59ª SBPC - 11/07/2007
- A diversidade biológica dos ecossistemas
e dos peixes na Amazônia não
encontra paralelo em nenhuma outra
bacia hidrográfica do Planeta. Na região,
somente de espécies characiformes,
ou seja, que possuem escama, são encontradas
cerca de 1.200 espécies das 1.500 encontradas
no mundo.
Contudo, apenas 15 espécies
locais fazem parte da alimentação
do caboclo amazônico. Todavia, os peixes
não são importantes apenas por
serem ricos em proteínas e, por isso,
inclusos na dieta alimentar. Eles possuem
mecanismos evolutivos e adaptativos aos ambientes
regionais pouco ainda explorados, além
de também ajudarem na recuperação
de áreas degradadas por meio da dispersão
de sementes.
Os dados foram passadas
pelo diretor do Instituto Nacional de pesquisa
da Amazônia (Inpa/MCT), Adalberto Val,
durante a palestra "Peixes da Amazônia:
uma mina de ouro biológica", realizada
nesta quarta-feira (10), da 59ª Reunião
Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso
da Ciência (SBPC), que acontece em Belém
do Pará até o dia 13.
Segundo Val, o pirarucu
possui uma substância que ajuda na respiração,
que cada 100 mg custa 500 dólares no
mercado. E lançou a pergunta: pirarucu
morre afogado? Ele disse que o animal é
um peixe de respiração aérea,
ou seja, precisa subir à superfície
para buscar oxigênio, caso contrário,
ele pode morrer afogado. Contudo, quando nasce
sua respiração é 100%
aquática. Isto quer dizer que utiliza
somente as brânquias para respirar.
"A Amazônia com
seus peixes é uma mina de surpresas.
A cada pesquisa, uma nova descoberta. Existem
peixes que conseguem sobreviver a temperaturas
de até 50ºC nas margens da várzea
de rios da região. A aruanã
preta chega a custar 50 dólares no
mercado. A Amazônia possui o cardinal,
principal peixe ornamental exportado para
o mercado mundial, além disso, há
mais de 200 espécies de piranhas na
região", afirmou.
A grande variedade estrutural
das formas de vida nos mais diversos níveis:
genético e populacional das espécies
e dos ecossistemas necessitam de pesquisas
para entender os processos ecológicos
e geológicos que interagiram ao longo
dos séculos e determinaram as qualidades
específicas de cada espécie.
"Antes da formação
dos Andes, a Amazônia se comunicava
com o oceano Pacífico, o que possibilitou
que animais oriundos do oceano se adaptassem
a ambientes de água doce, como por
exemplo, a arraia de água doce. Provavelmente,
é possível que ainda sejam descobertas
mais de 1.500 espécies de peixes na
Amazônia. Mas, para que isto aconteça
é preciso investimentos em fixação
de recursos humanos e financeiros", destacou.
O cientista explicou que
a grande variedade de peixes e características
entre eles se deve, em parte, pelo tamanho
da Amazônia, que ocupa 60% do território
brasileiro e o Norte da América do
Sul. Val acredita que não adianta fazer
leis de proteção ambiental,
que dificultam as pesquisas, sem pensar nos
países vizinhos. Além disso,
há a migração de pássaros
da região para o Canadá, os
Estados Unidos etc, os quais levam organismos
em seus bicos.
A formulação
das políticas públicas para
se determinar o tamanho das Unidades de Conservação
(UC) merecem uma atenção especial,
segundo Val. Isso porque um trabalho realizado
pelo pesquisador William Ernest Magnusson
(Inpa), na Reserva Florestal Adolpho Ducke,
localizada a 25 km de Manaus (AM), cuja extensão
é de 10 mil hectares, demonstrou que
os peixes encontrados em igarapés de
lados opostos da reserva são diferentes
entre si.
"Em locais extremamentes
pequenos podem ter espécies de animais
ocorrendo de forma distinta", explicou.
Para ele, a ciência
não existe para impedir o desenvolvimento,
mas ajudar em um desenvolvimento ambiental
justo. Por isso, ela deve se basear nos critérios
mais variados possíveis, que permitam
a tomada de decisão com segurança.
"Cabe ao cientista
oferecer essas informações no
processo de decisão", finalizou.
Luís Mansuêto - Assessoria de
Comunicação do INPA