Aquecimento Global - 22/06/2007
- A floresta amazônica possui um estoque
de aproximadamente 100 bilhões de toneladas
de carbono. Isso significa que, caso a floresta
seja desmatada, será lançado
na atmosfera terrestre o equivalente a 14
vezes as emissões anuais globais pela
utilização de combustíveis
fósseis (carvão mineral, petróleo
e gás natural) e 60 vezes as emissões
anuais por desflorestamentos em todo o planeta.
O alerta foi feito pelo
cientista Antônio Manzi, do Programa
LBA (Experimento de Larga Escala da Biosfera-Atmosfera
da Amazônia), coordenado cientificamente
pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
(Inpa/MCT), durante a audiência pública
sobre "Mudanças Climáticas".
A audiência aconteceu na última
segunda-feira (18), na Assembléia Legislativa
do Estado do Amazonas (ALEAM), para a Comissão
Especial Mista de Mudanças Climáticas
do Congresso brasileiro.
Durante a sessão,
foi discutido sobre o tema "Aquecimento
Global: diagnóstico e perspectivas
para o Brasil", com o enfoque para a
Amazônia. Na oportunidade, foram debatidas
alternativas para o desenvolvimento econômico
e sustentável da região. A audiência
contou com a presença de senadores,
deputados federais e estaduais, representantes
de órgãos do governo, cientistas
e dirigentes de instituições
de pesquisa da região etc.
Manzi disse que as mudanças
ambientais e o aquecimento global, causados
pelo consumo de combustíveis fósseis
e pelos desflorestamentos, são inevitáveis.
Segundo ele, já houve um aumento por
volta de 1ºC da temperatura na Amazônia
no último século. "A perspectiva
é de aumento de 0,3ºC por década
nos próximos 30 anos e que até
o fim desde século o aumento seja superior
a 4ºC ou 5ºC se não houver
uma grande redução das emissões.
Esse aumento causará impactos nos ecossistemas
e na sociedade, causando a perda de biodiversidade,
tanto terrestres quanto aquáticas,
e sérias ameaças à saúde
humana", afirmou. Disse também
que a sociedade, como um todo, deva ser orientada
a se adaptar às conseqüentes mudanças,
além de buscar formas para reduzir
os seus efeitos.
Em relação
ao seqüestro de carbono, o pesquisador
explicou que estudos recentes estimam que
a floresta amazônica vem capturando
entre 300 e 600 milhões de toneladas
por ano nas últimas três décadas.
Isso quer dizer que os ecossistemas da Amazônia
prestam um serviço ambiental importante
ao retirar parte do excesso de gás
carbônico da atmosfera e, por isso,
contribui para diminuir o aquecimento global.
"A manutenção
da floresta em pé também pode
representar importante contribuição
da Amazônia em um esforço global
de atenuação do aquecimento
global. Estima-se que seja necessário
diminuir a emissão dos gases de efeito
estufa a metade das emissões atuais
até 2050", enfatizou.
Segundo Manzi, manter a
floresta em pé não quer dizer
que a sociedade precise parar de evoluir.
E garante: "é possível
explorar os recursos naturais da floresta
e do subsolo sem grandes impactos ambientais.
Há, por exemplo, tecnologia disponível
para extração seletiva de madeira
com baixo impacto ambiental. A riqueza da
diversidade biológica dos ecossistemas
amazônicos possibilita a produção
de alimentos, cosméticos, energia e
produtos farmacêuticos".
Ele também falou
que é possível recuperar áreas
degradadas ou abandonadas, fazer o reflorestamento
para ajudar no seqüestro de carbono e
destiná-las a atividades lucrativas,
por exemplo, geração de serviços
ambientais, agricultura sem queimadas e para
a geração de biocombustíveis
e sistemas agroflorestais para a produção
de alimentos e madeira.
"O seqüestro de
carbono é um serviço ambiental
altamente relevante. Contudo, não se
pode esquecer dos ecossistemas terrestres.
Eles são importantes para a manutenção
da qualidade da água e interagem fortemente
com a atmosfera, por meio da reciclagem de
água das chuvas pela evapotranspiração,
que transporta umidade para a região
Central e Sul da América do Sul. Esses
serviços ambientais, prestados pelas
florestas, têm valor econômico
que precisam ser remunerados", alertou
Manzi.
Em sua fala final, o pesquisador
destacou que as instituições
de ensino e pesquisa da região precisam
continuar investindo no aumento do conhecimento
científico sobre os ecossistemas e
sua interação com o sistema
climático, pois desta forma, os modelos
matemáticos utilizados para prever
o clima poderão ser aperfeiçoados,
permitindo a diminuição na margem
de erros das previsões das mudanças
climáticas da Amazônia e do planeta
como um todo.
Caroline Soares e Luís
Mansueto
Assessoria de Comunicação do
INPA