24/05/2007 - Brasília
- A mudança do clima na terra é
um grande desafio a ser enfrentado pela humanidade
e a defesa civil terá papel fundamental
no cenário. O assunto foi debatido,
ontem (23/05), durante palestra do pesquisador
Carlos Afonso Nobre, do Centro de Previsão
de Tempo e Estudos Climáticos (Cptec)
- Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(INPE), promovida pela Secretaria Nacional
de Defesa Civil (Sedec), do Ministério
da Integração Nacional. A palestra
contou com a participação de
representantes de vários órgãos
governamentais integrantes do Sistema Nacional
de Defesa Civil.
Os resultados dos estudos
climáticos estão nos relatórios
publicados pelo Painel Intergovernamental
de Mudanças Climáticas (PCC),
criado em 1988 pela Organização
Meteorológica Mundial e pelo Programa
da Organização das Nações
Unidas (ONU) para o meio Ambiente. O assunto
tornou-se uma preocupação mundial,
a partir do momento em que se percebeu a ocorrência
de fenômenos naturais de maior gravidade
nos últimos 50 anos.
Para Carlos Nobre, que é
doutor em Meteorologia pelo Massachussets
Institute of Technology (MIT), nos Estados
Unidos, e membro permanente da Academia Brasileira
de Ciências, fenômenos atípicos
ocorridos nos últimos 10 anos, como
enchentes na Venezuela, seca na região
Amazônica, chuva de granizo em Buenos
Aires (Argentina) e o furacão Katrina
que devastou a cidade de New Orleans, nos
Estados Unidos, são exemplos concretos
das mudanças climáticas globais.
Os desastres naturais causados
pelas mudanças climáticas, segundo
Nobre, acentuarão, cada vez mais, as
desigualdades sociais. Ou seja, a tendência
é que as populações de
países em desenvolvimento sejam as
mais atingidas em situações
de desastres. Ele acrescentou, ainda, que
o Brasil não conhece todos os seus
pontos vulneráveis quando o assunto
é a mudança do clima. “Existem
mais informações climáticas
sobre o Sul e Sudeste do que sobre as outras
regiões do país”, ressaltou.
A previsão é
que haja um aumento de quatro a oito graus
da temperatura na região Amazônica
no final do século XXI. A quantidade
de chuva nesta região deverá
sofrer uma redução entre 15
e 20%. No Nordeste, a temperatura deverá
ficar entre dois e quatro graus mais quente
e a quantidade de chuva também sofrerá
uma redução entre 15 e 20%.
Sistemas de alertas preventivos
de fenômenos meteorológicos,
como os emitidos pela Secretaria Nacional
de Defesa Civil (Sedec), são umas das
importantes ferramentas de adaptação
para as alterações climáticas,
afirmou Carlos Nobre. E como exemplo, o palestrante
citou o trabalho em conjunto das defesas civis
nacional, estadual e municipal em 2004. “Conseguimos
evitar que o furacão Catarina, que
atingiu o litoral do Rio Grande do Sul e de
Santa Catarina, fosse um desastre social de
grande porte, graças ao trabalho da
Defesa Civil”, lembrou Nobre.
Questionado sobre o componente
educacional no trabalho de prevenção
de desastres naturais, Carlos Nobre ressaltou
que a capacitação, aliada à
tecnologia, é de fundamental importância
neste trabalho. Um fato que embasa esta teoria
foi lembrado durante o debate. Em 2004, quanto
o fenômeno tsunami atingiu a Indonésia,
uma garota britânica, de nove anos,
que havia aprendido na escola ler os sinais
da natureza, percebeu que o mar tinha recuado
cerca de 300 metros e alertou sobre a possibilidade
de uma onda gigante, evitando a morte de muitas
pessoas.
Para concluir, Carlos Nobre
ressaltou que o trabalho interdisciplinar,
que envolva vários campos do conhecimento,
entre eles, meteorologia, ciências sociais,
física, geografia e engenharia, será
bastante eficiente, nas atividades de prevenção
de desastres naturais e mudanças de
hábitos da população.