Oficina - 22/05/2007 - Um
dos principais problemas indígenas,
hoje, é o da perda da identidade cultural,
ou seja, alguns grupos estão perdendo
os costumes e as tradições.
Esse processo está acontecendo nas
áreas do Javari, Juruá, Purus,
mais precisamente no município de Lábrea
e atinge, por exemplo, os Tenharim, os Parintintim
e os Diahoi, todos no estado do Amazonas.
As conclusões foram
apresentadas pela chefe do Departamento de
Pesquisa e Cultura da Fundação
Estadual dos Povos Indígenas (Fepi),
Maria Auxiliadora Cordeiro, no último
dia da 2ª Oficina: Povos Indígenas
– o Inpa e a comunidade, encerrada na sexta-feira
(18), no Bosque da Ciência, do Instituto
Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCT),
em Manaus.
O encontro serviu para apresentar
os principais resultados dos projetos realizados
pelo Inpa em parceria com a Fepi em comunidades
indígenas do interior do estado do
Amazonas, em resposta às solicitações
das próprias etnias. As pesquisas foram
financiadas pela Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas
(Fapeam).
Os dados foram levantados
por meio de palestras, reuniões, questionários
socioeconômicos feitos pelos pesquisadores
e aplicados junto às comunidades. O
objetivo é saber como vivem os indígenas,
formas de obtenção de renda,
agricultura, processos educacional e cultural,
entre outros.
As informações
serão utilizadas para subsidiar o relatório
que será elaborado com a participação
dos pesquisadores, dos órgãos
de ensino e pesquisa e dos representantes
das comunidades indígenas. O documento
subsidiará as políticas públicas
do estado.
Em relação
à perda da identidade cultural, Maria
Auxiliadora disse que isso vem acontecendo
ao longo dos anos, principalmente, pela falta
de interesse dos mais novos em aprender os
costumes com os mais antigos. Além
disso, outro fator que tem contribuído
é a morte dos índios mais velhos.
"Uma alternativa é fazer a documentação
dos contos, cantos e mitos das comunidades
e promover a revitalização das
línguas indígenas", sugeriu.
O problema da perda da identidade
dos grupos indígenas também
foi apontado como grave pela pesquisadora
do Inpa, Ana Carla Bruno, doutora em Antropologia
e Lingüística pela Universidade
do Arizona (EUA). Ela disse que durante uma
avaliação preliminar feita com
grupos indígenas dos municípios
de Humaitá e Manicoré foi verificado
que a educação indígena
só funciona na teoria, na prática
ela não é respeitada. que Ela
é a coordenadora do projeto "Educação,
resgate e revitalização cultural:
etnias indígenas de Humaitá
e Manicoré".
"Os indígenas
têm que se adaptar ao modelo e ao calendário
educacional implantado pelos municípios.
O material didático não é
adequado à realidade dos grupos, mas
ao que é fornecido pelas prefeituras.
Os livros não retratam a história
de vida deles. Em Manicoré, as populações
já não falam mais as línguas
de origem. Desde o século 18 não
se fala mais Tora e desde o século
19 não se fala mais Mura", alertou
a pesquisadora, que avalia a situação
merece medidas urgentes.
De acordo com a antropóloga,
as comunidades que estão envolvidas
no projeto não falam mais a sua própria
língua. Contudo, elas desejam fazer
um trabalho de revitalização.
Ela disse que uma situação diferente
foi constatada em Humitá. "No
município, as três etnias da
região: Tenharim, Parintintim e Diahoi,
ainda falam a própria língua.
Todavia, no caso dos Diahoi, a população
é menor e, de fato, os mais velhos
não falam mais", alertou.
A pesquisadora destacou
que a saída para os problemas são
parcerias com as secretarias municipais, já
que são elas que implantarão
as políticas públicas. Por isso,
a idéia, na segunda fase, é
realizar quatro oficinas para capacitação
das pessoas que estarão envolvidas
no processo. Os assuntos abordados nas oficinas
serão: revitalização
cultural e lingüística; patrimônio
material e imaterial e legislação
e educação indígena.
"Também queremos permanecer por
mais tempo nas áreas indígenas
observando o modo de vida de cada etnia para,
então, promover as oficinas para os
professores", explicou.
Ana Carla bruno informou
que durante as oficinas vai ser discutido
com os grupos indígenas a elaboração
do material didático. Ela enfatizou
que serão os próprios índios
que farão os materiais didáticos
e que, os pesquisadores irão apenas
orientá-los.
Turismo científico
desordenado prejudica meio ambiente
Outro problema apresentado durante a Oficina
foi à falta de planejamento do turismo
científico, que vem degradando o meio
ambiente na região do Baixo Rio Negro.
A situação foi apresentada pelo
pesquisador da Universidade Federal do Amazonas
(Ufam), Jackson Rego. Ele disse que o turismo
no local acontece de forma desordenada, com
a exploração indevida dos recursos
naturais e descaso com as populações
locais.
"Essa forma de turismo
não gera benefício às
comunidades e nem ao meio ambiente. A idéia
é aproveitar o potencial existente
e divulgar a importância e a necessidade
da conservação da riqueza amazônica,
tanto em relação ao patrimônio
natural quanto aos saberes tradicionais",
disse Rego.
Segundo o pesquisador, a
saída encontrada pelas comunidades
para tentar reverter o quadro foi a proposta
de parceria entre a Fepi e o Inpa. Rego destacou
que as comunidades estão preocupadas
com a falta de conscientização
dos guias e dos turistas, por isso, apresentaram
suas demandas ao Inpa.
"As comunidades solicitaram
aos pesquisadores a elaboração
de um projeto para ordenar o ecoturismo na
região, o que foi unido à proposta
de etnoconservação, ou seja,
a idéia da conservação
das diferentes culturas indígenas",
falou Rego, que é coordenador do projeto
"Turismo e Etnoconservação
no Baixo Rio Negro", implementado com
recursos da Fapeam.
O pesquisador explicou que muitos dos problemas
atuais dos guias são causados por falta
de preparo. "Geralmente, eles invadem
as comunidades sem pedir licença. Às
vezes, entram na casa do indígena,
tiram foto, vão embora e não
deixam nada para as pessoas", reclamou
Rego, que é doutor em Desenvolvimento
Sustentável e Meio Ambiente, pela Universidade
de Brasília (UnB), e em Ordenamento
Territorial e Meio Ambiente, pela Universidade
de Granada (Espanha).
Ele explicou também
que durante a segunda fase do projeto serão
realizadas oito oficinas, todas direcionadas
ao treinamento das comunidades. A intenção
é capacitar os indígenas para
que eles mesmos possam elaborar as políticas
públicas voltadas para o turismo local.
E adianta: "da forma que está,
não pode continuar, porque não
há uma relação amistosa
entre as partes, o que há é
uma invasão".
Rego explicou que as oficinas
vão servir para que os comunitários
aprendam sobre turismo, etnoecologia, etnoconservação,
artesanato, culinária indígena,
resgate da cultura etc. Já a última
fase consistirá em uma apresentação
pública dos resultados das oficinas
por parte dos indígenas, com a realização
de um grande seminário no Centro Cultural
dos Povos da Amazônia, em Manaus.
Luís Mansuêto - Assessoria de
Comunicação do INPA