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de Julho de 2007 - Pedro Biondi - Enviado
especial* - Pedro Biondi - Aldeia Ipatse (Parque
Indígena do Xingu) - Índios
da aldeia e convidados participam da inauguração
do Centro de Documentação Kuikuro
Aldeia Ipatse (Parque Indígena do Xingu)
- O fim de semana foi de festa na principal
aldeia do povo Kuikuro, no Parque Indígena
do Xingu. O evento recebeu visitantes de várias
aldeias, mas não tinha a ver com o
calendário tradicional da região,
no norte do Mato Grosso. Comemorava a inauguração
de um centro de memória e o lançamento
de vídeos sobre os xinguanos ou feitos
por eles.
O centro de documentação,
inaugurado ontem (22), resulta de uma iniciativa
da aldeia e faz parte do projeto Documenta
Kuikuro, em que computadores, filmadoras,
gravadores e máquinas fotográficas
são instrumentos para manter a cultura.
“Estamos falando de documentar
uma civilização”, disse o antropólogo
Carlos Fausto, um dos coordenadores do projeto.
“De uma densidade comparável à
das civilizações antigas. Comparando,
é como se a Odisséia não
tivesse sido escrita e desaparecesse na tradição
oral.” O poema é uma das principais
narrativas da Grécia Antiga.
Segundo Fausto, que é
professor do Museu Nacional, da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o centro
tem no acervo 300 horas de gravações
de narrativas, rezas e conjuntos de cantos,
e conta com apoio técnico do Museu
do Índio, da Fundação
Nacional do Índio (Funai). “Trata-se
de um gesto político de dar às
comunidades indígenas a possibilidade
autônoma de se apropriar da magia dos
brancos: a nossa tecnologia, que tanto valorizamos”,
disse. “Botar a tecnologia a serviço
da tradição, mas uma tradição
viva, renovada.”
O cacique Afukaká
Kuikuro, um dos idealizadores do centro, fala
à Agência Brasil: “O índio
é que sabe as histórias que
tinham nossos avós – como vocês,
no papel. Nós, não. Guardamos
toda a nossa tradição na cabeça.
Agora, a gente tem canto, mas é importante
neto, bisneto, saber”.
No discurso, ele preferiu
se pronunciar em sua língua natal (de
modo geral, os habitantes dessa parte do parque
entendem as línguas dos povos vizinhos).
Foi traduzido pelo presidente da Associação
Kuikuro do Alto Xingu, Mutuá Mehinaku-Kuikuro.
A opção foi por uma casinha
de alvenaria, em vez das clássicas
malocas com cobertura de sapê, por segurança,
justificou: “Se pegasse fogo, perderia todos
materiais”.
O Centro de Documentação
Kuikuro é financiado pelo Subprograma
Projetos Demonstrativos para os Povos Indígenas
(PDPI). Coordenado pelo Ministério
do Meio Ambiente, o PDPI resulta do Programa
Piloto para a Proteção das Florestas
Tropicais do Brasil (PPG7), estabelecido na
Conferência das Nações
Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento,
a Rio-92, explica a assessora técnica
do ministério Maira Smith.
“O PDPI apóia propostas
de iniciativa indígena em toda a Amazônia”,
diz Smith. “Uma das três áreas
apoiadas é essa, de valorização
cultural.” Segundo ela, o valor recebido pelo
projeto é de R$ 99 mil, e os recursos
são repassados de dois em dois meses.
Ela conta que tem crescido o surgimento de
iniciativas semelhantes, com cinegrafistas
indígenas e documentação
com vídeo. Na Aldeia Ipatse, grande
parte do material foi documentado pelo Coletivo
de Cinema Kuikuro, formado por jovens da aldeia
com assessoria da organização
não-governamental Vídeo nas
Aldeias.
Imbé Gikegü
– Cheiro de Pequi e Nguné Elü
– O Dia em que a Lua Menstruou, duas das produções
artísticas do grupo, foram exibidas
em sessão na aldeia um dia antes. Os
cerca de 300 habitantes da aldeia e os convidados
assistiram também ao primeiro episódio
da série de documentários Xingu
– A Terra Ameaçada, do jornalista Washington
Novaes, que já havia retratado a região
em uma série de documentários
veiculada em 1985.
O repórter viajou a convite da TV Cultura.