Panorama
 
 
 

USINA HIDRELÉTRICA DA DISCÓRDIA

Panorama Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Junho de 2007

Moradores de Mutum-Paraná terão se mudar caso usinas em Rondônia sejam construídas

10 de Junho de 2007 - Sabrina Craide - Repórter da Agência Brasil - Porto Velho (RO) - A vice-presidente da Associação dos Moradores Ribeirinhos de Mutum-Paraná (RO), Maria Iraildes Valente de Menezes. Área da comunidade será inundada, caso se construam as usinas de Jirau e Santo Antônio, no Rio Madeira, e moradores terão de ser transferidos.

Brasília - Para chegar ao distrito de Mutum-Paraná, que faz parte do município de Porto Velho (RO), é preciso percorrer 160 quilômetros pela rodovia BR-364, do centro da capital até a comunidade. À beira da estrada, apenas alguns estabelecimentos comerciais. Ao entrar na comunidade, pequenas propriedades com casas simples e marcos históricos como os trilhos da estrada de ferro Madeira-Mamoré, a casa de apoio da ferrovia e uma bela ponte de ferro por onde passava o trem, sobre a qual hoje foi montado um bar para a diversão dos moradores. A comunidade é uma das quatro que serão alagadas se as usinas hidrelétricas do Rio Madeira forem construídas.

A previsão de alagamento está no relatório de impacto ambiental do empreendimento, que não explicita se as comunidades serão total ou parcialmente afetadas. Nos cálculos do Ministério Público Estadual, 214 famílias no núcleo urbano de Mutum-Paraná deverão ser deslocadas após a construção da usina hidrelétrica de Jirau. Além disso, 15 estabelecimentos comerciais na sede do distrito e 28 em áreas fora da aglomeração urbana devem ser afetados.

Segundo contam os moradores de Mutum-Paraná, se as águas ficarem constantemente no nível das cheias que anualmente tiram muitos deles de casa, só será possível se deslocar de barco pela região. Mesmo quem não tiver suas residências diretamente atingidas pelas águas deverá sair do local, para não ficar ilhado.

“Na minha casa alaga já naturalmente, mas são poucos dias, 20 dias, 17 dias, depois volta tudo ao normal. E a previsão é de que vai alagar todo tempo, não vai ter seca, por isso não vai poder ficar ninguém habitando aqui”, explica Maria Iraildes Valente de Menezes, vice-presidente da Associação dos Moradores Ribeirinhos de Mutum-Paraná.

Ela se diz contra a construção das usinas, porque, mesmo se for deslocada para outro lugar, muita coisa vai ficar para trás. “A gente sabe que mesmo tendo casa e tudo lá no outro lugar se a gente for realocado mesmo não vai ter isso tudo, a gente vai levar um bom tempo para fazer tudo de novo. Plantar suas árvores, arrumar tudo como era aqui”, lamenta a moradora, mostrando o pé de manga em frente à sua casa de madeira.

A moradora Lucimar Marques da Silva, 60 anos, também não quer sair de Mutum-Paraná. “Para mim é muito bom aqui. Tem tudo, a gente sai daqui, vamos pegar um peixinho ali, é muito gostoso. Pega, vem e come. E em outros cantos é difícil, né?”, comenta.

Mesmo sabendo que a comunidade será afetada, é possível encontrar em Mutum-Paraná moradores favoráveis à construção das usinas hidrelétricas. A “Nova Mutum”, como já está sendo chamada, ainda não tem local definido para construção, mas já traz esperança de condições melhores.

Para o morador Rovaldo Herculino Batista, os benefícios das hidrelétricas devem valer a pena. “Nós vamos mudar daqui, cada morador vai receber uma casa e além disso vai ter a indenização pela saída da casa que nós moramos aqui”, diz ele, que compareceu a todas as reuniões realizadas na comunidade para debater a construção das barragens.

A geração de energia e o desenvolvimento do estado são os motivos que fazem o morador de Mutum-Paraná Osvaldo Borges de Quadros se afirmar favorável à construção das hidrelétricas no Rio Madeira. “A usina vai gerar riqueza, desenvolvimento, outras indústrias que podem se instalar no estado. Então, é beneficio para todos, empregos”, considera o gaúcho, que está há quatro anos em Rondônia.

Segundo os moradores, três localidades estão sendo estudadas para ser a futura “Nova Mutum”: Fazenda Rio Madeira, Fazenda Novo Brasil e Imbaúma.

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Mudança em projeto de usinas torna descida de peixes provável, diz pesquisador

7 de Junho de 2007 - Pedro Biondi - Repórter da Agência Brasil - Porto Velho (RO) - Brasília - O pesquisador Angelo Antonio Agostinho avaliou positivamente a mudança no projeto das usinas projetadas para o Rio Madeira – a retirada de uma ensecadeira, espécie de mureta – e as evidências apresentadas na reunião de 25 de maio entre as empresas, governo e especialistas, que detalharam as diferenças entre o sistema escolhido para as hidrelétricas e os convencionais. Em maio, ele havia apontado dúvidas especialmente com relação à dourada (um grande bagre migrador, de importância comercial).

Jirau e Santo Antônio, as duas usinas que o governo federal quer construir no rio, em Rondônia, somam 6.450 megawatts – aproximadamente metade da potência de Itaipu, a usina mais potente do país. A obra depende da concessão de licença prévia pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Pelo projeto, as represas alagarão área proporcionalmente pequena e não controlarão a vazão do rio. Além disso, serão construídos elementos de transposição, que imitam as condições que os peixes encontram atualmente.

“Pelo cenário que eles apresentaram, é alta a probabilidade de passagem das larvas dos peixes que desovarem acima das barragens”, disse o pesquisador da Universidade Estadual de Maringá. Ele ressalta que não é especialista em hidrologia (estudo da água) e que não há usinas semelhantes no país, para uma previsão segura.

Agostinho cita pesquisa segundo a qual as douradas que desovam no alto Rio Madeira contribuem com 20% do pool genético (isto é, da diversidade, importante para a sobrevivência de uma população animal) da espécie rio abaixo. “A grosso modo, esses 20% vão ser o prejuízo se o peixe não descer”, comenta. Ele diz que, nesse caso, seria possível fazer um manejo – caro – com reprodutores capturados em diferentes trechos.

Com relação ao mercúrio – metal perigoso para a saúde e outro dos pontos levantados pelo Ibama nos pedidos de informação –, o pesquisador explica que em reservatórios com água estagnada a substância é liberada para a coluna d'água. “Na região há problemas com mercúrio, mas eles não devem piorar se realmente acontecer o que está previsto [as represas não estagnarem o rio]”, diz.

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Pesquisadora prevê rearranjo na pesca no Rio Madeira

7 de Junho de 2007 - Sabrina Craide - Repórter da Agência Brasil - Porto Velho (RO) - A pesquisadora Carolina Doria, da Universidade Federal de Rondônia, no mercado de peixes Cai N'Água. Organizações ambientalistas temem que as usinas projetadas para o Rio Madeira ameacem os peixes.

Brasília - A situação dos peixes foi uma das principais preocupações ao longo da análise dos possíveis impactos ambientais das usinas hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, projetadas para o Rio Madeira. Algumas espécies ficarão mais abundantes do que hoje, e outras, menos, avalia a pesquisadora Carolina Doria, participante do diagnóstico ambiental que forneceu subsídios para o estudo de impacto ambiental (EIA) da obra.

“A gente vai deixar de ter algumas espécies, mas por outro lado, vai haver maior abundância de outras espécies, que inclusive podem ser utilizadas também pelos pescadores”, afirma Doria, professora do Departamento de Biologia e do laboratório de Ictiologia e Pesca da Universidade Federal de Rondônia (Unir). O diagnóstico feito pela Unir detectou a existência de 459 espécies de peixes no Rio Madeira. A pesquisadora afirma que, apesar do temor de alguns pescadores da região, não haverá extinção de peixes.

As duas usinas que o governo federal quer construir no rio, em Rondônia, somam 6.450 megawatts – aproximadamente metade da potência de Itaipu, a usina mais potente do país. A obra depende da concessão de licença prévia pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

As questões relativas à migração de peixes na época da reprodução foram um dos pontos abordados nos vários pedidos de informações do Ibama ao consórcio Furnas/Odebrecht, que fez o EIA. Isso porque a obra pode dificultar a locomoção de espécies que sobem o rio na piracema, procurando locais com menores acúmulos de água, ou a descida de ovas e larvas, que chegariam a pontos do rio a jusante (abaixo).

O projeto das usinas prevê a construção de elementos de transposição, que imitam as condições que os peixes encontram atualmente. De acordo com Carolina Doria, esse mecanismo já se mostrou eficaz em outras barragens, como a de Itaipu. “Esses canais representam as características das corredeiras que hoje os bagres e outros peixes migradores têm que ultrapassar durante a migração, com velocidade e níveis de oxigênio semelhantes para que eles possam transpor as barragens”, explica.

A possibilidade de ficar sem o trabalho que faz há mais de 30 anos para sustentar a família, com sete filhos e dois netos, assusta o pescador Almeida Nunes Pereira. Ele avalia que não vai mais ser possível pescar na área em que devem ser construídas as represas. “Se for proibido pescar aí, a gente dá um jeito, vai aí para baixo. Porque no Amazonas é liberado, mas aqui em Rondônia a gente não pode trabalhar com rede da malha miúda. Mas aí para o Amazonas pode”, conta o pescador, garantindo que não vai largar a pescaria, porque é a única coisa que sabe fazer.

Pereira diz acreditar na capacidade técnica dos construtores para que não haja diminuição do pescado. “Ninguém sabe como eles vão fazer a barragem, ninguém sabe se vai ficar algum canal para passar. Mas eu acho que deve ficar. Acho que não vai prejudicar a passagem dos peixes, deve prejudicar a passagem dos barcos”, afirma Pereira. Em relação ao futuro dos peixes no rio, ele comenta: “O peixe não acaba, não, ele se torna mais difícil. A gente que pesca, que anda nesse rio, a gente que sabe a quantidade de peixes que tem”.

O pescador, que trabalha diariamente no Mercado Cai N'Água, em Porto Velho, opina que as obras serão positivas para a capital, mas ruins para sua profissão. “Para a cidade com certeza vai melhorar, mas para nós aqui vai se tornar pior. Vai gerar muito emprego, vai ser bom, mas nesse sentido vai prejudicar muita gente”, diz.

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Ribeirinhos do Rio Madeira têm pouca informação sobre conseqüências das hidrelétricas

10 de Junho de 2007 - Sabrina Craide - Repórter da Agência Brasil - Porto Velho (RO) - Brasília - As informações sobre o número de casas atingidas e as ações que serão realizadas para apoiar as famílias que moram na beira do Rio Madeira, caso a construção das usinas hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau seja autorizada, ainda são insuficientes para os ribeirinhos que moram nas comunidades de Cachoeira de Santo Antônio e Cachoeira do Teotônio. Ambas fazem parte das quatro que serão alagadas se as usinas hidrelétricas do Rio Madeira forem construídas.

A previsão de alagamento está no relatório de impacto ambiental (Rima) do empreendimento, que não explicita se as comunidades serão total ou parcialmente afetadas.

Na comunidade de Santo Antônio, a 7 quilômetros do centro de Porto Velho, ainda há desconfiança em relação as obras, mesmo depois de diversas reuniões realizadas pela equipe técnica de Furnas Centrais Elétricas. A estatal é responsável, com a construtora Norberto Odebrecht, pelo estudo de impacto ambiental (EIA) e pelo Rima.

Segundo o morador Luiz Luz Máximo, que mora lá desde que nasceu, há 51 anos, os estudos feitos sobre os impactos na região com a construção das hidrelétricas são insuficientes. “A gente pede a indenização certa e como vai ser indenizado, para onde vai, se eles vão dar outro local, se vai indenizar em moeda. Mas ninguém sabe, porque não foi dito nada, não foi afirmado nada, ninguém sabe nada”, diz o morador.

Mesmo com a garantia de que sua casa não será atingida, pois está em uma posição mais elevada, ele teme as conseqüências do alargamento da margem do rio, e já se prepara para sair de sua atual residência. “A minha casa corre o risco, porque uma obra como esta tem que ter uma área de 15 quilômetros de segurança”, diz Máximo, que afirma existirem atualmente 139 famílias em Santo Antônio.

Os moradores de Cachoeira do Teotônio também estão desinformados sobre a situação em que irão ficar se as hidrelétricas forem construídas. O povo da região já se prepara para deixar as casas, e as os anúncios de venda de imóveis se tornaram comuns. De acordo com os próprios moradores, atualmente há 280 pessoas vivendo ali.

Vaney Assef se mudou há quatro para Teotônio, porque não encontrava emprego em Porto Velho. As terras onde mora não serão atingidas pela água, mas ele teme que, com a cheia do rio, os acessos à comunidade fiquem interrompidos, isolando a população. “Eu estou com medo, porque eu tenho família. Isolando a gente aqui, a gente vai para a cidade, pode ter milhões de empregos, mas sem capacitação como é que a gente vai trabalhar?”, questiona o morador.

Ele conta que trabalhou durante dois anos e quatro meses a serviço da empresa Furnas medindo o nível do rio duas vezes por dia, ganhando R$ 200 reais por mês. Manifesta esperança diante da perspectiva de a empresa de dar prioridade a quem já fez o serviço na hora de contratar funcionários para a obra. “Eu estou nessa esperança. O rapaz me falou que a partir do momento que fosse aprovado [a construção das hidrelétricas], as pessoas que tivessem trabalhando nessa área de hidrometria automaticamente voltariam a fazer o mesmo serviço”, diz Assef.

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Hidrelétricas em Rondônia exigirão empenho para controle da malária, diz ministério

7 de Junho de 2007 - Sabrina Craide - Repórter da Agência Brasil - Brasília - Se houver um trabalho forte de prevenção no estado de Rondônia, é possível conter o avanço da malária previsto com a construção das usinas hidrelétricas no Rio Madeira, que estão em análise de viabilidade ambiental. Essa é a avaliação do coordenador geral do Programa Nacional de Controle da Malária, José Lázaro de Brito Ladislau. Segundo ele, o risco de expansão da doença na região das usinas é preocupante, mas o governo já estuda alternativas para controlar a situação.

“O Ministério da Saúde já formou um grupo de especialistas para fazer um estudo profundo da situação não só do numero de casos de malária, mas do potencial de receptividade da doença na região”, informa. Ele diz que o objetivo é que, ao invés de levar um aspecto negativo para a região, o empreendimento possibilite até a redução do número de casos da doença no estado.

De acordo com o coordenador, apesar da redução do número de casos verificada nos últimos anos, Rondônia é o segundo estado do país com maior registro de malária, ficando atrás apenas do Amazonas. Segundo ele, os casos verificados em Rondônia representam 20% do que é registrado em todo o país. Ano passado, foram constatados mais de 100 mil casos da doença no estado.

Ladislau explica que, desde 1999, a responsabilidade pelo trabalho de executar as ações de controle da Malária, anteriormente a cargo da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), cabe aos municípios, com apoio dos estados e recursos do governo federal. De acordo com informações da assessoria de imprensa da Funasa, dependendo da situação em cada local, as instituições governamentais podem trabalhar conjuntamente na intensificação das ações de prevenção, combate e controle.

Para o coordenador, a descentralização das ações foi positiva para o combate à doença. Segundo ele, o número de laboratórios para diagnóstico da malária nos nove estados da Amazônia Legal passou de 1.185, em 1999, para 3.185 em 2006. “Considero que o processo de descentralização foi extremamente positivo, porque a população está próxima do gestor, que é o secretário de saúde, o prefeito municipal, para cobrar. Isso faz com que as ações tenham esse controle social mais efetivo”, avalia José Lázaro de Brito Ladislau.

Em entrevista publicada pela Radiobrás, o governador de Rondônia, Ivo Cassol, defendeu que a Funasa reassumisse o combate ao problema. Segundo ele, a maioria dos municípios “ou não tem carro, ou não tem estrutura, ou não tem condições de fazer o trabalho”.

O pesquisador Mauro Shugiro Tada, do Centro de Pesquisas em Medicina Tropical de Rondônia, também diz que a prevenção será fundamental para que não haja uma explosão de malária no estado e, especialmente na região onde devem ser construídas as usinas, onde a doença já é considerada endêmica. Mas, segundo ele, se houver estudo e planejamento adequados, é possível evitar o avanço da doença em Rondônia, após o início das obras.

Jirau e Santo Antônio, as duas usinas que o governo federal quer construir no rio, somam 6.450 megawatts – aproximadamente metade da potência de Itaipu, a usina mais potente do país, e 8% da demanda nacional, segundo cálculo do governo. A obra depende da concessão de licença prévia pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Pelo projeto, as represas alagarão área proporcionalmente pequena e não controlarão a vazão do Madeira.

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Cassol diz que opositores de hidrelétricas ganham para ser contra o avanço do país

6 de Junho de 2007 - Sabrina Craide e Eliane Gonçalves - Repórteres da Radiobrás - Brasília - Nesta segunda parte da entrevista à Radiobrás, o governador Ivo Cassol diz que os críticos do projeto das hidrelétricas no Rio Madeira são pagos por organismos internacionais “que estão plantando no Brasil para que o país fique como escravo a vida inteira”. Cita o zoneamento ecológico-econômico do estado como exemplo do empenho de Rondônia pela preservação ambiental e afirma que o homem é capaz de produzir “sem exterminar”.

Agência Brasil: O senhor falou que ONGs internacionais estão dificultando a construção das usinas. O que o senhor está fazendo em relação a isso?
Ivo Cassol: Nós não temos como competir. Porque esses países querem que o Brasil viva com o pires na mão pedindo esmola. Se deixar o Brasil produzir, nós já, já, teremos dinheiro suficiente para emprestar para os americanos se for preciso. Essas ONGs, esses ambientalistas de sala de ar-condicionado, gostam de uma água gelada, gostam de assistir a um jogo da Copa do Mundo, de andar com sapatinho de couro, com uma calça boa de algodão. E tudo isso, para poder produzir, de uma maneira ou de outra tem que desmatar, mudar. Mas o homem é tão inteligente que, ao mesmo tempo, se você derrubar dez árvores, pode plantar milhares. Eu vi uma entrevista que dizia que as usinas não podiam sair por causa de meia dúzia de bagres. Hoje a gente faz a criação de alevinos em tanques, em laboratórios, e pode distribuir milhares de peixes em todos os lagos e rios em que for preciso. Em qualquer usina hidrelétrica o homem faz as escadas, faz a eclusa. Essas pessoas que estão contra é porque estão ganhando de alguém para ser contra. Eu queria que eles estivessem lá em São Paulo, no 30º andar, e acabasse a energia lá em cima. Quem não gosta de ter um conforto? De ter uma televisão, uma geladeira?

ABr: De quem essas pessoas estão recebendo?
Cassol: Pode ter certeza de que são organismos internacionais que estão plantando no Brasil para que o país fique como escravo a vida inteira. Eu não tenho nomes, mas o dinheiro não cai do céu. Naqueles outros países ninguém preservou, nós estamos preservando. Quando nos colocam o quanto nós desmatamos, ninguém diz o tanto que nós preservamos. Um exemplo: em Rondônia, mais de 75% das nossas matas são reserva biológica ou área indígena, ou reservas estaduais, ou dentro da própria manutenção que os proprietários têm que fazer, obrigatória no Código Florestal. Mesmo estando na Região Norte, queremos sobreviver como verdadeiros cidadãos, no mundo globalizado e informatizado. É muito fácil os que ficam voando de jatinho dizer que nós temos que continuar na época da pedra.

ABr: O que o senhor acha da legislação ambiental brasileira? Setores do empresariado e do governo falam dela como um entrave para o desenvolvimento.
Cassol: Fizeram tantas leis nesse país que não se cumpre a metade. O próprio governo federal, o próprio PT, que tanto pregou e fez essas leis no passado, hoje tem dificuldades para desenvolver o Brasil. As nossas leis têm que ser revistas. Vocês têm conhecimento da fotossíntese das nossas matas: quando elas estão maduras, soltam gás carbônico e ficam consumindo oxigênio. Então nós temos que ter mata renovável. Agora, não é só a Amazônia para preservar. Os Estados Unidos têm que largar menos poluente no ar. A minha proposta é que as pessoas que vivem na Amazônia têm que ser compensadas ou com R$ 1 ou com R$ 10 por hectare todo mês para não precisar desmatar mais. E nós queremos atrair os turistas para cá, trazer oportunidades de emprego e de trabalho. Entre uma árvore e o ser humano, eu fico com o ser humano. Entre um animal e o ser humano, eu fico com o ser humano. Mas nós, como seres humanos, somos tão inteligentes que nós não precisamos exterminar nada.

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Estudo de impacto ambiental subestimou população indígena, diz Pastoral da Terra

28 de Maio de 2007 - João Porto - Da Rádio Nacional da Amazônia - Brasília - A Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados foi a Palmas, em Tocantins, fazer uma audiência pública hoje (28) sobre os possíveis impactos ambientais da construção da barragem de Estreito no Rio Tocantins. A audiência teve a participação de deputados da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, do senador Paulo Paim. A advogada da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Maria Trindade, explica que as comunidades reivindicam um novo estudo de impacto ambiental.

O estudo que existe foi feito pelo próprio consórcio que vai realizar a obra. Segundo Maria Trindade, o estudo não levou em consideração os impactos que a barragem pode causar em certas comunidades que vivem próximas do Rio Tocantins. "No primeiro momento, o estudo não considerou os indígenas como impactados. Os indígenas tanto Apinajé quanto Krahô não foram considerados atingidos pela barragem de estreito", afirma.

Segundo o líder indígena Antônio Apinajé, o estudo de impacto ambiental do consórcio levou em consideração apenas 6 mil indígenas enquanto estima-se que existam 20 mil indígenas e ribeirinhos vivendo na área afetada. Antônio acredita ainda que o governo precisa investir em outras fontes de energia e não deve construir mais barragens. "Tudo tem um limite. Por que o governo não investe em outras formas de energia limpa que não prejudiquem tanto o meio ambiente? Desse jeito o Rio Tocantins vai virar um lago", sugere.

Para o presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, deputado Luiz Couto, é preciso chegar a um consenso. Não se pode deixar de lado as reivindicações das comunidades, mas é preciso realizar as obras de infra-estrutura, previstas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). "Queremos sim o progresso, queremos sim a barragem, mas ela não pode passar por cima dos direitos fundamentais", adianta.

A Comissão dos Direitos Humanos e Minorias pretende avaliar as reivindicações das comunidades e leva-lás às comissões competentes na Câmara, que estudam os projetos do PAC.

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Meia dúzia de famílias não vão atrapalhar milhões, diz governador de Rondônia sobre usinas

6 de Junho de 2007 - Sabrina Craide e Eliane Gonçalves - Repórteres da Radiobrás - Wilson Dias/ABr -
Porto Velho (RO) - O governador de Rondônia, Ivo Cassol, fala à Radiobrás sobre as usinas projetadas para o Rio Madeira.

Brasília - O potencial do Rio Madeira para geração de energia é parte de uma riqueza que não está sendo aproveitada, avalia o governador de Rondônia, Ivo Cassol. Em entrevista à Radiobrás, ele diz que a construção das usinas de Jirau e Santo Antônio vai gerar 30 mil empregos diretos e 100 mil indiretos, e que o estado receberá “de braços abertos” as pessoas que chegarem com a migração prevista. Também defende que o interesse nacional da obra se sobrepõe ao das comunidades que terão de ser deslocadas: “Se tiver meia dúzia de famílias, isso não vai atrapalhar milhões de pessoas que precisam dessa energia”.

Agência Brasil: Quais são os pontos positivos da construção das usinas em Rondônia?
Ivo Cassol: O grande ponto positivo é nos aproveitarmos a riqueza que o estado tem e não está sendo aproveitada. Esse projeto é diferente de Itaipu, das usinas com alagamentos, com impacto ambiental muito grande. Simplesmente, nós temos a cheia e permanecendo cheia, com isso aproveitando o fluxo normal. Da água do Rio Madeira para gerar energia não só para Rondônia, mas para o Brasil inteiro. Ou o Brasil constrói novas hidrelétricas ou arruma um outro sistema que possa gerar energia, ou vai ficar no escuro. Para Rondônia é ótimo, porque nós vamos ter 30 mil empregos diretos, mais de 100 mil indiretos, dar essa expectativa de uma condição de vida melhor para o povo.

ABr: O estado está preparado para o fluxo migratório que pode acontecer?
Cassol: Se nós formos ver pelo lado negativo, “porque tem malária”, “porque tem isso”... Nós já temos a questão da malária, ainda não foi descoberta uma vacina que evite a propagação. O que nós temos que fazer é continuar combatendo. Da mesma maneira, se nós vermos o problema social. Já está faltando água aqui em Porto Velho, faltando esgoto, o que falta para nós é recurso. Os organismos internacionais e o próprio governo federal nos cobram muito, nos prometem bastante e não nos dão nada. Então, nós temos que aproveitar essa potencialidade que o estado tem, mesmo que tenha uma migração um pouco maior, não acredito que vai ser tão grande. Mesmo vindo mais cidadãos brasileiros para Rondônia, nós vamos receber de braços abertos e estaremos preparados para isso.

ABr: O que o estado vai fazer para evitar a proliferação da malária?
Cassol: Aumenta o número da malária quando você tem a cheia e depois tem a seca, quando prolifera o mosquito. Com a cheia normal, natural, simplesmente a água vai estar naquele patamar o tempo inteiro. Porque, nas usinas do Madeira, o fluxo é normal. Não é uma barragem para poder fazer um armazenamento de água. Conforme a água entra, ela sai. O resto é conversa fiada. O que nós precisamos é o governo federal voltar a fazer o dever de casa, assumir a Funasa [Fundação Nacional da Saúde], que são os “malarientos”, como a gente dizia, o pessoal que cuidava da malária, que hoje colocaram nas mãos do município. Foi no governo passado, eu era prefeito e dizia que não funcionava. Esses servidores federais que estão à disposição dos municípios para combater a malária, infelizmente a maioria dos municípios não trabalha. Ou não tem carro, ou não tem estrutura, ou não tem condições de fazer o trabalho.

ABr: Como fazer com as pessoas que serão desabrigadas pelas barragens?
Cassol: Pode ter certeza de que desabrigado não tem. Não tem os das barragens não sei o que, isso é pura fanfarra. Se tiver algum pode ter certeza de que dentro do projeto já tem recurso alocado para ele se transferir com a sua moradia, com o seu conforto no mínimo mil vezes melhor. Se tiver meia dúzia de famílias, isso não vai atrapalhar milhões de pessoas que precisam dessa energia. [O estudo de impacto ambiental prevê que quatro comunidades serão afetadas; para o Ibama, serão seis.] É o povo brasileiro, o povo de Brasília, o povo do Rio, de São Paulo, dos grandes centros, que precisa dessa energia. Energia limpa.

ABr: Para alguns dos críticos do projeto, o problema maior é a intenção de fazer uma hidrovia com o Madeira...
Cassol: O Rio Madeira é navegável, tanto que a produção de soja do Mato grosso, a produção de milho, mesmo carne, o produto que é feito na Zona Franca de Manaus, geladeiras, televisões, sobe o rio até Porto Velho e aqui acaba sendo distribuído para o Brasil inteiro. Além disso, tem o Aeroporto Internacional de Manaus, que leva para outros países. Nós temos a cachoeira, ela é intransponível hoje, e com as eclusas o rio vai se tornar navegável. Nós podemos sair daqui e ir até Vila Bela, no Mato Grosso. Lógico para isso seria preciso construir mais duas usinas para cima. Então as eclusas é simplesmente você ir projetando o futuro. Senão, lá na frente, você precisa depois o triplo do dinheiro para fazer. Num projeto desses tem que deixar prevenido uma obra estruturante para que a gente possa desenvolver as regiões sem ter medo de devastação. O que nós temos que ter é medidas rigorosas em locais proibidos, e em Rondônia nós temos o zoneamento socioeconômico, que foi aprovado e diz o que pode e o que não pode. E onde não pode, não pode, acabou.

ABr: Há fiscalização?
Cassol: Lógico. Nós acompanhamos passo a passo. E as áreas que têm migração, invasão, são áreas devolutas, da União, onde quem devia estar atuando é a União. Das derrubadas que acontecem no estado, 95% você pode ter certeza que é nessas áreas.

ABr: Existem denúncias de que o governo está usando a estrutura do estado para colher assinaturas em favor das usinas. Isso procede, está acontecendo?
Cassol: Eu quero que esses segmentos aí expliquem para o povo de onde eles tiram dinheiro para ficar aqui em Porto Velho. O que eu estou defendendo é a economia do estado de Rondônia. O que a sociedade num todo está defendendo são obras necessárias para o Brasil. Em cada local está lá o abaixo-assinado que as pessoas podem assinar. E ninguém é obrigado a assinar.

ABr: E nas escolas, estão sendo colhidas assinaturas?
Cassol: Em todos os lugares estamos colhendo assinaturas. E pegando opinião não só do comércio, mas também dos nossos alunos. Todo mundo que queira participar para dar o seu depoimento, pró ou contra, nos ajuda. Mas, para nossa alegria, estamos aí com 99,9% das pessoas favoráveis.

ABr: Mas o que se fala é que as pessoas estão sendo coagidas, estão sendo forçadas, que tem uma barganha para que elas assinem.
Cassol: Essa barganha que eles estão falando é igual história de Papai Noel. Vou te dar outro exemplo. Nós temos em Rondônia a maior jazida de diamante do mundo. Praticamente paga a dívida externa. Eu denunciei, em 2003, com documento assinado para o ministro da Justiça, para o presidente Lula, que ia acontecer uma chacina lá dentro, falei que estão levando embora o nosso diamante. Passaram-se quatro anos, a exploração ilegal continua. Quem é beneficiado com aquela riqueza? São bandidos, estão financiando alguma coisa por esse mundo afora e não fica nada para Rondônia, para o município e para o governo federal. Toda vez tentaram me envolver como se eu fosse uma pessoa beneficiada. Mas o único que teve coragem de denunciar a extração foi o governador Ivo Cassol. Aí montam um grupo de trabalho, mandam uma equipe para cá só para ganhar diária e mordomia.

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Mudança em projeto de usinas torna descida de peixes provável, diz pesquisador

7 de Junho de 2007 - Pedro Biondi - Repórter da Agência Brasil - Porto Velho (RO) - Brasília - O pesquisador Angelo Antonio Agostinho avaliou positivamente a mudança no projeto das usinas projetadas para o Rio Madeira – a retirada de uma ensecadeira, espécie de mureta – e as evidências apresentadas na reunião de 25 de maio entre as empresas, governo e especialistas, que detalharam as diferenças entre o sistema escolhido para as hidrelétricas e os convencionais. Em maio, ele havia apontado dúvidas especialmente com relação à dourada (um grande bagre migrador, de importância comercial).

Jirau e Santo Antônio, as duas usinas que o governo federal quer construir no rio, em Rondônia, somam 6.450 megawatts – aproximadamente metade da potência de Itaipu, a usina mais potente do país. A obra depende da concessão de licença prévia pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Pelo projeto, as represas alagarão área proporcionalmente pequena e não controlarão a vazão do rio. Além disso, serão construídos elementos de transposição, que imitam as condições que os peixes encontram atualmente.

“Pelo cenário que eles apresentaram, é alta a probabilidade de passagem das larvas dos peixes que desovarem acima das barragens”, disse o pesquisador da Universidade Estadual de Maringá. Ele ressalta que não é especialista em hidrologia (estudo da água) e que não há usinas semelhantes no país, para uma previsão segura.

Agostinho cita pesquisa segundo a qual as douradas que desovam no alto Rio Madeira contribuem com 20% do pool genético (isto é, da diversidade, importante para a sobrevivência de uma população animal) da espécie rio abaixo. “A grosso modo, esses 20% vão ser o prejuízo se o peixe não descer”, comenta. Ele diz que, nesse caso, seria possível fazer um manejo – caro – com reprodutores capturados em diferentes trechos.

Com relação ao mercúrio – metal perigoso para a saúde e outro dos pontos levantados pelo Ibama nos pedidos de informação –, o pesquisador explica que em reservatórios com água estagnada a substância é liberada para a coluna d'água. “Na região há problemas com mercúrio, mas eles não devem piorar se realmente acontecer o que está previsto [as represas não estagnarem o rio]”, diz.

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Marina diz que não há prazo para decisão sobre Rio Madeira, Alencar prevê licença este mês

5 de Junho de 2007 - Carolina Pimentel e Érica Santana - Repórteres da Agência Brasil - Brasília - A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse hoje (5) que, apesar de o ministério estar trabalhando com urgência no processo de licenciamento referente à instalação das hidrelétricas do Rio Madeira (Santo Antônio e Jirau), ainda não há um prazo definido para a decisão sobre a viabilidade ambiental. No entanto, o presidente da República em exercício, José Alencar, avaliou que as licenças ambientais para as usinas serão liberadas ainda este mês.

Alencar informou que a ministra não estipulou uma data. "Eu acredito, mas ela não pode falar, porque ela é muito cuidadosa", disse aos jornalistas. "Essas duas usinas vão sair em tempo. É verdade que a licença ambiental respeita determinados dispositivos legais. A ministra Marina tem feito tudo para que isso saia o mais rápido possível."

A ministra do Meio Ambiente disse que processo de licenciamento das usinas está sendo feito mesma forma que o da Rodovia Cuiabá-Santarém (BR-163) e o da transposição do Rio São Francisco. "Não será diferente em relação ao complexo do Rio Madeira. Trabalhamos com igual afinco", comentou.

O projeto das usinas prevê a inundação de 529 quilômetros quadrados – 271 pela usina de Santo Antônio, a cerca de 10 quilômetros de Porto Velho (capital de Rondônia), e 258 pela usina de Jirau, a cerca de 130 quilômetros da cidade. O parecer do Ibama tinha concluído que as previsões do consórcio estavam próximas da realidade, mas apontou que a área coberta pela água poderia aumentar ao longo dos anos por causa dos sedimentos retidos pela ensecadeira.

A ministra informou que o MMA ainda está fazendo uma avaliação técnica das repostas fornecidas pelo consórcio Furnas/Odebrecht sobre questões relacionadas a mercúrio, sedimentos e peixes. "No momento oportuno, quando tivermos o relatório técnico, da área técnica do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis [Ibama], estaremos nos pronunciando", explicou Marina Silva.

Perguntada se o governo está tentando realizar o projeto das hidrelétricas do Rio Madeira de forma apressada, Marina Silva respondeu que "não há nenhuma determinação de fazer algo em detrimento de outra responsabilidade, de outro esforço”. Acrescentou: “O que se está trabalhando é para resolver adequadamente os processos".

Questionado sobre divergências entre as ministras Marina Silva e Dilma Rousseff acerca das licenças ambientais, Alencar disse que ambas "merecem apoio, respeito, admiração e aplauso de todos os brasileiros". Já a ministra Marina Silva negou que haja "atritos gerenciais" entre elas: "Eu, graças a Deus, não tenho nenhum problema pessoal com a ministra Dilma, eu tenho um respeito muito grande pelo trabalho dela e inclusive o respeito por ela ser uma mulher batalhadora e com uma história de vida admirável".

Marina disse ainda que a suposta oposição entre ela e Dilma foi criada pela imprensa. "Na prática temos muito respeito uma pela outra e não confundimos as posições do ponto de vista dos encaminhamentos institucionais com qualquer forma de relacionamento pessoal", afirmou.

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Para técnico do governo, usinas do Rio Madeira são “projetos excelentes”

4 de Junho de 2007 - Vladimir Platonow - Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro - O presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, é um defensor das usinas de Santo Antônio e Jirau, no Rio Madeira, cuja viabilidade ambiental está em análise no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Destaca o alagamento previsto, baixo em comparação com o de grandes usinas do país, e diz que os dois projetos são excelentes tanto do ponto de vista energético como do ambiental. Tolmasquim é engenheiro e economista, com doutorado pela Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris. A seguir, trechos da entrevista concedida na última terça-feira (29), na sede da empresa, ligada ao Ministério de Minas e Energia.

Agência Brasil: O senhor está convicto de que não haverá problemas quanto à sedimentação e aos impactos ambientais no Rio Madeira?
Maurício Tolmasquim: Eu tenho certeza de que as usinas do Madeira são projetos excelentes, tanto do ponto de vista energético quanto ambiental. Em média, as usinas brasileiras alagam, para cada megawatt gerado, uma área de 0,52 quilômetro quadrado. As usinas do Madeira alagam 0,08 quilômetro quadrado. Se descontarmos a água que está na calha dos rios, esse valor cai para 0,03 quilômetro quadrado. São usinas praticamente a fio d'água, com alagamento pequeno, baixa queda, usarão tecnologia de turbinas de bulbo – serão 44 turbinas em cada uma. Além disso, na questão do sedimento, foi trazido ao Brasil um grande especialista mundial, chamado Sultan Alan, que é a grande referência em sedimentologia. Ele foi a várias praias, analisou o tipo de areia e constatou que as condições são excelentes, que não há riscos de sedimentação acima do normal.

ABr: Mas alguns ambientalistas apresentaram estudos demonstrando que por causa dos sedimentos as usinas teriam vida útil de apenas dez anos...
Tolmasquim: Uma usina construída no Madeira tem vida útil de 100 anos, sem problema nenhum. Quanto à questão sobre os peixes, existem 350 espécies e só duas delas, de bagres, têm longa migração, nadando mais de 2 mil quilômetros. Uma delas parece que desova nos Andes. Para essa espécie, vai se construir um canal para que possa migrar e desovar. Esses canais vão ser muito melhores do que em outras usinas, como em Itaipu. Não tenho dúvida de que, do ponto de vista ambiental, essa é uma excelente obra, que permitirá que a energia que é fundamental seja produzida sem ter danos ambientais. Sempre lembrando que a opção de não se construir essas usinas é construir usinas mais poluentes. A eficiência energética é possível, mas ela não atenderá, por si só, a necessidade de desenvolvimento de que o país precisa. Não poderá ser eólica, que fica muito caro e que não atenderia as necessidades do país. As outras opções são as usinas a óleo ou a carvão, que aumentam as emissões de carbono. O Brasil aumenta a demanda por energia entre 5,3 a 5,5% ao ano. É preciso 3,5 mil megawatts a 4 mil megawatts por ano, mesmo fazendo ações de conservação.

ABr: O país corre o risco de um novo apagão, sem as usinas do Madeira?
Tolmasquim: Eu não acredito que isso vá ocorrer, porque vai estar sempre sendo licenciada alguma usina nos estados, onde é facílimo obter licença para usina a carvão, em quatro ou cinco meses. Para uma hidrelétrica, leva dois ou três anos. Vão proliferar as usinas a carvão, importando tecnologia da China e carvão de outros países.

ABr: Alguns setores argumentam que o licenciamento ambiental é muito demorado. Qual sua opinião?
Tolmasquim: É um processo fundamental, para verificar se o empreendimento está apto para ser construído. Desde o novo modelo, criado em 2004, ficou definido que só se coloca em leilão o que tiver licença ambiental prévia concedida. Pelo modelo antigo, as usinas do Madeira já poderiam ter sido licitadas. Mas a gente achou que isso era um verdadeiro faz-de-conta, pois estava licitando um empreendimento que depois não ia poder sair do papel. Como a expansão do setor energético depende dessa licença, é claro que é importante uma celeridade nesse processo, se não você não tem bem claro a possibilidade de construção de usinas. Quem está no setor energético precisa garantir à população que não vai faltar energia.

 
 

Fonte: Agência Brasil - Radiobras (www.radiobras.gov.br)

 
 
 
 

 

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