Para voltarmos a ter um
equilíbrio na sociedade e no planeta,
precisamos de regulamentações
com a participação pública,
que é a proposta deste evento. Não
podemos permitir que o capital organize o
mundo”, afirmou Baggio.
Incompatibilidade - Após
a abertura, os participantes presentes no
encontro ouviram a palestra do ex-ministro
da Economia do Chile. José Cademartori
falou sobre a relação entre
agricultura, meio ambiente e a crise energética.
“Existe uma incompatibilidade entre economia
e preservação ambiental, problema
difícil e complexo. Mas penso que não
é uma contradição real,
o que é real é o estilo de desenvolvimento
econômico e o estilo de crescimento
que o mundo busca. Se mudarmos os modos de
produção e consumo em geral,
então conseguiremos manter a natureza
em harmonia com os seres humanos”, relatou
o economista chileno. Ele falou ainda sobre
a importância da discussão para
o Paraná e para o mundo.
Entre as pautas abordadas até o último
dia do evento estão o direito à
terra das comunidades tradicionais e indígenas,
patentes de sementes e o uso de sementes transgênicas
na agricultura paranaense e mundial, políticas
agrárias, estrutura fundiária
e reforma agrária, expansão
do agronegócio e ameaça a soberania
alimentar e função social da
terra.
+ Mais
Movimentos sociais participam
do Encontro Terra e Cidadania
18/05/2007 - O segundo dia
do Encontro “Terra e Cidadania”, realizado
pelo Instituto de Terras, Cartografia e Geociências
(ITCG), reuniu na manhã desta quarta-feira
(17) representantes de movimentos sociais
de todo o país para discutir a questão
fundiária. O encontro é realizado
em parceria com a Associação
Brasileira de Reforma Agrária (ABRA)
e reuniu 52 integrantes de movimentos sociais
diversos, além de membros da sociedade
civil, organização não-governamental,
estado e movimentos sociais.
O líder nacional
do Movimento Sem-Terra (MST), João
Pedro Stédile, foi um dos palestrantes
desta manhã e, junto dele, outros 210
militantes do MST, que vieram de todas as
regiões do estado para o Encontro.
Stédile criticou
latifundiários e empresas transnacionais
por impedir e monopolizar a produção
agrária. “O modelo de agricultura imposto
por estas empresas prejudica o trabalho das
pessoas do campo, responsáveis pela
produção dos alimentos que vão
à mesa dos brasileiros. Além
disso, praticam uma agricultura altamente
poluente, utilizam mecanização
e agrotóxicos em uma lógica
de substituição de mão-de-obra
humana por maquinaria”, condenou Stédile
Para ele, a iniciativa do
Governo do Paraná de promover o Encontro
“Terra e Cidadania” é muito louvável,
devido à importância do tema
e falta de espaço para debater a questão
fundiária. “Propostas concretas do
Governo só podem sair de debates políticos
como este, onde é criado um espaço
de idéias para a busca de um entendimento
comum”, comentou Stédile.
O participante Camilo da
Silva, 26 anos, membro do MST, veio de Canta
Galo – região centro-sul do Paraná
– para participar do Encontro e diz ter feito
uma escolha, que contribuirá para seu
futuro. “Falta para nós a oportunidade
de conversar sobre a regularização
fundiária. Estar aqui fortalece a idéia
de quem busca isso também. Além
do que, estamos ouvindo pessoas e palestrantes,
que participam ativamente do movimento e lutam
pelas mesmas coisas, é muito gratificante”,
destacou Camilo.
Diagnóstico - O presidente
da Associação Brasileira de
Reforma Agrária (ABRA), Plínio
Arruda, apresentou um relatório intitulado
“Qual é a questão agrária
atual?”, composto por um levantamento do sistema
agrário brasileiro, apresentando críticas
a atual situação fundiária
brasileira e propostas para o desenvolvimento
da questão no contexto nacional.
“Uma das propostas do documento
é reavaliar como são usados
os índices que indicam a produtibilidade
da terra, para processos de desapropriação.
Os índices são de aproximadamente
30 anos atrás”, destacou Arruda. Segundo
ele, o país deve ampliar as discussões
sobre a função social do campo,
sem que apenas a produtividade prevaleça.
O presidente da ABRAS acredita
que o Encontro trará resultados de
suma importância para a política
agrária nacional. “Ao promover esta
discussão o Encontro resultará
em um diagnóstico que utilizaremos
como instrumento para explicar o que pode
ser feito para melhorarmos a distribuição
de terra no Brasil. Precisamos articular uma
única unidade para lutar pela reforma
agrária no país e a pressão
conjunta das massas do campo e da cidade”,
explicou.
O presidente do Instituto
de Terras, Cartografia e Geociências
(ITCG), José Antônio Peres Gediel,
explica que essa temática de trazer
representantes de todos diversos movimentos
sociais possibilita um debate muito plural,
com várias sugestões e pensamentos.
“Além disso, é
importante discutir a idéia da reforma
agrária em sintonia com a questão
ambiental, e ainda como o manejo da terra
pode influenciar o ecossistema”, finalizou
Gediel.
O encontro Terra e Cidadania
prossegue até esta sexta-feira (18),
no Memorial de Curitiba, com encerramento
previsto para as 18 horas. Durante o último
dia serão abordados temas como: “Deslocamentos
populacionais, direito à terra e ao
meio ambiente”, com a palestra de Carlos Frederico
Marés e Darci Frigo; e “Função
Social da Terra”, apresentada pelos palestrantes
Jacques Alfosin e Sérgio Staut.
+ Mais
Encontro debate desenvolvimento
no campo e o futuro da agricultura
17/05/2007 - Os participantes
do “Encontro Terra e Cidadania”, que está
sendo realizado pelo Instituto de Terras,
Cartografia e Geociências (ITCG) - autarquia
da secretaria do Meio Ambiente e Recursos
Hídricos – debateram nesta quarta-feira
(16) os modelos de desenvolvimento no Brasil
e o futuro da agricultura.
Para o professor doutor
em Economia da Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp), Márcio Pochmann, este questionamento
é inevitável, pois, segundo
ele, no Brasil a divisão entre o desenvolvimento
urbano e rural gerou uma baixa capacidade
de inclusão social no campo.
“Isso se deve ao fato que
a maioria das políticas de desenvolvimento
adotadas nos últimos dez anos privilegiaram
apenas cidades, ou seja, acabaram se mostrando
políticas produtoras de subdesenvolvimento”,
declarou Pochmann, completando que com esta
iniciativa de promover o Encontro o Paraná
protagoniza um momento de reflexão
para todo o Brasil.
“Essa jornada, trazendo
personalidades das mais diferentes áreas,
ajuda na construção de uma nova
realidade, trazendo perspectivas ao país
e novas bases de desenvolvimento”, afirmou
o economista. Em sua palestra Pochmann, abordou
ainda questões relacionadas ao consumo
e o desenvolvimento sustentável em
um plano ambientalmente correto, envolvendo
indústria, agricultura e serviços.
O ex-secretario da Agricultura,
engenheiro agrônomo e doutor em economia,
Claus Germer, falou sobre as classes sociais
na agricultura, os conflitos existentes entre
pequenos e grandes proprietários de
terras e a questão ambiental. Para
ele, o problema ambiental dificilmente será
resolvido em um sistema capitalista, onde
os grandes proprietários mantêm
controle quase absoluto sobre os recursos
naturais.
“Eu diria que é impossível
achar alternativas de aliar o desenvolvimento
com a preservação, enquanto
as estruturas de fiscalização
continuarem pequenas e os governos pressionados
pelos proprietários para não
ampliarem a estrutura de fiscalização.
Além disso, existem intermináveis
saídas jurídicas e pequenas
armadilhas, que deixam as leis praticamente
inoperantes”, opinou Claus.
Ele acredita que a única
alternativa para a proteção
dos recursos naturais seria o socialismo.
“A possibilidade de regulamentação
pública em nome do interesse coletivo,
o que implicaria novamente na abolição
da propriedade privada e socialização
da população”, destacou.
Assentamentos – Já
o pesquisador Guilherme Delgado, do Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)
- órgão vinculado ao Ministério
do Planejamento, Orçamento e Gestão
- as discussões propostas no Encontro
representam uma evolução em
nível nacional porque não costumam
estar presentes nas discussões do Estado
e da mídia. O pesquisador orientou
uma oficina sobre “Desenvolvimento dos Assentamentos”.
“Esses temas são
nacionais, mas quando tratados pela mídia
aparecem de forma preconceituosa sem relatar
a necessidade de projetos de desenvolvimento
para o presente e o futuro”, enfatizou Delgado.
Ele lembrou que o Brasil já tem um
‘estoque’ de áreas de assentamentos,
abrigando cerca de um milhão de famílias.
“Mas precisamos de projeto para que estas
famílias não fiquem condenadas
a uma economia de subsistência, temos
que pensar em economias de proteção
social e ambiental, além do avanço
técnico”, destacou Delgado.
Segundo o presidente do
ITCG, José Antônio Peres Gediel,
a primeira manhã de debates tratou
de assuntos polêmicos e onde há
divergência entre diversos setores da
sociedade como, por exemplo, estrutura fundiária
no Brasil, como a legislação
brasileira contribuiu para formação
de grandes propriedades e como ela ainda precisa
ser melhorada para melhor distribuição
de terras.
“Acredito que o evento está
começando bem. A questão da
terra e cidadania diz respeito a todos os
setores da sociedade, desde intelectuais,
movimentos sociais até estudantes que
querem aprender e conhecer a realidade do
campo, ou queiram atuar no cooperativismo
popular e na cartografia como instrumento
para superação das dificuldades
da terra e campo”, resumiu Gediel.