16
de Julho de 2007
"Nuclear" significa “problema” –
em qualquer idioma.
Japão — No Brasil, diversas falhas
de segurança tornam o risco de acidentes
nucleares ainda maior
Um terremoto atingiu hoje
o noroeste do Japão provocando um incêndio
na usina nuclear Kashiwazaki-Kariwa e o vazamento
para o oceano de um litro e meio de água
contendo radioatividade. “O incêndio
e o vazamento de radioatividade nos lembram
das graves ameaças que a energia nuclear
representa e de tristes episódios como
Chernobyl e o acidente com Césio 137,
em Goiânia em setembro de 1987”, afirmou
Guilherme Leonardi, coordenador da campanha
de energia nuclear do Greenpeace Brasil. “No
Japão, e em qualquer lugar aonde houver
um reator atômico ativo, há um
risco real de sérios acidentes que
podem ocorrer por causa de desastres naturais,
ataques terroristas ou diversos outros motivos”,
acrescentou.
No Brasil há diversas
falhas de segurança que tornam ainda
maior o risco de acidentes nucleares. Em março
de 2006 a Câmara dos Deputados lançou
um relatório apontando diversos problemas
no setor, como a dupla função
exercida pela CNEN (Comissão Nacional
de Energia Nuclear) de fomentador e fiscal
para energia atômica, a inexistência
de fiscalização no país,
a falta de depósito permanente de lixo
radioativo para Angra 1 e 2 e a irregularidade
nas autorizações de operação
das usinas e da mineração de
urânio em Caetité (BA). Ainda
assim, o governo brasileiro insiste na retomado
do Programa Nuclear Brasileiro. No final de
junho, o CNPE recomendou a construção
da usina de Angra 3, o que pode trazer ainda
mais insegurança para população
brasileira e para o meio ambiente.
Inicialmente, a indústria
nuclear do Japão mentiu sobre os verdadeiros
impactos do incêndio, afirmando que
não havia perigo de vazamento de radioatividade.
O setor nuclear japonês e mundial vem
sendo marcado por uma série de acidentes
e tentativas de ocultação. Há
semelhança com o incidente na usina
nuclear alemã Krummel, em junho desse
ano, quando a indústria atômica
inicialmente afirmou que o fogo não
havia causado impactos na segurança
do reator. Entretanto, o fogo causou sérios
problemas que ameaçam diretamente a
segurança do reator, conforme a agência
reguladora alemã.
Vários incidentes
graves ocorreram durante os últimos
anos na indústria nuclear japonesa.
Em setembro de 1999 três trabalhadores
morreram devido à alta irradiação
e comunidades locais tiveram que ser evacuadas
após falhas de procedimento na fábrica
de combustível de Tokaimura. Em agosto
de 2004 a ruptura de um cano na usina nuclear
Mihama matou cinco trabalhadores e 17 reatores
operados pela companhia TEPCO (a mesma responsável
pela usina de Kashiwazaki-Kariwa) foram desligados
após ser descoberta a falsificação
de documentos sobre inspeção
de segurança. Em abril de 2006 ocorreu
a liberação de 40 litros de
líquido contendo plutônio na
nova planta de reprocessamento de plutônio
em Rokkasho-Mura. Em março de 2007
foi descoberto que a empresa Hokuriku não
informou ao público nem aos fiscais
de segurança sobre um sério
incidente na usina nuclear de Shika, ocorrido
em julho de 1999 quando uma falha no controle
das varetas causou reações em
cadeias de forma descontrolada.
A energia nuclear maquia
as reais soluções para as mudanças
climáticas e desvia recursos que poderiam
ser investidos para o desenvolvimento de fontes
energéticas renováveis limpas
e seguras. Além disso, as mudanças
climáticas aumentarão os
desastres naturais tornando ainda maior o
risco de acidentes em usinas nucleares.
Em fevereiro desse ano o
Greenpeace lançou, em parceria com
o Grupo de Engenharia de Energia e Automação
de Elétricas da Escola Politécnica
da USP, o relatório Revolução
Energética que mostra como é
possível até 2050 suprir a demanda
energética brasileira e mundial sem
utilizar a energia nuclear ou outras fontes
sujas e ainda economizando anualmente R$ 117
bilhões no final do período.
+ Mais
No Japão, acidente
em usina expõe mentiras da indústria
nuclear
19 de Julho de 2007 - Vista
aérea da central nuclear de Kashiwazaki
(Japão) - Japão — Empresa que
controla a maior usina atômica do mundo
é obrigada a admitir que vazamentos
radioativos eram maiores do que anunciados
inicialmente
Desde que um terremoto de
magnitude 6,8 atingiu a maior usina nuclear
do mundo, em Kashiwazaki, no Japão,
na segunda-feira, as (poucas e confusas) informações
divulgadas ao público reforçam
a falta de transparência que é
uma marca história da indústria
nuclear.
Inicialmente, a empresa
que controla a usina, a Tokyo Electric Power
Company (Tepco) divulgou que não houve
vazamento de radioatividade. Depois, informou
que um pequeno vazamento radioativo havia
contaminado a água. Em seguida, confirmou
que o tamanho do vazamento era muito maior
do que o originalmente reportado e a água
estava com 50% mais radioatividade do que
o informado inicialmente. E só então
o público soube que centenas de barris
contendo lixo atômico haviam tombado
e que dezenas apresentavam vazamentos. E mais:
foi revelado que elementos tóxicos
como cobalto-60 e cromo-51 foram lançados
na atmosfera.
"A falta de transparência
é uma marca registrada da indústria
nuclear, no Japão e em todo o mundo.
O Acidente dessa semana no Japão comprova,
mais uma vez, que não existe reator
100% seguro e que não se pode confiar
no setor nuclear", disse Rebeca Lerer,
da campanha de energia do Greenpeace Brasil.
O terremoto matou pelo menos
nove pessoas, feriu centenas de moradores
de Kashiwazaki e forçou a evacuação
de outros milhares de japoneses. A situação
teria sido ainda mais trágica se um
dos quatro reatores nucleares deixasse de
gerar energia para o sistema de resfriamento
da usina.
Nota divulgada pelo Centro
de Informação Nuclear dos Cidadãos
diz: “Mesmo depois do fechamento, o combustível
no reator está extremamente quente
e por isso é necessário manter
um contínuo fluxo de resfriamento.
Se não for mantido, o combustível
pode derreter, causando o lançamento
de altos níveis de material radioativo
no meio ambiente. Sob algumas circunstâncias,
isso poderia resultar em uma explosão.
Apesar da gravidade desse fogo, a Tepco falhou
em anunciar se o transformador continuou a
operar ou se o gerador de emergência
foi acionado”.
De acordo com o jornal japonês
Yomiuri Shimbun, a Tepco admitiu que suas
medidas de resposta ao desastre não
foram bem-sucedidas e que havia apenas quatro
trabalhadores para combater o incêndio,
que durou cerca de duas horas.
A Tepco também já
assumiu publicamente que o terremoto de segunda-feira
foi mais forte do que a usina nuclear foi
projetada para suportar. Novos dados indicam
que existe uma falha geológica localizada
sob a usina que ainda não havia sido
identificada. O Japão é um dos
países mais sujeitos a terremotos e
também um dos mais dependentes da energia
nuclear – uma combinação sujeita
a altos riscos.
A demora em reportar vazamentos
e outros problemas não é surpresa,
mas parece que o governo japonês finalmente
começa a perder a paciência com
uma indústria atingida por vários
escândalos na última década.
“Eles deram o alerta muito tarde. Eu tenho
enviado instruções severas de
que tais alertas devem ser dados seriamente
e rapidamente. Os envolvidos devem refletir
sobre suas ações”, declarou
a jornalistas o primeiro-ministro Shinzo.
“Energia nuclear só pode operar com
a confiança da população”,
complementou.
Enquanto isso, no Brasil,
o governo federal vem anunciando com pompa
e circunstância a ressurreição
do Programa Nuclear Brasileiro. O presidente
Lula chagou a afirmar publicamente que a tecnologia
nuclear brasileira seria a prova de acidentes.
“Fica a pergunta: se nem o Japão, um
dos países com mais tradição
nesta tecnologia e dos mais preparados para
lidar com situações extremas
ainda é refém da ameaça
nuclear, será que o Brasil está
preparado para assumir riscos dessa gravidade?”,
aponta Rebeca. “Hoje no Brasil já predominam
sentimentos de insegurança e desconfiança
em relação ao governo por vários
motivos: violência urbana, caos aéreo,
corrupção, problemas de infra-estrutura
como no metrô de São Paulo....
a população brasileira não
precisa da ameaça nuclear”.
+ Mais
Dependência de energia
nuclear leva Japão a racionamento em
pleno verão
20 de Julho de 2007 - Equipe
do Greenpeace avalia nível de radiotatividade
na região da usina nuclear Kashiwazaki-Kariwa,
no Japão
Internacional — Governo
japonês pediu às indústrias
que economizem energia, após fechamento
da maior usina nuclear do mundo
Com o fechamento da maior
usina nuclear do mundo, a Kashiwazaki-Kariwa,
no Japão, após o forte terremoto
da última segunda-feira, o governo
japonês pediu às indústrias
do país que economizem energia nos
horários de pico. O ministro da Economia,
Comércio e Indústria, Akira
Amari, também ordenou que as instalações
nucleares realizassem testes rígidos
de segurança.
Segundo o ministro, a operadora
Tepco, que controla a usina em Kashiwazaki,
declarou que haverá energia suficiente
se as temperaturas se mantiverem nos atuais
níveis, mas que pode haver falta caso
o verão seja muito quente. "Como
não podemos descartar um aumento incomum
da demanda devido a um grande salto das temperaturas,
é necessário ficar no lado seguro",
disse Amari a repórteres. "A indústria
deve limitar o consumo de energia nos períodos
de pico."
A usina nuclear Kashiwazaki-Kariwa
foi fechada por tempo indeterminado porque
apresentou diversos problemas, inclusive de
vazamentos de materiais radioativos, após
o terremoto. A situação reavivou
os temores em relação à
segurança da indústria nuclear,
que fornece cerca de um terço da eletricidade
do Japão.
“Mais uma vez, fica evidente
que a geração nuclear não
garante segurança energética”,
afirmou Rebeca Lerer, da campanha de energia
do Greenpeace Brasil. “Devido aos riscos de
segurança inerentes à tecnologia
nuclear, os reatores podem ser desligados
e a população acaba sofrendo
duas vezes, com as ameaças de contaminação
e a falta de energia. Além disso, no
caso do Japão, quando uma usina nuclear
é desligada, geralmente são
acionadas usinas termelétricas movidas
a combustíveis fósseis para
garantir o suprimento de eletricidade. Vale
lembrar que termelétricas fósseis
são grandes emissoras de gases do efeito
estufa”, informou.
Uma equipe do Greenpeace
está em Kashiwazaki, trabalhando junto
com ONGs locais, para avaliar a região
após o acidente. Segundo esse time
de campo, até agora foram encontrados
baixos níveis de radioatividade em
algumas áreas. Mesmo assim, é
preciso manter o monitoramento do local, já
que o terremoto parece ter acarretado danos
de longo prazo na usina.