(29/06/2007) Quinze mil
famílias de pequenos agricultores e
assentados da reforma agrária compartilham
uma experiência única: mostrar
ao mundo a possibilidade do manejo sustentável
da agrobiodiversidade e da segurança
alimentar em terras encravadas nos biomas
caatinga e cerrado brasileiros. Eles são
integrantes de um dos trabalhos mais ousados
da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(Embrapa), vinculada ao Ministério
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento,
em parceria com o Instituto Agronomico per
I’Oitremare (IAO/Itália) e o Instituto
Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama), o Programa
Biodiversidade Brasil-Itália (PBBI).
Considerado um desafio do
ponto de vista organizacional e legal, o PBBI
- iniciativa de cooperação bilateral
entre o IAO , Embrapa e Ibama - chega à
segunda fase de execução com
saldo positivo. Ilustra bem o êxito
do programa a história de agricultores
integrantes do projeto 4, um dos cinco estudos
componentes do programa (confira os temas
no link outras informações,
abaixo).
No norte de Minas Gerais
(numa região de transição
entre os dois biomas), os agricultores agregam
renda com o aproveitamento da polpa de frutas
nativas como coquinho e cagaita. A menos de
cem quilômetros de Brasília 1,1
mil famílias do Assentamento Cunha
aprendem e repassam conhecimentos sobre o
cultivo de variedades crioulas (nativas) de
milho e de manivas sementes. No Ceará
e no Sergipe os agricultores também
testemunham o desafio de produzir e preservar
a riqueza do ambiente que vivem.
“Além das 15 mil
famílias envolvidas diretamente no
projeto, acreditamos que pelo menos 65 mil
estejam indiretamente ligadas a esse trabalho.
Somente no que chamamos de pólos irradiadores
(num total de quatro em 17 municípios)
são 22 mil famílias”, revela
o coordenador deste trabalho, Altair Toledo
Machado, pesquisador da Embrapa Cerrados (Planaltina-DF).
Segundo Machado, a singularidade está
justamente no tamanho do impacto social, pois
além de levar tecnologia da Embrapa
dá oportunidade de os participantes
resgatarem a auto-estima, já que acreditam
no que fazem.
“Pela primeira vez realizamos
este tipo de atividades em um país
com megadiversidade. Além disso, é
um caso único de parceria bem-sucedida
com diferentes instituições,
que pode servir de exemplo a outros países”,
diz Marcello Broggio, responsável no
Brasil pela cooperação do Ministério
das Relações Exteriores da Itália
e presidente do comitê executivo do
PBBI. Financiador do programa, o IAO já
repassou mais de um milhão de euros
(do total de 3,4 milhões de euros)
à primeira fase dos trabalhos, concluída
em dezembro do ano passado, quando foram capacitadas
mais de 200 pessoas, entre lideranças
rurais, agricultores, técnicos e bolsistas.
A verba também foi aplicada na construção
de galpões multifuncionais – instalados
nos pólos irradiadores para funcionamento
de aulas e demais atividades do trabalho com
as comunidades envolvidas.
Presente em diferentes recantos
do Brasil o PBBI, conforme o pesquisador Altair
Machado, pode ser uma referência à
América Latina. Para Broggio o modelo
servirá para países que também
tem vasta diversidade e se encontram em fase
de desenvolvimento. Isso porque, segundo Marcello
Broggio, o objetivo é colaborar para
aliviar a pobreza e melhorar as condições
de vida e alimentação das comunidades
locais, tradicionais e indígenas, detentoras
da biodiversidade agrícola e silvestre.
Deva Rodrigues